O rabino e a atriz
No sucesso de público A Alma Imoral, Clarice Niskier desnuda os medos da plateia
A primeira vez que a atriz Clarice Niskier, 53 anos, ficou nua no palco foi aos 21, numa cena de sexo da sua primeira peça profissional, Porcos com asas. Inicialmente, a passagem seria encenada com iluminação geral, mas o censor, por causa da nudez, exigiu que se usasse a penumbra. “Ficou muito mais erótico do que o diretor queria”, lembra. Há sete anos, ela decidiu encarnar a nudez mais uma vez para adaptar o livro A alma imoral, do rabino Nilton Bonder, para o teatro. “É um livro mestre para mim.” No texto, que debate a relação entre corpo, alma e moral, Clarice viu algo impossível de interpretar com roupas. “A nudez, ali, tem um simbolismo forte para remeter à alma. E ela também revela a mortalidade. Temos certa vergonha de sermos mortais, frágeis”, diz. “Desde o início, pensei na nudez. Ou eu fazia totalmente vulnerável, ou não fazia.”
A ideia deu tão certo que a peça já foi vista por mais de 230 mil pessoas e segue com temporadas agendadas. O sucesso ajudou até na relação da atriz com o próprio corpo. “Ele mudou bastante em sete anos, mas as pessoas me dizem que está mais bonito agora e o texto, mais forte. É um presente para eu envelhecer sem medo.” Mesmo assim, ela não pisa no palco muito segura de si, e faz isso de propósito. “Tenho de estar sempre despida mesmo nua. A nudez serve para revelar o que tem de mais oculto na minha alma.”
Vai lá: A alma imoral – Teatro Serrador – r. Senador Dantas, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ, de 18 a 28 de fevereiro, às 19h www.almaimoral.com