Milly Lacombe: Dia de praia
A colunista da Tpm escreve especialmente para o site sobre seu ritual para os não tão desejados dias de praia
Sou um acidente geográfico. Nasci em um pais tropical com um tom de pele daqueles que fazem dermatologistas mais cuidadosos sugerirem muito educadamente que, entre dezembro e março, eu me mude para uma caverna – levando na bagagem um chapéu e o protetor solar. Não sei se por instinto de sobrevivência ou outra chatice inevitável acabei desenvolvendo um certo desgosto pela praia, pelo sol e, especialmente, por dias de sol na praia. Mais ainda: o calor (e entendo por calor qualquer ambiente localizado em território brasileiro e sem ar condicionado entre dezembro e março) não me cai bem no sentido de que me impede de pensar com clareza – não que no frio eu seja capaz de pensar com alguma lucidez, mas me sinto definitivamente menos burra em temperaturas abaixo de 24 graus.
Por tudo isso, tenho ido à praia no verão apenas em anos bissextos, e ainda assim depois das 17h com protetor solar 60 no corpo inteiro. Mas, na inevitabilidade de ter que colocar meus pés na areia no verão (e recentemente aconteceu porque um amigo resolveu se casar em Trancoso, BA) o que faço é, na ordem:
1) Orar com muita fé para chover;
2) Se chover, fingir que compartilho do mau humor coletivo dizendo coisas como: “não acredito que não está sol! Não é justo!” enquanto me aboleto em uma rede com um livro nas mãos;
3) Se não chover, lembrar de mudar o santo da oração e, em seguida, sem nenhuma pecinha de roupa sobre o corpo, passar protetor solar 60 dos dedos mindinhos dos pés às orelhas, pedindo que minha mulher, que gosta muitíssimo do sol, passe em minhas costas;
4) Passar protetor solar FPS 75 no rosto;
5) Pegar o maior chapéu do mundo e colocá-lo em minha cabeça;
6) Pegar o óculos de sol;
7) Pegar o guarda-sol;
8) Pegar uma cadeira (pior do que suar é suar e ficar grudada com areia da praia. Se fosse presidente do mundo mandaria que as praias fossem azulejadas);
9) Pegar um livro;
10) Pegar dinheiro para comprar água, mate, suco, cerveja, sorvete, queijo-coalho, milho, empadinha, coxinha, camarão ou qualquer comestível que passe por mim;
11) Meditar para que chova no dia seguinte.
A carioca Milly Lacombe, 45 anos, já exercitou sua paixão pelo futebol no SporTV e na Record, como comentarista esportiva. Também já colaborou com diversas revistas e com o portal Terra, mas gosta mesmo é de escrever livros em seu apartamento em São Paulo, onde mora com duas cadelas e uma gata. Seu e-mail: millylacombe@gmail.com