O nosso Muhammad
Chovia canivetes do lado de fora. Mas lá dentro abriu um solaço quando o carioca Rodrigo Baggio iniciou sua palestra na Universidade de Nova York, na última terça-feira.
Entusiasta da tecnologia, Rodrigo é fundador do CDI, organização que há 11 anos (e ele acha pouco) trabalha com inclusão digital em comunidades pra lá de carentes - favelas, prisões, áreas indígenas e até unidades psiquiátricas do Brasil e de outros países da América Latina e África. E mais: ele acaba de abrir um escritório em Nova York para colocar o CDI na carteira de investidores sociais.
Rodrigo, de 37 anos, não é pouca coisa. Foi apontado pela revista Time como "um dos 50 jovens líderes latino-americanos que farão diferença no milênio". Para o Fórum Econômico Mundial, ele é "um dos 100 líderes do amanhã".
Não vou listar todos os prêmios, mas o projeto Principal Voices, da CNN, também escolheu Rodrigo, ao lado dos economistas Jeffrey Sachs e Muhammad Yunus (sim, o banqueiro que acaba de receber o Nobel da Paz), os três líderes na categoria de desenvolvimento econômico."A CNN mandou o cinegrafista que cobre o Iraque nos filmar na Rocinha, alegando que o Rio é meio Bagdá", disse ele num táxi nova-iorquino.
Para uma platéia de americanos vidrados, ele contou mil e uma, incluindo suas incursões pelo "meião" da Amazônia, onde uma tribo indígena batizou computador de Ayú Rirú Rivê, em guarani, "aquele que vem como um raio", e ele mesmo ganhou o nome de Nairo Karirauá, na língua dos yauanauá. Ainda contou que há poucas semanas esteve em Bangladesh a convite de Muhammad Yunus.
Se surpreendeu em ver 140 milhões de humanos vivendo pacificamente numa área equivalente ao Amapá. "Deve ser a religião que os proíbe de beber álcool", concluiu. Caipirinhas e pingas à parte, é bom saber que nós, brasileiros, também temos o nosso Muhammad. E que, além de tudo, ele é uma simpatia.