Not an ordinary girl
A cantora Camille Dalmais é ídolo na França, onde vendeu meio milhão de cópias do penúltimo CD
Ela não se preocupa em fazer tipo, experimenta sonoridades novas sem medo de errar e não se esforça para ser pop. Mesmo assim, a cantora Camille Dalmais é ídolo na França, onde vendeu meio milhão de cópias do penúltimo CD
Na França, ela é quase tão famosa quanto a primeira-dama/cantora Carla Bruni. Mais original, com certeza. Camille Dalmais (ela responde apenas pelo primeiro nome) é uma das melhores cantoras contemporâneas que há por lá. De fato, Camille, 30 anos, faz mais do que cantar. Ela toca bateria, violão e percussão, com sua voz e suas inúmeras texturas e nuances. E consegue, além de cantar belamente, brincar e experimentar sonoridades únicas com a voz e o corpo, num resultado bastante diversificado da música francesa e mundial. “Eu comecei a fazer percussão com a voz para indicar ao baterista o que fazer, e era mais fácil cantar para explicar, então eu mantive aquele som, nem gravamos a bateria por cima. Mantive porque era exatamente o que eu tinha em mente, era meu próprio groove!”, explica. Sempre que a comparam é com a islandesa Björk. Mais pela capacidade vocal, inteligência e excentricidade musicais do que pelo resultado final.
Depois de lançar dois álbuns, entre eles Le Fil, de 2005, que vendeu 500 mil cópias em seu país natal, e de participar do primeiro CD da internacionalmente famosa Nouvelle Vague, em 2004, Camille apresenta agora seu terceiro trabalho, Music Hole, no qual a francesa arrisca pela primeira vez gravar todas as canções em inglês. “Eu falo sete línguas e considero a linguagem algo musical. Queria explorar a música de novas formas, ver como o inglês e o francês interagiriam musicalmente”, disse Camille a Tpm com seu sotaque francês carregado. Os brasileiros Marcelo Pretto e Fernando Barba, do grupo de percussão corporal Barbatuques, participam de quase todas as faixas. Em entrevista por telefone diretamente de Paris, a cantora fez uma pausa nos ensaios de sua próxima turnê para contar que ama a música brasileira, que a mistura musical que faz a define como pessoa e deixou escapar que pode passar pelo Brasil no primeiro semestre de 2009.
Quando você descobriu que conseguia cantar?
Não é exatamente quando eu descobri que conseguia cantar, mas quando eu comecei a ter vontade de cantar. Sempre amei cantar e, então, quando estava na época de entrar na faculdade, percebi que queria me tornar música e cantar o dia todo. Mas eu não queria estudar música, queria estar em um palco! [risos]
Você usa seu corpo e voz como instrumento, como percussão. Quando percebeu que conseguia fazer isso?
Boa pergunta! Eu comecei a fazer para indicar ao baterista o que fazer, era mais fácil cantar para explicar. Então mantive aquele som, nem gravamos a bateria por cima. Mantive porque era mais pessoal e exatamente o que eu tinha em mente, era meu próprio groove! E sempre amei sapateado, dança, movimento, e eu gosto de ver qual o limite que o corpo consegue produzir música e ser um instrumento. Quando eu vi o Barbatuques [www.myspace.com/barbatuques – banda paulista que uso o corpo como instrumento] pela primeira vez, fiquei maravilhada! Não é tão fácil fazer tanto com o corpo quando se é uma pessoa só, mas eles conseguem fazer um barulho incrível!
Você conhece a música brasileira?
Bem, eu amo bossa nova, é claro! Assisti ao Barbatuques e gostei bastante. E gosto de Virgínia Rodrigues, muito, muito. Ela é uma das melhores musicistas que eu já ouvi. Eu amo a música brasileira, existe de tudo na música brasileira, é muito melódica e mistura muitos ritmos, como africanos. Eu amo música feita com sentimento, é tudo para mim!
Você participou do Nouvelle Vague (em 2004, cantou em algumas faixas do primeiro CD da banda). Tem planos de voltar a gravar com eles?
Eu não tenho planos de gravar com eles de novo. Foi a primeira vez que todos gravamos um disco, e foi algo muito mágico, sabe? Então, gostaria de deixar essa memória intocável, não poderia gravar de novo.
A mídia te considera como promessa na música francesa. Você concorda?
Qual é a promessa? Eu não prometi nada! É engraçado como a mídia consegue sempre colocar um novo cantor como promessa, como uma tendência. Quando você faz música, você a faz todos os dias, e quando você faz música por tanto tempo, quando acontece isso, bem, você ainda é a mesma pessoa, a única diferença é que passam a ter uma reação em relação a você, mas um músico vive para fazer música e é isso. Mas, mesmo assim, é bem legal receber reações boas.
Quando você começou a cantar, imaginou que ia conseguir vender meio milhão de cópias e ser tão conhecida, como é agora?
Eu nem sabia desse número! Eu queria fazer shows, viajar. Gravar meu álbum já era o suficiente. Não esperava fazer esse sucesso! Demorou bastante tempo, mas só o fato de tocar já me satisfazia enormemente. Eu nunca pensei realmente sobre isso!
Qual foi o primeiro álbum que você comprou? E o último?
O primeiro disco que eu comprei foi Bad, do Michael Jackson. O último álbum... bem, ninguém realmente continua comprando álbuns, não é? Você faz download deles! Eu não faço, porque sou péssima com computadores. Peço para as pessoas conseguirem tal álbum e queimarem uma cópia dele. Ou tento conseguir de graça porque faz parte do meu trabalho.
Você é uma mulher bonita. Você se importa com sua aparência?
Toda mulher quer ser linda, e quer ser linda do seu próprio jeito. Elas querem ser amadas e, principalmente, a maioria das mulheres é muito criativa no modo como se veste e isso é legal. Eu sempre tento ser criativa, e às vezes tento me divertir e criar uma personagem. É bem comum e muito divertido. Às vezes eu me importo, mas considero isso como um jogo e como o desafio de conseguir me diversificar. Acho que você pode ser linda de todos os jeitos e em todas as idades.
Do que você mais gosta em você mesma?
Que eu estou viva, que eu estou vivendo! É que eu sou conectada. Acho que todo mundo pode criar um vínculo e do que eu gosto em mim mesma é que me sinto conectada com o mundo e com as pessoas, e isso é muito prazeroso. Todo mundo é conectado com o mundo, mas as pessoas tendem a esquecer isso.