Na cena com Mr. Hopkins
Maria Flor conta como foi filmar 360, novo filme de Fernando Meirelles rodado em Londres
Sempre achei improvável fazer um filme fora do Brasil ou interpretar em inglês. E, de repente, tinha um problema maravilhoso pela frente: contracenar com Anthony Hopkins logo na minha primeira cena! Estava apreensiva com o encontro e com a novidade de fazer parte de um set internacional, mas me confortava saber que Fernando Meirelles e o fotógrafo Adriano Goldman estariam ao meu lado.
A Laura, minha personagem, tem um recorte específico, vive um momento doloroso de ruptura e perda, uma entre as diversas histórias do filme. O roteiro é fragmentado, com várias personagens que se cruzam compondo uma narrativa circular. Não há tempo para elaborar um arco da história de Laura, que dura pouco mais de 24 horas, o que dificultou minha construção. Ela precisava se mostrar por inteiro e de imediato. Então, passei a carregá-la comigo. Durante os meses que antecederam a filmagem Laura passou a viver em mim.
Tive um único encontro, antes do set, com Anthony Hopkins – ou Tony, como ele gosta de ser chamado – e foi eletrizante. Ele tem uma energia e um carisma impressionantes. Em poucos minutos, estava totalmente rendida àquela figura, que começou dizendo que seu personagem tinha muito da sua própria vida. Ele queria improvisar, colocar uma história própria no roteiro e simplesmente estar no set como ele mesmo. Sem técnicas, sem Stanislavski, sem máscaras.
As cenas com Mr. Hopkins eram simples, mas, ao mesmo tempo, densas, e precisávamos encontrar a cumplicidade entre os personagens. Tony é muito experiente e pode roubar a cena, mas eu sabia que o personagem dele precisava conquistar a minha, e esse era meu trunfo. Foi muito bonito e emocionante vê-lo atuando. Havia simplicidade e profundidade naquele rosto, no jeito de dizer as falas. Algo que talvez o ator só atinja mesmo com a maturidade. Meus olhos se encheram d’água quando encontraram os azuis dele. No final, ele desenhou o rosto de um homem e me deu. Está emoldurado em casa.
Nossa cena foi maravilhosa e extremamente criativa. Nós dois estávamos muito entregues àquele momento. Saí com uma sensação de dever cumprido. A experiência do 360 me fez mudar de verdade. No avião, quando voava para encontrar meu namorado em Chicago, percebi que não era mais a pessoa de antes, me senti gente grande. Jamais esquecerei aqueles dias e que, por causa deles, hoje sou maior para enfrentar as tarefas da vida e da minha profissão.
Vai lá: 360 – este mês, nos principais cinemas
Ouça Fernando Meirelles falando sobre Maria Flor em sua entrevista recente para o Trip FM: