Mulher equilíbrio
Nos dias de folga, a enfermeira Grazi Eick anda de skate
Em vez de passar o dia na academia ou praticar qualquer outro esporte, a enfermeira Grazi Eick escolheu andar de skate. Nos dias de folga, desliza sobre quatro rodinhas numa pista de concreto
Domingo no parque da Marinha, em Porto Alegre. De frente para o rio Guaíba, numa pista de 132 metros, skatistas deslizam de ponta a ponta. A sensação dequem olha é a de que se equilibrar numa tábua com quatro rodinhas é facílimo.
Tão fácil que foi a enfermeira cirúrgica Grazi Eick, 33, namorar Renato D’Oliveira, um adepto do skate de 44 anos, para aprender como se anda. Havia dois anos ele tinha voltado para o esporte com a mesma turma de 30 anos antes. Na época, década de 70, Renato e meia dúzia de garotos inauguravam a Swell, pista na capital gaúcha que seguia o modelo californiano. É que, numa fase de seca e maré baixa, piscinas da Califórnia foram esvaziadas, e um grupo de surfistas aproveitou para surfar dentro delas, só que de skate.
Em quase um ano de namoro, Renato perdeu 8 quilos e ela ganhou uma barriga dura. Grazi não é do tipo que fica fazendo manobras espetaculares. Mesmo assim, já venceu dois campeonatos amadores na cidade. “Muitas mulheres não se aventuram por medo de se machucar, ficar com marcas no corpo, quebrar os dentes”, diz.
Cadê elas?
Por medo de ficar banguela ou por uma questão cultural, é incomum ver mulheres no skate. No último mundial de esportes radicais, o X-Games, no Brasil, a presença feminina ficou por conta do que os organizadores chamam de “demo”. Lá, oito meninas se alternavam na rampa para mostrar as habilidades. Nada de competição.
Em 2005, um grupo de atletas californianas, o Action Sports Alliance, ameaçou um boicote ao X-Games. O prêmio para o primeiro lugar do campeonato de skate masculino era de US$ 50 mil. Enquanto o feminino chegava a menos de um décimo do valor – US$ 2 mil.
Grazi não pretende virar profissional, quer mesmo aliviar as tensões do trabalho: “Descarrego tudo no esporte. Quando estou bem, consigo deixar os pacientes que cuido mais confortáveis. Tem velhinhos que vão fazer uma cirurgia e nem sabem como vão ficar depois. Eu pego na mão, dou um beijinho e, com esse gesto pequeno, eles já conseguem ficar legal”.
De Adidas rosa, da mesma cor do capacete, encontra Renato, hoje grande amigo, para mais uma session de domingo. Entra na fila de um batalhão de 20 homens e apenas duas mulheres. Todas de sorriso completo – além dos dentes todos no lugar, a satisfação de estar lá.