Morreu, mas não acabou
Somos acumuladores digitais desenfreados. E pra onde vai tudo isso depois que morremos? É você quem escolhe. Hoje só fica no limbo virtual quem quer
Na internet, tudo parece efêmero e novo o tempo todo, mas a verdade é que não percebemos as pegadas digitais que deixamos bit a bit, feito migalhas de pão. Sites e serviços armazenam as nossas criações musicais e visuais, opiniões e milhares de gigas em dados. Aos poucos, nos tornamos acumuladores digitais desenfreados. Mas o que acontece quando morremos já que, na rede, tudo permanece?
Já é comum ver perfis em redes sociais sobreviverem à morte de seus donos. Eles se tornaram parte do processo de luto da sociedade contemporânea, e chegam a durar anos sendo alimentados por familiares e amigos saudosos. YouTube, Twitter, Facebook e Dropbox desenvolveram políticas e ferramentas para ajudar as famílias dos que morreram, mas, ainda assim, a legislação ainda é um pouco vaga sobre o que pode ou não ser feito com esses dados. Em setembro do ano passado, por exemplo, uma gafe aconteceu com um post agendado, pago pela Apple, no perfil da atriz Joan Rivers, falecida havia 15 dias.
Esses sustos digitais rolam com frequência e, vez ou outra, fantasmas de Facebook sapecam por aí curtindo páginas de marcas que postam em seu nome. Mas há quem deseje permanecer “vivo” e pague por isso: start-ups experimentais conseguem reproduzir padrões de postagem, check ins, curtidas e interações com amigos, como o projeto LifeNaut.
O serviço DeadSoci.al, por exemplo, permite arquivar mensagens (de vídeo, foto, áudio e texto) que são enviadas gradativamente após a morte para as suas pessoas preferidas e ensina a lidar com a morte em várias redes diferentes.
O aplicativo Vuture te incentiva a guardar momentos especiais enquanto eles acontecem para serem compartilhados depois da sua morte.
Mas se há o risco de ninguém saber quem avisar, o Death Switch ajuda: se você passar mais de 2 meses sem responder suas notificações, o sistema presume que você morreu, avisa geral e passa as suas informações para alguém de confiança.
Nos Estados Unidos, especialistas em vestígios digitais começaram campanhas de conscientização a respeito da importância de cuidar desse legado. No Japão, um país de muitos velhinhos e uma indústria de morte estabelecida, esse planejamento é rotineiro. O Yahoo! Ending, por exemplo, ajuda a organizar funerais, dá instruções do que fazer com o seu histórico na internet, apaga perfis, ensina a escrever testamentos, cancela débitos automáticos e manda até mensagens de despedida para pessoas escolhidas. Mão na roda para quem fica, segurança para quem vai.
*Diana Assennato e Natasha Madov, jornalistas e geeks assumidas, são criadoras do blog Ada.vc, onde falam sobre tecnologia, internet e cultura digital com um olhar feminino