Nada esnobe

A manu da novela das oito é muito mais que uma atriz global

por Filipe Luna em

No ar na novela das oito e nas ondas do rádio, é difícil esnobar a atriz e cantora Emanuelle Araújo. Mas “Esnoba”, hit da sua banda, Moinho, é verbo só da vida artística. Pessoalmente, a baiana de 32 anos esbanja simplicidade

 

 

 

 

 

Muito antes de ser a gostosa da novela das oito no sul maravilha, ou a cantora da Banda Eva pelas micaretas do Brasil, ou ainda a voz que canta “Esnoba”, com sua banda, Moinho, nas ondas da FM nacional, Emanuelle Araújo foi a menina da Insinuante. “Toda hora viro uma coisa: a menina da Insinuante, a menina da Banda Eva, a menina da novela, a menina do Moinho...”, diverte-se. É assim que ainda é constantemente reconhecida nas coordenadas mais a nordeste deste país varonil. Foi vendendo geladeira e fogão, entre outros eletrodomésticos para a cadeia de lojas Insinuante, de Vitória da Conquista, na Bahia, que Emanuelle travou seu primeiro contato com os telespectadores. “Os caras me mandavam uns textos malucos...”, lembra. “Mas foi legal, aprendi muito. Principalmente a lidar com a câmera.”

Aos 32 anos, Emanuelle não é mais menina e sim uma mulher que se afirma com força na carreira. O currículo já vai recheado de trabalhos e parcerias, tanto na música como na arte de fazer de conta nos palcos ou nas telas. Fruto de uma geração de atores baianos que rendeu talentos como Lázaro Ramos,Wagner Moura, Vladimir Brichta e João Miguel, a moça começou cedo na profissão. Era apenas um projeto de pessoa, aos 10 anos, e já estava na companhia Interarte, onde ficou até os 21. “Foi minha grande escola”, afirma. “Ângela Dantas, que era a diretora do grupo,uma pessoa que eu adorava, tinha uma ótima frase para quando eu não sabia como fazer alguma coisa: ‘se vire!’.”Virou-se bem e parou nas telas de cinema em Ó paí, ó, sua estréia em película, junto com vários atores de sua geração da Bahia. “Estudei com Vlad na faculdade e Wagner chegou a ser desse meu grupo por um tempo”, recorda. “A gente veio para cá dar a cara a tapa, mas, se você for lá, vai ver que tem muito mais ainda. O teatro é muito forte na Bahia.”

Pequena Eva
E dar a cara a tapa nunca foi problema para ela desde garota. Com apenas 21 anos, em 1999, foi convidada para uma missão cabulosa: ser a substituta de Ivete Sangalo na Banda Eva – numa época em que o grupo vendia horrores nacionalmente com seu disco ao vivo. Já conhecida pelos soteropolitanos por causa da Insinuante, Emanuelle levava, em paralelo à publicidade e ao teatro, uma carreira de cantora.“A primeira banda em que cantei era uma de percussão, cover de Olodum. Eram 40 caras e eu lá na frente!”, diverte-se. Ela também tinha um projeto de show em que cantava MPB, que era produzido por um dos rapazes da patota do bloco Eva. Daí veio o convite para pegar carona no bonde do trio elétrico.“Disse não primeiro, achei que isso não era pra mim”, pondera.“Mas admirava a Banda Eva porque ela conseguia ter uma identidade muito forte na axé music.”

O “sim”foi questão de tempo e logo Emanuelle estava pulando que nem pipoca e comandando um dos blocos mais famosos de Salvador. “De minha carreira de Carnaval, o trio elétrico é uma coisa que dá saudade. É uma energia única”, explica.“É um contato com um grande público e, a cada esquina, é diferente. É um palco ambulante. Isso é muito interessante.”

 

 

Mas o Carnaval de Salvador e as micaretas eram pouco para Emanuelle. “Era só entretenimento porque assim é o Carnaval”, explica.“E é o bicho isso também, mas queria fazer outras coisas e lá não poderia, porque a banda primeiro representa o bloco.” Atrás de fazer a música que queria, ela partiu do paraíso carnavalesco de Eva três anos depois. Começar de novo não foi difícil para quem era menina só de cara.

Aos 17 anos, a baiana teve que amadurecer na marra. Foi quando se descobriu grávida e deu à luz sua filha, Bruna, hoje com 14 anos. A pequena foi fruto de seu primeiro namoro, que já durava dois anos e se estendeu por mais quatro de casamento. “Eram duas crianças brincando de casinha”, reflete. “A gente viu que não ia dar certo e se separou. Mas somos superamigos, ele é um paizão.” Apesar do peso que é ser mãe tão nova, ela encara a experiência como positiva até hoje.“Nesse furacão todo da minha vida, é uma coisa que até hoje me dá uma centrada”, afirma. “Porque, antes de tudo isso, sou mãe.”

Noites da Lapa
Depois do furacão Eva, veio o tornado Rio de Janeiro na vida da artista. Foi pra lá que ela se mudou quando saiu da banda e lá que as coisas começaram a acontecer novamente.“Caí na Lapa e pirei”, empolga-se.“Exatamente o que me incomodava em Salvador, que era não ter um espaço para uma cena alternativa, pra você montar uma banda, encontrei na Lapa. Era a liberdade musical que tanto queria.”Dessa tal liberdade surgiu a banda Moinho, parceria sua com os músicos Lan Lan (percussionista baiana que acompanhou Cássia Eller por oito anos) e Toni Costa (guitarrista carioca). “Quando vi aquilo, chamei Lan Lan para montar um grupo de samba”, conta. “Ela, superprodutora, abraçou a idéia e chamou o Toni para tocar. Foi tudo muito rápido e fluido, uma semana depois a gente já estava tocando, despretensiosamente.”

Assim, as carreiras de cantora e atriz se cruzaram.Até o mês passado, Emanuelle estava em dose dupla nas novelas da Globo. Na das sete, Beleza Pura (que saiu do ar em setembro), com o hit “Esnoba”, da sua Moinho. E na das oito, A Favorita, como a sacana Manu, uma das “meninas”da casa da cafetina Cilene. Com a rotina apertada de shows e gravações quase diárias, acabou-se o tempo de noites na Lapa.“Não estou num momento de farra. A maior que tenho feito é no camarim pós-show”, garante.“Tenho ficado muito em casa, o tempo que tenho é para meus amores: minha filha e meu namorado.” Esse segundo amor atende por Rogério Romera – ator com várias peças no currículo, instrumentista e caminhoneiro na mesma A Favorita –, que mora em São Paulo e com quem Emanuelle está há um ano.

Serena e tranqüila é como Emanuelle se define no momento. A vivência intensa de uma jovem carreira a deixou sem neuras com a idade. “Nenhuma. Não me troco pelos meus 20 nem a pau”, manda, na lata. “Me sinto muito melhor, mais bonita até.” Parte disso vem do cuidado que sempre teve com o corpo, agora entre sessões de ginástica e ioga – que pratica onde puder estender o tapetinho. E é nessa simplicidade que vislumbra seu futuro. “Aprendi que nada melhor, rei, do que viver na simplicidade, porque te faz estar na real das coisas”, reflete. “Você fica mais em paz. Nada melhor do que saber do que você realmente precisa.”

 

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