Não me mande mimos! Por que ser mimada virou algo bom?

Um desabafo contra a síndrome de princesa que atinge plebeias adultas. E não, por favor, eu não quero ser mimada e a vida não é um tapete vermelho!

por Nina Lemos em

"Homem bom é aquele que mima a mulher"."Sendo mimada pelo meu marido, adoro!". "O hotel Palace sempre me mimando." "Obrigado pelos mimos." Sempre que leio essas frases penso que alguma coisa deu errado com o mundo e que vivemos épocas estranhas.

Desde quando ser mimada virou uma coisa boa?

Até outro dia, ser mimada era coisa de criança chata ou de patricinha! Mas agora tem um monte de gente famosa, anônima e/ou formadora de opinião que se agarrarou a essa palavra e começou a chamar jabá (brinde dado a jornalista, artista ou formador de opinião) de mimo. Além disso, começou a achar que um lugar bom, tipo um restaurante, é aquele que "a mima".

Eu sou do tempo em que ser mimada era algo ruim. E também do tempo em que jornalista ganhar jabá chamava jabá (e era uma coisa errada e feia de se aceitar). Mas não. Tucanaram o jabá e os privilégios.

Se um hotel, por exemplo, "te mima", significa que ele te trata como uma princesa com direito a tratamento diferenciado. Ou você pagou caro para ser mimada (e ostentar isso em todas as redes sociais), ou você é uma pessoa mais importante do que as outras e por isso recebe brindes e tratamento diferente.

Eu entendo as empresas que "mimam" (isso traz publicidade para elas, dã). Mas não consigo entender as pessoas que se orgulham por serem "mimadas."

Você é adulto, adullto faz as próprias coisas, adulto não é mimado pela avó, inclusive porque provavelmente ela já morreu!

"Homem bom é homem que mima", dizem mulheres Brasil a fora, repetindo a frase sem pensar. Pois, para mim, homem bom é homem que me trata bem e me respeita, o que não tem nada, mas absolutamente nada a ver com me mimar.

Mas não. A síndrome de princesa que acomete muita gente por aí, faz com que as pessoas corram para o salão de beleza onde são "mimadas" - o que significa que alguém te trata com cházinhos, sua revista favorita, tudo na mão, como se você fosse a própria criança (rica) encarnada! Afinal, "você merece". 

Nesse meu um ano de Alemanha, nunca fui tão pouco mimada na vida. Como jornalista, sim, já recebi atendimento "diferenciado" algumas vezes. Sempre me senti meio ridícula. Aqui ninguém me conhece, e mesmo se me conhecesse me chamariam de maluca por querer ser mimada tendo mais de quarenta anos. Quem seria mimada na Alemanha? Sei lá, talvez a Madonna. Mimo é para gente rica. Muito rica. E olhe lá.

Uma amiga me disse outro dia que acha que as pessoas gostam do Uber porque os motoristas dão água, cházinho e abrem a porta para você. Ou seja, mimam. Mas gente, desde quando precisa de alguém que abra a porta do carro para você? A vida não é um tapete vermelho. Fala sério!

De novo, lembro do filme Que horas ela volta. Os patrões da casa são, sim, mimados pela Val, a empregada. Afinal, se estão com vontade de comer um doce, ela faz um docinho. Se estão com fome, ela faz um sanduíche. Mas no meu mundo isso tem outro nome e não é mimo. É exploraçao.

Pois eu nado contra essa corrente e quero dizer que… Eu não quero ser mimada, não! E, parafraseando a canção do De Falla lá nos anos 90, por favor, não me mande mimos!

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