O combate à pobreza menstrual não pode esperar
Quem é capaz de pensar no futuro quando não pode nem ir para a escola por falta de acesso a produtos menstruais ou a um banheiro limpo?
Quantas vezes você já ouviu alguém falar que "está de chico" ou "naqueles dias"? Pode parecer bobagem, mas essas expressões escondem uma verdade alarmante: a menstruação ainda é um tabu. Além dos tantos estigmas que existem em torno do nosso corpo, somos ensinadas a sentir vergonha de um processo natural e saudável que nos acompanha durante grande parte da vida. O resultado? Meninas crescem achando que a menstruação é um problema, algo sujo, limitante ou mesmo uma doença. "Apesar de todos os meses mais de 1,8 bilhão de pessoas menstruarem em todo o mundo, segundo a UNICEF, o estigma da menstruação ainda é uma realidade que historicamente atinge as mulheres", afirma Tatiana Brito, gerente executiva de Marketing Excellence e Sustentabilidade da Kimberly-Clark. "O estigma em torno do sangue menstrual limita o debate e a formulação de políticas públicas voltadas para pessoas que menstruam e contribui para a desinformação", explica Cynthia Betti, diretora-executiva da Plan International Brasil, instituição que atua para promover os direitos das crianças e a igualdade para as meninas.
A discriminação e o desconforto atingem principalmente quem já sofre com a pobreza menstrual – em maioria, meninas pobres e de periferia. Esse termo se refere à falta de acesso a produtos para conter o fluxo menstrual, como absorventes descartáveis, mas também à água, coleta de lixo e saneamento básico em casa e nas escolas. No Brasil, uma lei prevê a distribuição gratuita de produtos menstruais em escolas públicas e unidades de saúde, e programas municipais, estaduais e federais se propõem a garantir o acesso a estes produtos. Mas o problema está longe de ser resolvido. "Temos que honrar e reverenciar as conquistas das mulheres até agora, mas também apontar quais meninas ainda não têm acesso a esses direitos, quem são elas e em quais regiões e periferias do Brasil estão", explica Cynthia. "Embora já tenhamos a distribuição de absorventes na esfera pública, muitas vezes pessoas que menstruam têm dificuldade de acessar os locais para retirar os materiais. O baixo acesso a medicamentos e serviços médicos para administrar questões ligadas à menstruação, como cólicas e fluxos muito intensos, também é um desafio".
A falta de dignidade menstrual está longe de ser uma realidade distante ou pontual. Dados do estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, divulgado em 2021 pelo UNFPA em parceria com o UNICEF, apontam que 713 mil meninas não têm banheiro ou chuveiro em casa para a higiene adequada e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas. Muitas vezes, isso significa recorrer a produtos absolutamente inadequados para conter o fluxo menstrual: miolo de pão, sacola plástica, jornal e pedaço de pano velho. No ambiente escolar, as meninas também se deparam com escolas sem banheiros ou instalações precárias, sem portas. "Além de levar muitas meninas a faltarem à aula durante a menstruação, esse conjunto de fatores afeta diretamente a saúde física, já que o manejo precário do período menstrual pode causar infecções e outros problemas de saúde", explica Cynthia Betti, da Plan Internacional Brasil. Um estudo realizado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pela UNICEF revelou que uma em cada quatro meninas já deixou de ir à escola por não ter acesso a absorventes.
É por isso que a pobreza menstrual não pode ser tratada apenas como uma questão de saúde. Ao interferir na frequência escolar de meninas, especialmente as mais pobres, a falta de dignidade menstrual pode atrapalhar a educação e limitar as oportunidades de emprego, perpetuando o ciclo de pobreza. Como é possível falar de futuro sem as condições mínimas para uma mulher existir no mundo? "A falta de educação sobre higiene e o ciclo menstrual, bem como a persistência de estigmas associados à menstruação e o acesso limitado a produtos de higiene afetam as oportunidades acadêmicas, a saúde, a prática de esportes e a vida social de meninas e mulheres em todo o mundo, impedindo-as de alcançar seu potencial total", afirma Tatiana Brito, gerente executiva de Marketing Excellence e Sustentabilidade da Kimberly-Clark.
Para a diretora-executiva da Plan Internacional Brasil, Cynthia Betti, falar sobre saúde reprodutiva e dignidade menstrual com meninas e adolescentes contribui não só para que elas entendam seu corpo, mas também reforça o desenvolvimento de habilidades voltadas para a autonomia e o empoderamento: "Uma adolescente que conhece o próprio corpo e os direitos relacionados a ele, como à saúde sexual e reprodutiva e à educação menstrual, é capaz de transformar a sua realidade e promover o direito de levar uma vida sem preconceitos e discriminações"."É preciso quebrar o silêncio, promover o conhecimento e mudar as percepções negativas que as pessoas têm sobre a menstruação. Além disso, incentivar conversas que mudem as barreiras que existem hoje para que haja uma gestão adequada da higiene menstrual também é muito importante para garantir que meninas e mulheres não deixem de ocupar os espaços que desejam simplesmente por estarem menstruadas", completa Tatiana.
Somada às políticas públicas, a atuação da iniciativa privada contribui para a educação menstrual, desmistificando o tema, disseminando conteúdo e empoderando meninas e mulheres com informações corretas sobre seu próprio corpo. Segundo uma pesquisa global de Intimus, marca da Kimberly-Clark líder em cuidados femininos no Brasil, uma em cada quatro mulheres se sente desconfortável ao falar sobre menstruação com familiares e amigos e 62% das jovens abaixo de 18 anos escutam brincadeiras relacionadas a ficarem emotivas devido à menstruação. O estudo também mostrou que 60% das mulheres acreditam que a velocidade do progresso feminino está estagnada ou avança lentamente. Ao lado de instituições do terceiro setor, como a Plan Internacional, a companhia é uma das empresas que aposta na educação e disseminação da informação para transformar o nosso futuro, promovendo iniciativas como o projeto Escola de Liderança para Meninas, que já levou a conversa sobre autocuidado e saúde menstrual para 12 mil meninas no Piauí e na Bahia. Uma das maneiras de promover esse debate é através de atividades didáticas como a confecção das pulseiras do ciclo menstrual, em que as miçangas são separadas por cores para indicar cada fase do ciclo, incluindo os dias de menstruação.
Além de campanhas e ações que já impactaram mais de 500 mil pessoas, contribuindo para a meta de melhorar a qualidade de vida de 1 bilhão de pessoas em comunidades vulneráveis até 2030, a Kimberly-Clark, por meio de Intimus, aproveita datas como o Dia da Higiene Menstrual, celebrado em 28 de maio, para mobilizar sua rede e ampliar a discussão – saiba como fazer parte aqui. "Educação é essencial para garantir que meninas e mulheres possam tomar decisões informadas para gerir a sua menstruação de forma segura e digna. Embora tenha havido progresso, acreditamos que não chegamos até aqui para parar agora", afirma Tatiana.
"A gente comemora, mas fica vigilante, porque ainda há um risco muito grande de retrocesso dos nossos direitos. Eu sempre digo: estamos muito melhores do que no século passado, mas muito piores do que estaremos no século que vem", diz Cynthia Betti. "Antes de a mulher poder ocupar cargos públicos ou políticos, antes de ser líder numa empresa, ela tem que crescer livre de violência. Precisamos acelerar, precisamos falar sobre isso urgente, senão mais pessoas vão ficando pelo caminho enquanto a gente acha que está progredindo enquanto humanidade. É preciso resgatar a autoestima e o direito de sonhar de todas as mulheres."