Música com lápis e pincéis

Dani Hasse largou o Sul e a carreira acadêmica para ilustrar música em São Paulo

por Natacha Cortêz em

Enquanto outras meninas dedicavam seus tempos com bonecas e jogos, Daniela Hasse, 33, rabiscava tudo e o tempo todo. Dani desenha desde que se lembra, ou como diz “desde quando consegui segurar um lápis”.

E ela nunca largou os lápis. Mas mesmo assim escolheu a faculdade de Letras, deu aulas e daí por diante fez de tudo na vida. De auxiliar de dentista, vendedora de shopping, secretária a outros dois empregos públicos, ela continuava rabiscando por todos os cantos. Vez ou outra fazia uma caricatura de amigos, um cartão de aniversário pra alguém querido, um flyer de show e mantinha seus rumos profissionais em andamento, por mais que não suportasse estar neles: “E eu odiava essa vida. E também sou muito tímida. Dar aula, por exemplo, me fazia vomitar. Eu chegava em casa e vomitava de nervoso”.

 

"São Paulo é incrível. Tanta coisa bonita, tanto pixo, tanta banda boa. E você acaba olhando para a vida, para a histórias dos outros"

 

Durante um desses momentos introspectivos de rabisco, uma amiga que assistia à cena lembrou de uma vaga de desenvolvimento de estampas na grife Colcci, e sugeriu que Dani tentasse o emprego. Acabou sendo admitida e ficou um ano e meio na marca. “Eu não sabia nem escanear imagens quando cheguei. Aprendi lá tudo o que sei”. Foi a partir do trabalho na confecção catarinense que a artista entendeu que podia ganhar a vida longe da área acadêmica, mesmo que isso fizesse sua mãe torcer o nariz por largar os cargos públicos que ocupava na época. “Pela primeira vez as pessoas não eram obrigadas a gostar do que eu fazia, e ali elas gostavam de verdade, sem que eu me esforçasse, e ainda vendiam milhões de roupas com as minhas ilustrações”.

Depois da Colcci, veio a Hering - que também tem sua sede em Santa Catarina. E foi através da marca que a carioca criada no Sul veio parar em São Paulo. A metrópole, por sua vez, deu a ela estímulos que afunilaram ainda mais sua história com o desenho e a tornaram especialista em ilustrar música. “Se eu não morasse em São Paulo, eu não conheceria os clientes, o pessoal das bandas e tudo mais. Foi muito por causa da noite. Meu marido por exemplo, conheci assim que cheguei aqui. Ele é jornalista de música. Acaba que é natural pra gente estar nesse meio", conta ela. Sobre a experiência de fazer os pôsteres, ela se sente honrada a cada um. "É como se eu fizesse parte daquele projeto, do álbum mesmo".

 

"Achei que ficaria cega. Me perguntava o que ia ser da vida"

 

É em São Paulo também que Dani tira suas inspirações pra ilustrar: "A cidade é incrível. Tanta coisa bonita, tanto pixo, tanta banda boa. E você acaba olhando para a vida, para a histórias dos outros. É inacreditável como me dá referencias. Moro bem perto da Avenida Paulista, ao lado de uma grande livraria, ela é tipo minha biblioteca".

No entanto, por causa de um deslocamento de retina ela precisou passar um tempo longe do seu ambiente inspiracional. Foi para Blumenau se tratar e ficar na casa da família. Foram 70 dias de recuperação, sempre sentada, sem poder fazer mais que leves movimentos de pescoço. Desse "perrengue", Dani tirou algumas lições. Primeiro, entendeu a relação intensa que tem com sua arte: "achei que ficaria cega. Perguntava o que ia ser da minha vida. Cheguei a pensar que preferiria perder uma perna a não poder mais enxergar". Depois, percebeu que precisa de muito mais do que isso pra parar de desenhar: "o olho esquerdo ainda não está 100%, tô fazendo tudo com o olho direito. É como se o meu cérebro ignorasse o olho doente. Só lembro que não enxergo bem quando tapo o olho bom", diz.

Mas se nem o lado acadêmico, nem a moda a tiraram do caminho da arte, esse também é só mais um graveto no meio de sua estrada.

No Flickr, todo o seu trabalho e também posters feitos para Vampire Weekend, Céu, Holger e Ladytron. 

Vai lá: www.flickr.com/pet_sounds

Crédito: Reprodução
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Crédito: Reprodução/Alice Nakagawa Matuck
Crédito: Daigo Oliva/Divulgação
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