Nerd York City
Quando alguém é notado nas ruas de Nova York, pode escrever: o cara é nerd. É brega. É sem-noção. Ou "sem-loção", como diria uma amiga. Aqui ninguém olha para ninguém, o que torna todo mundo deliciosamente anônimo. Mas não dá para disfarçar quando topamos com tipos "Star-Trek-fora-do-dia-de-Halloween". Para os nerds, também conhecidos como "dorks", o céu é o limite. Tanto que a Time Out New York, revista semanal de entretenimento, dedicou a matéria de capa a eles. Intitulada "New Dork City", as páginas mapeiam as diferentes espécies de nerds que povoam esta cidade, seus eventos e bairros. Guia útil para evitá-los. Ou procurá-los. Um lugar que me ocorre seria o campeonato anual de palavras cruzadas do New York Times. Mas deixa pra lá.
Não se engane: a definição nerd não designa apenas camisa abotoada até o gogó. Eles vêm em todas as classes, cores e tamanhos. Muitos circulam pelos bairros de Nolita, Williamsburg e Lower East Side - gente que anda fantasiada de alguma coisa inexplicável e unanimemente feia. Ou seja, gente que implora por atenção. A lista é ampla. Quem encabeça é Bill Gates, claro, apelidado de "ur-nerd": tipos superinteligentes, sempre alérgicos, especialmente a esportes. Pior: usam cueca com a marca à mostra. Depois vem Bush, ele mesmo, o superentusiasta vestindo uniforme militar, se achando o bom. Ser deslumbrado é ser nerd. Há também as meninas superdotadas (intelectualmente), mas tem quem goste: são achadas em livrarias e nos bares de striptease, onde trabalham para pagar a faculdade de medicina. E têm os "avant-nerds", metaleiros que tocam na porta do metrô, parques e lugares públicos.
Uma linha do tempo também traça o surgimento do fenômeno "dork". Começa em 1940, passando pelo nascimento de Bill Gates (1955), o surgimento de Star Trek (1966), o lançamento de Annie Hall, do ultra-nerd Woody Allen (1977), o boom tecnológico, uma revanche dos nerds (1990), o surgimento do movimento "Nerd Pride" (1993), o lançamento do Segway (2001), e, vejam só, o remake da "Vingança dos Nerds" (2007). Esqueceram de colocar, no entanto, a invenção da pochete masculina e do porta-celular na cintura. Mas, de novo, deixa pra lá.
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Foto Reprodução