Na pista

Batemos um papo com a pilota Bia Figueiredo, primeira brasileira a estrear na Fórmula Indy

por Flora Paul em

A primeira coisa que foi discutida quando a ideia de entrevistar a pilota Ana Beatriz Figueiredo surgiu foi: será que não é comum uma mulher competir em corridas automobilísticas? Mas acredite, não é. No último Desafio Internacional das Estrelas, competição de kart, por exemplo, o único nome feminino que figurava ao lado de pilotos consagrados como Michael Schumacher e Felipe Massa era o dela, a primeira mulher a participar do Desafio nos quatro anos de competições. Mas a pilota não vê diferenças pelo fato de ser mulher: “Eu me sinto normal, como uma piloto que está buscando chegar ao topo do automobilismo”, contou ao site da Tpm.

Bia começou a pilotar aos 9 anos, em corridas de kart. Aos 15, já competia. No Brasil, a pilota é conhecida como Bia Figueiredo, mas nos Estados Unidos, onde corre atualmente pela Indy Lights, adotou simplesmente Ana Beatriz – sua equipe considera a pronuncia mais fácil e memorizável para os americanos. Em 2010, ela será a primeira brasileira a correr na categoria top da competição, a Fórmula Indy.

Batemos um papo com a pilota:

Você começou a correr com kart aos 9 anos. Como resolveu começar a correr? E como foi a reação dos seus pais?
Eu já gostava de assistir corridas quando pequena. Quando meu pai me levou para ver uma corrida de kart em Interlagos eu fiquei doidinha. A família ficou surpresa, mas me apoiou. No começo, foi difícil pois todo mundo me olhava torto. Quem é essa menina no clube do bolinha? No começo, minha família bancou tudo, mas com o tempo e bons resultados fui conseguindo apoios e patrocínios.

Como você percebeu que correr se tornaria uma profissão?
Percebi quando tinha uns 15 anos e estava sendo treinada pelo melhor preparador de pilotos, o Nailor Campos, conhecido como Nô, que treinou o Rubens Barichello, Tony Kanaan e o André Ribeiro, entre outros. O Nô me apresentou para meus atuais mentores, o André Ribeiro, ex-piloto da Indy, e o Augusto Cesário, dono da mais vitoriosa equipe de Fórmula 3 da América do Sul, que viram meu talento e se tornaram meus agentes. Eles planejaram e estruturaram a minha carreira até hoje.

E como você conheceu o Nô?
O Nô me viu correndo uma vez em Itu e foi atrás do meu pai, se oferecendo para fazer um trabalho de preparação. Ele fala que viu algo especial em mim. Após treinar cinco mulheres sem sucesso, decidiu que eu seria a última que ele tentaria fazer chegar no topo. E aqui estou...
 
Quais foram as dificuldades para se tornar profissional? É difícil ser pilota?
É uma profissão que exige muita dedicação e resultados. Para chegar até onde cheguei, passei por várias barreiras e quebrei muitos recordes. Mesmo tendo o melhor grupo de agentes, muitas vezes faltou patrocínio. Mas não reclamo não, tudo isso me ajudou a amadurecer.

Por quê mudar seu nome de Bia Figueiredo para Ana Beatriz?
Não fui eu quem resolveu. O meu mentor, André Ribeiro, quando corria na Indy, teve problemas com o sobrenome dele nos Estados Unidos, pois os americanos não conseguiam pronunciar direito. Com o meu Figueiredo, ele viu que seria impossível memorizarem. E sugeriu que mudássemos para Ana Beatriz. Eu e o Cesário apoiamos.
 
Como é seu dia a dia?
A rotina muda um pouco dependendo da época do ano. Nesse momento estamos em negociações para minha estreia na Fórmula Indy. Passo meu tempo em reuniões e cuidando da preparação fisica. Durante o campeonato é aquela loucura de viagens e trabalho para conquistar bons resultados. Eu moro em Indianápolis durante 70% do ano. No resto do tempo fico em São Paulo.
 
Como você se prepara para uma corrida?

O preparo físico e mental tem que sempre estar em dia. Aí tem a preparação junto com a equipe, a escolha do setup, o acerto, do carro e a estratégia do final de semana. Planejamos tudo antes. Vejo vídeos da última corrida naquela pista específica, e, se eu estava correndo nela, reparo nos erros e acertos para fazer o melhor possível da próxima vez.

Você é uma das poucas mulheres no meio. Sente alguma diferença? Acha que existe preconceito?
Eu me sinto normal, como uma piloto que está buscando chegar ao topo do automobilismo. Sobre o preconceito, aqui no Brasil sofri um pouco mais. Nos Estados Unidos é mais tranquilo.
 
Para dirigir no trânsito, você deixa de ser pilota e se torna motorista?
Eu não gosto muito de trânsito, então estou sempre tentando um caminho alternativo. Quando não tem jeito, fico ouvindo música. A atitude muda muito, pois como pilota, estou sempre buscando os limites, como motorista é chegar a um lugar com segurança e estar ligada nas pessoas e carros ao meu redor, mas a habilidade das pistas me ajuda muito nas ruas de São Paulo. Acho que qualquer motorista deveria fazer um curso de direção defensiva em Interlagos. Realmente aprende-se muito.

aTodo mundo pode ser piloto?
O automobilismo, infelizmente, é um esporte superdifícil e inacessível para muitas pessoas, principalmente por ser muito caro. Para ser um piloto profissional, além de ter os recursos financeiros, precisa de talento, muita determinação, disciplina e de ter as pessoas certas junto de você. Eu me considero uma pessoa extremamente abençoada, pois tenho uma família que sempre me apoiou, tive resultados sólidos, amo o que faço e tenho o melhor time de agentes trabalhando comigo.

O que costuma fazer quando não está em circuito?
Meus hobbies são jogar tênis, andar de jet ski e de kart. Quando estou com tempo livre, gosto de ficar com a família e amigos, onde quer que seja.

Você é graduada [Bia se formou em administração de empresas], achou importante fazer uma faculdade?

Quando terminei o ensino médio, meus pais pediram para eu começar uma faculdade, mesmo que não conseguisse terminar. Não foi fácil conciliar as corridas com o curso de administração de empresas, que eu concluí, mas foi uma superexperiência e que me enriqueceu muito.

 

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