O glúten, esse chato
A não entrevista deste mês
“Dieta do glúten é a queridinha das celebridades.” “Saiba onde comprar produtos glúten free.” “Glúten: vilão ou inimigo?” Não aguentamos mais ler esse tipo de notícia. E conversas com amigos que sempre acabam (ou começam) com a frase “cortei o glúten”. A pessoa sempre fala como é fácil (sei...) viver sem massa, pão, queijo, bolo. E começa a fazer uma lista do que tem glúten e do que não tem. Quem nunca passou por uma situação dessas?
Se você não come glúten, tudo bem. Se está te fazendo bem, ótimo. Mas a coisa está passando dos limites. Toda época tem sua dieta da moda. Quando estávamos na escola, era a de Beverly Hills. Hoje, comer glúten virou uma coisa uó, mesmo para quem nem sabe direito o que é isso. (Pra esses, uma ajuda: glúten é uma proteína composta da mistura das proteínas gliadina e glutenina, que se encontram na semente de cereais, como trigo, cevada, centeio e aveia. Para algumas pessoas, sua ingestão provoca danos à saúde).
O fato de algumas pessoas serem intolerantes a essa substância e terem que levar uma vida chata – atrás de pão sem glúten, biscoito sem glúten e por aí vai – e de muitos nutricionistas não recomendarem comê-la não é motivo para que o tema vire pauta universal. É um pouco como o papo sobre macrobiótica dos anos 70 ou a conversa sobre psicanálise dos anos 80: de repente, vira uma coisa obrigatória para todo mundo.
O que achamos: dieta do glúten é igual terapia. Se você faz, tudo bem, mas não é por isso que todo mundo TEM QUE FAZER. Veja a que ponto chegamos: estamos comparando psicanálise a glúten. Isso é o que esse assunto chato faz com a gente. É por isso que, nesta edição sobre veneno, ele é o não entrevistado do mês. Aliás, ele e a lactose!