Melhor leitura de 2013
Perguntamos qual o melhor livro do ano para aqueles que estão fazendo a literatura brasileira contemporânea
Bruna Beber (autora de Rapapés & apupos)
"O livro mais divertido que li esse ano foi Como é linda a puta da vida, o mais recente de crônicas do escritor português Miguel Esteves Cardoso, também autor do clássico O Amor é Fodido. Li em uma tarde e fiz orelhas em inúmeras páginas. Como não é tão fácil comprá-lo no Brasil, passei pros amigos fazerem as orelhas deles, e passarem pros amigos deles fazerem as orelhas deles. Espero que assim ele caminhe – orelhudo e tronxo - e que nunca volte para mim, pois ficarei alegre que outros se percam em suas anedotas."
Juliana Frank (autora de Meu coração de pedra-pomes)
"O melhor livro do ano foi o romance Mamíferos, Pierre Merot. Um livro que acerta de maneira peculiar em tudo. O narrador usa a boa e velha terceira pessoa, a primeira e também a segunda! O mamífero é 'o tio', personagem da raça alcoólatra. É depressivo, mulherengo, pouco nobre, amargo e corrosivo. Inútil tentar grifar as melhores frases. O livro é repleto delas."
Andrea Del Fuego (autora de As miniaturas)
"O livro que mais me impactou foi Primero estaba el mar, do colombiano Tomás González. Trata-se de um casal que resolve viver fora da cidade e ir para uma praia. De tudo o que levam para a nova vida, a única coisa que se aproxima de uma civilização é a máquina de costura que já quebra descendo do barco. É definido pela crítica como o segredo melhor guardado da literatura colombiana. Não há edição no Brasil, mas o espanhol é muito próximo do português e dá para tentar encontrá-lo na Amazon, por exemplo. Recomendo muito."
Antônio Xerxenesky (autor de A página assombrada por fantasmas)
"Melhor leitura que fiz em 2013 foi Wittgenstein: o dever do gênio, de Ray Monk, infelizmente fora de catálogo no Brasil, mas ainda disponível em inglês. Motivo: 'O texto de Ray Monk é tão bom que esquecemos que estamos diante de uma obra de não-ficção. Wittgenstein é um personagem sem igual, e o desafio de Monk foi justamente o de encontrar o que há de humano em alguém cujas preocupações máximas giram em torno da busca por uma lógica pura, não contaminada pela psicologia ou pela metafísica'."
Emilio Fraia (autor de O verão de Chibo, em parceria com Vanessa Barbara)
"O meu livro favorito de 2013 foram dois contos: Saudades: um estudo de cartas escritas por alunos de uma classe do quarto ano primário desejando melhoras a um colega (sim, esse é o nome!), da Lydia Davis, que integra Tipos de perturbação, primeiro livro da norte-americana publicado no Brasil. E Três mortes, do Tolstói. O primeiro é uma dissecação de vinte e sete cartas que alunos de uma classe do quarto ano primário escreveram para um coleguinha, Stephen, enquanto este se recuperava no hospital. Em dezembro de 1950, Stephen ficou doente e foi internado. Após as férias de fim de ano, as aulas recomeçaram e a professora pediu, como tarefa de classe, que cada um dos alunos lhe escrevessem uma carta. Logo no início, ficamos sabendo que nada de pior vai acontecer, que Stephen saiu dessa, que não precisamos passar a história tensos torcendo pela sua melhora -- e nossa atenção se volta para as cartas, a maneira das crianças escreverem; o conto é a análise maravilhosa dessas cartas. Já no conto de Tolstói, o final é menos feliz e os personagens morrem. São três mortes: de uma mulher rica, de um cocheiro e de uma árvore. O interessante é ver como as mortes se cruzam, até a morte inesquecível da árvore (minha morte predileta na literatura até hoje)."
Noemi Jaffe (autora de O que os cegos estão sonhando?)
"Sem dúvida, um dos melhores livros que li esse ano foi o Tipos de Perturbação, da Lydia Davis, publicado pela Companhia das Letras. Fazia tempo que eu não lia contos tão simultaneamente secos, estranhos e desestruturantes. A autora consegue, com formatos completamente inusuais, dar conta de uma crítica feroz e original à hipocrisia burguesa. Estilo soco no estômago, do qual se sai querendo levar ainda mais. Como eu gosto de literatura pesada e reflexiva, para mim foi um prato cheio."
Natércia Pontes (autora de Copacabana dreams)
"Em 2013 eu li muitos livros gordos. Mas o que mais me intrigou e me suspendeu os sentidos foi um livro bem magro: O Jardim de Cimento, do Ian McEwan. Com menos de 130 páginas, esse pequeno romance do aclamado autor inglês, conhecido também como 'Ian Macabro', me conduziu a um sótão úmido e, sem fazer concessões, me cimentou o juízo. Com a prosa seca, elegante e maravilhosa, Ian Macabro conta a perturbadora história de uma família aparentemente prosaica numa narrativa abafada e envolta em cheiros, humores e imagens pulsantes que impregnaram meu corpo para sempre."
Xico Sá (autor de Big Jato)
"O livro mais divertido, sangrento, amoroso, visceral da literatura brasileira em 2013 é A Intrusa, do jovem gênio maranhense Bruno Azevêdo. Ao lê-lo alcanço tanto prazer quanto na leitura de Reinaldo Moraes (Pornopopéia), o maior escritor brasileiro vivo ou morto. A Intrusa é um folhetim em chamas capaz de tostar raparigas em flor. Um erotismo de banca de revista capaz de reverter a mais enjoada das menopausas de todos os caritós. A Intrusa é fogo en las entranhas da frígida e solene literatura contemporaneazinha. Azevêdo, este papaléguas, alcança, com este volume que ora lateja nas mãos da mulher moderna, a condição do nosso melhor escritor pícaro-mexicano."
Luisa Geisler (autora de Quiçá)
"Minha leitura preferida deste ano foi O que deu para fazer em matéria de história de amor, da Elvira Vigna. São duas histórias, só que não; é uma história de amor, só que não. É um daqueles livros que, após a leitura, exige um momento de silêncio para "deixar baixar". Recomendo."
Clara Averbuck (autora de Cidade grande no escuro)
"Zonas úmidas, da Charlotte Roche, putaria escatológica divertidíssima e tapa na cara da sociedade machista, moralista e conservadora."
(*) Layse Moraes é uma jornalista apaixonada por livros e mantém o blog Coração Nonsense