O poder de dizer não
Na sociedade norte-americana as pessoas sabem dizer “não” e tudo flui com mais clareza
Outro dia, uma amiga que passou apenas três dias a trabalho em Nova York se encontrou comigo para um café – e apareceu com cara de exausta. Além do voo, das entrevistas e compromissos profissionais, ela ainda tinha (ou achava que tinha) que sair comprando encomendas totalmente superficiais e desnecessárias para os “amigos”. Ora, quem é amigo de verdade não faz isso com quem viaja. Por isso, é importante saber dizer “não”. “Não, não tenho tempo de comprar a sua camiseta escrito Obama, o seu batom cor café ou o seu iPod Touch.” E quem pergunta também tem de saber escutar um “não”. Quem for amigo vai entender. Há diversas maneiras educadas de rejeitar convites ou pedidos. Mas também não há necessidade de se justificar. Como dizia minha avó Ruth: “Não é não”.
Olha, não vai dar
Saber falar “não” tem muitas vantagens – e os americanos sabem usá-lo com maestria. Por exemplo, quando se organiza uma festa de aniversário ou casamento, o anfitrião tem de saber com certa antecedência quantos convidados comparecerão. Aqui, todos já avisam prontamente se vão ou não. É o famoso RSVP, a etiqueta mínima que se espera de alguém que foi convidado para qualquer evento. No Brasil, por uma questão cultural, as pessoas se envergonham de dizer “não vou”. Então elas falam que vão, são aguardadas, não aparecem e o anfitrião acaba arcando financeiramente com a presença de fantasmas. Péssimo, não? Nos EUA se usa muito o site Evite (www.evite.com) como ferramenta de convite. E lá as pessoas dizem “não” sem medo.
O mesmo funciona para aqueles “amigos” que se convidam para ficar na sua casa (“não, não pode!”) ou para reservas de restaurantes: outro dia, reservei 15 lugares num restaurante brasileiro de Nova York. Tive de cancelar na última hora. Liguei para avisar. O recepcionista me agradeceu horrores por eu ter ligado. Ora, ele nem deveria agradecer. É obrigação cancelar uma reserva. Imagine o prejuízo que é para um estabelecimento quando isso não acontece. Ao dizer “não”, fazemos um favor para o outro, pois tiramos dele uma expectativa. E, de nós, um peso.