Movimento circular

Que coisa de criança, que nada! Uma adepta conta por que o bambolê voltou com tudo

por Lia Amancio em

Que coisa de criança, que nada! Uma adepta conta por que o bambolê voltou com tudo – e como dar uma reboladinha dentro do aro pode ser ótimo para a cabeça e para o corpo

Há quem ainda acredite que o bambolê é coisa de criança. Mas ele é assunto de gente grande e, a cada dia, ganha mais adeptos graças a benefícios físicos e mentais: os movimentos circulares foram parar nas academias, prova de que o exercício é pra valer. Assim como eu, muitas mulheres que se encantaram por essa atividade – que é para homens também, mas só os que conseguem ultrapassar o estigma de que “homem não rebola” – têm transformado suas vidas, cuidando da cabeça, do corpo, fazendo amigos e se divertindo.

Eu mesma não me imaginava praticando. Era a gordinha CDF da turma, passei a infância lendo, escrevendo e desenhando. Pouco tempo atrás, vi a nerdice e o exercício físico convergindo: lembra do lançamento do Wii Fit, aquele videogame que vinha com um sensor de movimentos? A turma techie ficou louca com a novidade e, pouco depois, surgiram vídeos e mais vídeos de pessoas rebolando com bambolês invisíveis.

Mal sabia eu que o bamboleio tinha tantos adeptos, e há um bom tempo. Aqui no Brasil, o bambolê ganhou força graças à cantora e performer carioca Silvia Machete, que, além de ter um gogó de ouro, é artista circense. Mais ou menos na mesma época, em Porto Alegre, a tradutora Mariana Bandarra começava a pesquisar o bambolê como forma de expressão e dança e, em 2008, no Rio de Janeiro, a dançarina Lana Borges organizou o primeiro encontro da Ahaha (Associação Holística Artística e Histórica do Aro).

Malhação

Além da questão lúdica, não dá para desprezar o que o rebolado faz pelo corpo - dizem, por exemplo, que a cantora e apresentadora Kelly Osbourne perdeu vários quilos assim. É fato que o bamboleio é uma atividade física, que queima calorias e molda o corpo. Quem leva o bambolê a sério nota diminuição de medidas, fortalecimento das costas, da lombar e dos braços. Mas, mais do que isso, é unânime em dizer que a perda de centímetros é o menor dos benefícios – o melhor é poder se divertir incrivelmente. Mais libertadora e lúdica do que emagrecedora, a atividade diminui a ansiedade ativando a produção de dopamina pelo cérebro, melhora a coordenação motora e a consciência corporal.

E não precisa ficar restrito à cintura: girar o arco no peito e na região dos ombros alivia a tensão do trapézio e do pescoço e dá um up na postura, como explica Pitila Hossmann, 37 anos, instrutora de ioga e fundadora da Bambolê Arte. “Na ioga, essa é a área do chacra do coração, e o movimento estimula essa energia, reduzindo a timidez, aumentando a confiança e a autoestima, estimulando o amor e os relacionamentos emocionais sadios.”

Em tempos em que o individualismo é a regra, não tem como deixar de perceber que o bambolê e sua prática aproximam pessoas. A carioca Edilaine Guerreiro, 35 anos, assumidamente tímida, confessa que usa o bambolê como ferramenta socializadora nos lugares aonde vai. “Minha onda é dançar dentro dele, usar como escudo, me isolar do mundo e me soltar, mas acabo conhecendo pessoas.” Patricia Arnosti, 34, arte-educadora e professora de bambo-dança em São Paulo, afirma se sentir protegida dentro do círculo e ter sua autoestima elevada pela atividade, que também a ajudou a recuperar o corpo que tinha antes da gravidez.

O mesmo acontece com a gaúcha Gabriela Camargo, tradutora e pesquisadora em dança, que garante que as mudanças físicas se devem mais à ativação mental do que ao exercício em si. Segundo ela, o bambolê proporciona uma “autoaceitação radical”, por ser uma atividade democrática, independente de tipo de corpo, localização geográfica ou intenção artística. “Depois do bambolê, me tornei uma pessoa menos ansiosa e mais sociável”, diz.

 Vai lá: Há muitos encontros ao ar livre de adeptos do bambolê, em geral marcados pelo Facebook. Dá pra acompanhar tudo pelo grupo Bambolê Brasil, que reúne gente de todo o país e tem dicas de aulas, lojas, tutoriais e truques. www.bambambam.wordpress.com // www.facebook.com/groups/155315264510352 

*Lia Amancio, 35, é profissional de comunicação, mora em Niterói e pratica bambolê desde 2009

 


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