Odio no

Quem nunca sentiu isso que volte para o seu planeta rosa de cupcakes.

por Nina Lemos em

“Você parece ótima. Qual é o seu problema?”

“Eu estou com ódio no coração.

O dr. Chines, aquele que segundo a musica do Cadão Volpato vai tirar de você a dor, o amor etc, me olhou assustado. E ele não é de se assustar. É um monge. Um monge rico.

“Não, doutor. Acho que a minha coluna realmente está doendo porque eu to com ódio no coração”.

Ele me espetou uma agulha perto do coração. E colocou aquela agulha gigante dopante na minha testa (o Stillnox da acupuntura) e ainda outra atrás da orelha. Tudo para me acalmar. Tentar tirar o ódio, acho. Por 300 reais, também, era o mínimo de obrigação.

Na sala, levando os choques das agulhas,  chorei um pouquinho. Que coisa mais triste sentir ódio no coração. Eu não fui criada para sentir ódio. Muito menos no coração, saca? Meu pai não me deu aquele livro com aquela dedicatória imaginando que no ultimo dia de novembro (o mês do meu aniversario) eu seria uma mulher que declara publicamente que seu problema é ódio no coração.

Aquela tatuagem que eu carrego no braço, e que vocês sempre me perguntam o que significa, “my heart is full”, de uma musica linda do Morrissey, quer dizer que meu coração é cheio de amor.  E de vida.

Mas em uma quarta feira de novembro, lá estava eu, chorando de ódio no coração. E não é ódio de homem, não, faz tempo que eu parei de ser clichê. É um ODIO.  Um ódio que aumenta com o taxista que se perde, com o fato de eu ter que andar de taxi porque no meu bairro não tem metro. Um ódio. Tenho vontade de sair ligando para os amigos e dizendo: “socorro, estou com ódio no coração”.  Um diagnóstico triste.

Mas acontece. E acho que com todo mundo. Um dia você acorda e sente ódio no coração. Mas amanhã eu vou sentir amor. Prometo.  E não, as agulhas não fizeram efeito. Odio no coração não é coisa que vá embora tão rápido. Mas vai. Sempre. Pelo menos no meu planeta hippie do amor.

PS. E não se preocupem comigo! Também não precisam mandar mensagens de apoio como se isso fosse o fim do mundo. Todo mundo um dia na vida sente ódio no coração. Vai dizer que não?

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