Muito além do peso
Estela Renner expõe situação pouco conhecida no país em doc sobre obesidade infantil que estreia dia 16
Uma em cada três crianças brasileiras entre 5 a 9 anos sofre de sobrepeso ou obesidade, segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Grande parte desse percentual está altamente propensa a doenças cardíacas, pressão alta, diabetes, artrite e até trombose. Os dados podem parecer sensacionalistas em um país onde a subnutrição ainda é muito presente - 6,9% da população, indica a Organização das Nações Unidas (ONU) -, mas Estela Renner, diretora do documentário Muito além do peso, com estreia para 16 de novembro, quer provar que não. “A obesidade infantil é uma pandemia atual. E o Brasil não foge dela”, argumenta.
Estela e sua equipe, apoiadas pelo Instituto Alana e com a produção de Maria Farinha Filmes, percorreram o país nos dois últimos anos para encontrar famílias em diferentes condições sócioeconômicas e conversar com elas sobre sua alimentação, especialmente a das crianças. Os resultados são chocantes e a impressão, se não fossem as imagens do Brasil interiorano, é de que as filmagens foram feitas com personagens de regiões mais industrializadas. Isso porque o longa mostra brasileirinhos muito mais familiarizados com salgadinhos industrializados, refrigerantes e hamburguers do que com um abacate. Aliás, Estela regista em cenas a dificuldade das crianças de reconhecerem um.
Entre as questões tratadas no longa-metragem, a indústria da propaganda ganha destaque e é apontada como influente na decisão de consumo alimentar. "O índice de sobrepeso aumenta 134% em crianças quando elas são expostas à publicidade", mostra o filme. Personagens como apresentador e chefe britânico Jamie Oliver, líder do movimento Food Revolution, Ann Cooper, Diretora do School Food Project, apoiado por Michele Obama, o indiano Amit Goswami, que desenvolveu estudos em física quântica sobre o assunto, e outros especialistas endossam a pesquisa da diretora e oferecem dados que confirmam a situação alarmante revelada. Amit Goswami, por exemplo, discorre sobre uma informação pouco dissipada e que justifica o aumento de peso generalizado entre as crianças: “A verdade é que quando não obtemos vitalidade nutricional dos alimentos, passamos a comer muito para compensar a falta de nutrientes. Por isso engordamos. Os alimentos que estamos consumindo são cheios de calorias, mas vazias”.
“Eu achava que essa coisa da criança não distinguir uma batata de outro legume era coisa de documentário americano"
Ian, 4 anos, morador de Careiro da Várzea, no Amazonas, é uma das crianças visitadas pela equipe do filme. Tem problemas de coração e pulmão e faz manha, se debate no chão da cozinha pedindo por batata, daquelas crocantes de saquinho. Só termina o chororô quando os pais cedem e dão a ele o salgadinho, que acabam comendo junto com filho. O menino é obeso desde os primeiros anos de vida. “A gordura força o pulmão dele. Ele tem falta de ar e o médico disse que a tendência é que ele fique com o coração grande por isso”, revela o pai. Os pais de Ian também sofrem de obesidade.
Em debate após a pré-estreia do documentário, que aconteceu na noite de 12/11 no Auditório do Ibirapuera, a diretora comentou das razões que a levaram fazer o filme: “Eu achava que essa coisa da criança não distinguir uma batata de outro legume era coisa de documentário americano. Quando vimos que isso era realidade aqui também, percebemos que faltava esse tipo de material, então a gente foi lá e fez. Justamente pra tentar entender porque o ambiente alimentar infantil brasileiro mudou tanto nos últimos anos”.
Muito além do peso tem estreia marcada para 16 de novembro, próxima sexta-feira, nas salas de cinema do Itaú-Unibanco.
Abaixo, você assiste o trailer do documentário.
Vai lá: Muito além do peso estreia 16/11, sexta-feira, em todas as salas de cinema Espaço Itaú (antigo Unibanco) / www.muitoalemdopeso.com.br