Na sauna como os alemães
Fazer sauna na Alemanha não tem nada a ver com putaria. Nina Lemos foi. E amou.
Um frio de 3 graus em Berlim, nove da noite. Fui andando pela rua carregando embaixo do braço uma toalha e um chinelo e pensando, pela centésima vez, por que eu tive essa ideia para mim mesma? A ideia genial, que na hora parecia uma espécie de autoflagelo: ir a uma sauna como eles, os alemães, vão. Ou seja, pelada. E no frio.
Lá, a sauna, assim como nos países escandinavos, não tem conotação sexual. Elas são frequentadas normalmente por pessoas de todas as idades. E todas elas fazem o ritual peladas. Pois bem. Cheguei, recebi a chave do locker e tirei a roupa imediatamente e sem pensar. A sorte é que eu sou muito estabanada, então meu medo de derrubar alguma coisa ou de cair era infinitamente maior do que o de ficar pelada.
Sem roupa, enrolada em uma toalha, fui parar em uma espécie de lounge. Pronto, os primeiros pelados começaram a passar por mim. Deitei em um banco com a minha toalhinha. Decidi entrar na sauna e, sem pensar, pronto, fiquei pelada. Entrei. Lá estavam umas sete pessoas. Amigas, casais gays – que também podiam ser amigos, e não gays, já que em Berlim os homens podem ser héteros e, por exemplo, usar lápis no olho –, casais héteros, homens sozinhos.
Mas agora preciso confessar o maior segredo sobre a minha experiência... As pessoas sempre falam de ambientes onde todo mundo fica pelado, tipo praias de nudismo: “Ah, é todo mundo feio”. MENTIRA. Na minha sauna, em Prenzlauer Berg, um dos bairros mais descolados de Berlim, as pessoas eram LINDAS. Comecei a ficar meio nervosa ao pensar que estava vendo (e pelados) os caras que passam por mim durante o dia com modelos incríveis. Caras loirinhos, magrelos, de óculos (mesmo pelados). E moças bacanas. Com peitos normais, sem silicone. E nenhum homem malhado. Isso porque na Alemanha as pessoas não fazem plástica nem vão à academia como no Brasil. Os corpos são, digamos, normais.
Vocês devem estar se perguntando se eu olhei para o pau dos caras. Não olhei. Primeiro porque ia pegar mal. Segundo porque estava escuro. Se deu curiosidade? Não. Eles eram gatos, independente do tamanho do pau. Pronto. Comecei a me sentir mais berlinense do que já acho que sou em meus delírios. Andei pelo lounge pelada, tomei banho pelada e voltei para a sauna.
Clima quente
Mas, do lado de fora, coisas estranhas aconteciam, como, por exemplo, os caras saírem para dar uma volta no jardim interno, em pleno frio de 3 graus, pelados! Não sei como essa gente não morre de pneumonia. Inclusive porque a sauna é MUITO quente. Sem falar no ritual superconcorrido: a dona da sauna, uma moça simpática, coloca essência de laranja na sauna e roda uma toalha molhada para que tudo fique mais aromatizado. E quente. Nessa hora, quase não achei lugar para sentar. Umas 20 pessoas (peladas) lotavam o ambiente. Saí rápido com medo de desmaiar (de calor, não de vergonha). Coloquei minha roupa tranquilamente, e ainda disse para a moça da sauna que tinha adorado e voltaria. Na saída, vi um dos caras se vestindo e confirmei minhas suspeitas: era um gato! Com um cabelo ótimo, uma bota ótima, tudo ótimo. Adorei. E voltei para casa andando com a minha toalhinha e meu chinelo me achando. O máximo.