No Limite
Mitchell é o diretor de Shortbus, um filme recém lançado que mostra a fundo (e de vários ângulos) o tal assunto. Segundo ele, "só faz filme sobre sexo quem é mal resolvido no quesito". E ele é: em suas palavras, cresceu gay numa família católica-sexofóbica. Aí, realmente, fica complicado. A revista traz um questionário cabeludo para leitores, uma matéria sobre festas eróticas na cidade, outra sobre prostituição na era cyber, e ainda o que dizem os terapeutas sexuais.
Além disso, Mitchell descreve o filme: "se você é gay, este filme vai te fazer hetero. Se você é hetero, ele vai te fazer gay. Se você está no meio, ele vai te empurrar pro limite. E se você está na beirada, ele vai te jogar pra fora da janela." Bom, vi o filme. Entrei hetero e saí... mais hetero ainda. A história acontece em Nova York (onde mais?), uma cidade de solitários. O curioso é que Mitchell escolheu primeiro o elenco; e criou o filme baseado nas diversas personalidades. Há um par de gays (um casal na vida real), uma terapeuta de casal que nunca teve orgasmo, um voyer que fica na janela observando a vida sexual alheia, uma mulher que vive de dar chicotadas em homens, mas que nunca teve um namoro sério. E por aí vai.
O filme mostra tudo, tudíssimo. As cenas de sexo são para lá de reais – há quem faça acrobacias estilo Cirque du Soleil e há quem transe cantando o hino dos Estados Unidos. Mas quem lê nas entrelinhas nota que o que aquele povo pelado busca vai além – para eles, falta o lado emocional, algo bem mais difícil de arrumar do que alguns momentos de prazer. E, para minha surpresa, na saída do cinema encontrei a mãe de uma amiga mexicana – talvez a única senhora da sala de projeção. Perguntei o que ela achou. E ela repetiu uma frase do filme: "É como nos anos 60. Mas sem a esperança."