Rainha da fuleiragem
Mônica Moreira Lima, apresentadora do Sem vergonha, programa de TV maranhense que roda a internet e os celulares brasileiros, fala de rola, cu, racha e igreja
Mônica é falastrona. Em pouquíssi-mo tempo sabemos suas preferências sexuais, claro, e também as doenças das quais sofre, glaucoma (é de família a mãe e as tias também têm) e diabetes, que está só no comecinho, mas merece atenção. Sabemos que seu terceiro filho nasceu de uma "pirocada avulsa" com um moço 20 anos mais novo. Sabemos que sua irmã quis ser freira e fazia a amiga que pagava boquete geral comer em louça separada. "Ela dizia que a gente não ia chupar pica por tabela." Ficamos a par também dos convites bizarros que tem recebido – entre eles, fazer presença VIP em suruba – e de como foi traumática sua experiência como candidata a vereadora em 1996 – se endividou e só teve mil votos.
Mônica fala de si e dos seus para quem estiver disposto a ouvir. É daquele tipo de gente que conta as histórias nos mínimos detalhes, dando nomes, datas e adjetivos precisos pra cada um dos tópicos conversados. Seja o assunto a violência doméstica da qual foi vítima ou a obsessão dos homens com o tamanho do pau. "Muita gente assiste ao programa e acha que aquilo é uma personagem. Mas eu sou assim mesmo. O que fiz foi pegar a Mônica da hora do recreio e botar na mídia. E, olhe, minha família é inteirinha assim, somos cinco irmãos e todo mundo fica nessa fuleiragem o tempo todo. Cada um podia ter seu programa", diz. E ela garante que nem a irmã que quis ser freira nem o pai, um engenheiro de 76 anos, ou a mãe, dona de casa de 72, se chocam com seu falatório sexual e sem requintes da TV. "Papai não sai de casa enquanto o Sem vergonha não acaba."
Num programa semanal da TV Guará, filiada da Record News no Maranhão, Mônica estimula o empoderamento sexual feminino, entrevista especialistas e aborda pessoas na rua, tudo usando um vocabulário peculiar que consegue despertar a ira de fanáticos religiosos e ao mesmo tempo conquistar a devoção de jovens conectados. Uma das abordagens recentes de fã foi bem específica. "Um cabra me parou no shopping: ‘Mônica, ligue aqui pra minha mulher, por favor, convence ela a dar o cu pra mim, vai?’. Como é que é, meu compadre? Cu é meritocracia e muita dedicação. Deixe a moça doidinha e tu vai ver ela dizer ‘é hoje que eu quero dar esse cu’", conta.
Pirocadas
Mônica tem 47 anos, é jornalista e trabalha com rádio e TV há 30, desde a faculdade. Cobriu o Congresso Nacional em Brasília, trabalhou cinco anos na TV Mirante, afiliada da Globo no Maranhão, e há três anos faz com Ivison Lima e José Machado o programa Bastidores da capital, na Rádio Capital, onde ao vivo, e de segunda a sexta, falam de política e cidadania. Até 2008 o sexo ficava restrito aos momentos de off. Foi nesse ano, com a publicação de seu primeiro livro, que a vida deu uma guinada. Assim como Pirocadas avulsas, lançado no primeiro semestre, o livro de estreia, Sexo para maiores de 18 cm, reúne crônicas de cunho sexual, em que a trepada é invariavelmente meio ou fim de histórias diversas. "Quando em 2013 me convidaram para ter um programa de sexo no estilo do livro fiquei com medo da reação das pessoas, TV aberta... Mas topei. Não tinha ideia da repercussão que isso teria", conta. "O programa é local, foi criado para nossa aldeia. Não imaginava que a coisa ia tomar essa proporção", diz.
A proporção a que Mônica se refere inclui selfies aos montes pelos aeroportos do Brasil, convites para programas como os de Rafinha Bastos, Danilo Gentili, Luciana Gimenez e Roberto Justus, ameaças em sua página oficial no Facebook e o tal convite para fazer presença VIP em suruba, o qual recusou delicadamente. Sim, porque Mônica não esconde: ela fala mais do que faz – e não que ela faça pouco. "Vou fazer o que em suruba, meu rei? Não vou disponibilizar os orifícios pra ninguém. Me poupe. Nunca participei de uma suruba na vida", revela. "O povo me vê no programa e pensa que sou fodideira, que dou pra todo mundo. Mas não tem nada disso. Sou dona de casa, cuido dos meus filhos sozinha e foda pra mim é carinho, é cheiro, chamego."
"O povo me vê no programa e pensa que sou fodideira. Mas não tem nada disso. Sou dona de casa, cuido dos meus filhos"
O único assunto que deixa Mônica mais animada que sexo são os filhos. Ludimilla, 24 anos, Rafaella, 22, e Matheus, 12. Ela conta com orgulho que uma é psicóloga no Instituto Federal da Bahia e a outra, engenheira civil formada em Massachusetts. O mais novo é xodó: "Ele toca guitarra, compõe em inglês e português e desenha maravilhosamente bem. É apaixonado por mim", conta. O pai de Matheus é 20 anos mais novo do que Mônica e hoje faz residência médica em São Paulo. "Éramos vizinhos de prédio havia anos. Um dia encorpou, ficou homem e chamei ele aqui em casa." O rapaz tinha 18 anos recém-completados. Na primeira transa houve um deslize e fizeram o filho. "Eu sabia que era dele, mas fiz o DNA pra não ter dúvida." A vó de Matheus é vizinha deles até hoje e não fez caso por conta do acontecido. "Quando chegamos da maternidade ela disse: ‘Mande vir meu neto pra eu dar um cheiro’. Não teve problema", resume.
Mônica garante que não fica trocando de parceiro. Quando acha um cara com quem o sexo rola legal, fideliza a trepada. Mas já ficou quatro anos sem transar, só se satisfazendo sozinha. "Sim, porque eu me masturbo todo dia. Sou a favor do autoabuso sexual e tenho um monte de brinquedinhos pra isso. Um deles apelidei de ‘oisqui’, de ‘o esquisto’, porque ele tem duas cabeças. É maravilhoso! Adoro também um bem pequenininho de clítoris, esse eu trouxe, tá ali na mala, quer ver? Você não dá nadinha por ele, mas vai no céu. Não tem como não gozar com aquilo ali!", diz apontando a pequena mala que trouxe para passar uma noite em São Paulo.
Namorado ela não tem nem pretende ter. Depois de uma relação abusiva de dez anos, em que sofreu violência física e psicológica, Mônica jurou que não botava mais homem dentro de casa. "Deixou um trauma da porra! Nesta encarnação não vou mais tentar adestrar homem, não", diz com seu bom humor de sempre. Ela conta que na época, há 20 anos, ainda não tinha a Lei Maria da Penha e que violência contra a mulher não dava em nada, mas fez questão de registrar boletim de ocorrência de toda a violência sofrida. "Ele é o pai das minhas duas filhas, 20 anos mais velho, e fui realmente apaixonada por ele. Fiz de tudo para esse homem melhorar... Mandei pra psicólogo e até pra fazer hipnose regressiva e ver se descobria a origem daquela agressividade. Mas era machismo mesmo. Ele foi criado pra sempre responder com violência. Não gostou? Então cai de porrada! Era assim no interior do Nordeste." Como na maioria das relações abusivas, Mônica sofreu com a ambiguidade. Seu ex-marido era bom pai, presente e nunca bateu nas filhas, mas a marca que deixou nela não sai nem com o perdão que faz questão de frisar.
"Nesta encarnação não vou mais tentar adestrar homem não!"
Mônica iniciou a vida sexual aos 15 anos com um namorado com quem ficou três anos. Conta que desde nova sempre realizou suas fantasias sexuais. Deu altos rolês de barco pelas ilhas desertas da região e namorou muito no cenário paradisíaco dos Lençóis Maranhenses. Como foi atleta dos 5 aos 17 anos, nunca consumiu álcool e drogas. "Fui campeã maranhense de natação, e meu técnico era muito rigoroso com essa história. Hoje o gosto não me agrada, não bebo rigorosamente nada." Em família a "fuleiragem" rolava solta, mas ela diz que não era nada erotizado. Os primos ficavam comparando quem tinha o pau maior, mas era na brincadeira. "Hoje a sexualidade está sendo vivenciada cada vez mais precocemente. Uma menina de 11 anos da sala do meu filho disse que o sonho dela é perder o cabaço com ele. Ave Maria, tá muito cedo. Espero que ainda leve uns cinco anos pra ela realizar esse sonho."
Nesse contexto a apresentadora vê uma função importante em seu programa. "É preciso falar de sexo. Estamos no século 21, não dá mais pra ser tabu. Precisamos de educação sexual nas escolas, papo em família", diz. E Mônica faz sua parte, fala sobre sexo anal com a mesma naturalidade que Sérgio Chapelin fala das onças pintadas: "Pra que economizar essas pregas, meu Deus?". E usa sempre um tom professoral: "Primeiro tire um sarro, no cinema, na balada, para conferir se o cabra é sua pontuação de rola. Feita a checagem, dê uma boa lapada na rachada".
Mônica não esconde suas próprias experiências, assume no vídeo que não é chegada em muito romance e que seu maior afrodisíaco é inteligência. "Um cara inteligente me deixa logo com a calcinha hidratada. Homem burro não dá. Às vezes o cabra não tem aquela lapa de rola, mas é inteligente e faz um boquete gostoso, nesse eu fidelizo." Nas entrevistas na rua, Mônica se choca com os relatos de mulheres que nunca se tocaram ou não sabem o que é um orgasmo e lembra da história de sua avó: "O maior orgulho de minha avó era dizer que o marido nunca a viu nua. Teve dez filhos com o cabra por um buraco no lençol. Porra! Que diabo é isso? Não pode".
A jornalista quer ver a mulherada se esbaldar no sexo, qualquer que seja ele. E, para cutucar a sociedade, vira e mexe objetifica os homens falando deles como eles sempre falaram de nós. "A proposta é dar uma provocada mesmo. Jogar o homem nessa roda em que a mulher sempre foi jogada", diz. Tudo isso sendo católica. A jornalista estudou em colégio marista, acredita em Deus e sonha em ver uma abertura da igreja. "Essa coisa de que a mulher não pode rezar missa e não pode ser papisa é ultrapassada. A igreja tinha que dar exemplo, parar com esse negócio de transferir padre pedófilo de paróquia e passar a punir de forma exemplar. Eu gosto muito do papa Francisco, mas a igreja precisa avançar. Andar junto com seu tempo." Só isso? Não, ela diz mais: "Meus maiores críticos são os religiosos fanáticos, gente que usa Deus e deturpa a Bíblia. Deus é amor, gente! Acho uma heresia usar seu nome para discriminar os gays, por exemplo. Na Bíblia que tenho lá em casa não está escrito em lugar nenhum que amor é só entre homem e mulher".
Questionada se seu sucesso tem a ver com o fato de ser um bicho raro, Mônica ri e responde: "Parece que sou, né?".