Massagem por dentro

Conferimos uma nova técnica de massagem que promete "a experiência de múltiplos orgasmos"

por Ailin Aleixo em

Fazia, no máximo, uns 14 graus do lado de fora do quarto. E, apesar do aquecedor, uns 17 lá dentro. Eu não sabia o que era mais incômodo: a ponta dos dedos dos meus pés começando a endurecer de frio ou aquele dedo dentro de mim por, naquela altura, uns 10 minutos. Em círculos, para frente, para trás. Devagar e rápido, mais rápido.

Mantive os olhos fechados todo o tempo porque me conheço e sabia que cairia na risada nervosa se visualizasse a situação na qual tinha me colocado. Eu, completamente pelada, deitada em um colchonete no chão forrado por plástico e um lençol fino, sendo penetrada pelo dedo médio revestido de luva de látex de uma massagista tântrica cuja técnica chamada yoni (portão da vida, em sânscrito, ou vagina, em português) prometia “proporcionar a experiência de múltiplos orgasmos” e “despertar regiões sensoriais adormecidas”. Escutando lounge music indiana e agradecendo a mim mesma por não ter escolhido um terapeuta homem – estava embaraçoso o suficiente com alguém que tinha as mesmas reentrâncias que eu –, e completamente melecada de gel lubrificante.

Enquanto ela bravamente tentava estimular meu ponto G, que fica ali em algum canto da parede anterior da vagina, eu me esforçava para não pegar a chave do carro e sair correndo. Ainda não havia sentido nenhum prazer, só estranhamento, e olha que já tinha passado pela fase do alongamento do clitóris, na qual ela pega o danado e o desliza suavemente entre o polegar e o indicador, como se estivesse fazendo um cigarro de palha; a intenção é aumentar seu tamanho e a irrigação sanguínea, como no pênis.

Cinco minutos depois, o dedo saiu.

E eu, finalmente, expirei.

À espera do que viria a seguir, dei uma abraçadinha rápida no aquecedor e voltei a minha posição básica: barriga pra cima, pernas abertas, olhos fechados.

E foi aí que o negócio ficou bom.

Muito bom.

O aparato não era milenar e seu uso certamente não estava descrito em nenhum livro sagrado. Na verdade, você o encontra em lugares nos quais as pessoas geralmente ficam com vergonha de entrar e mais ainda de sair. O que estava nas mãos da massagista era um vibrador. Um bullet pequenino e poderoso. Meigo e decidido. E, vou te contar, ela sabia como manejar o negócio. Barbaridade!

A massagista o posicionava sobre o clitóris e, em vista dos movimentos típicos de quem está para ter “uma experiência orgástica”, ficava dizendo: “Isso, deixa a eletricidade tomar conta, deixa subir pra cabeça”. Deixei uma vez. Deixei duas. Deixei três. Deixei quatro! E ela mantinha o bullet lá, mesmo depois de eu gozar – e, confesso, não sou muito fã de estímulo contínuo. Gosto de um descanso. Copinho de água. Biscoitinho. Mas ela não dava trégua: “Deixa a eletricidade tomar conta, deixa subir pra cabeça”. Nada mais estava subindo pra lugar nenhum, só incomodando. De novo, queria pegar a chave do carro e sair correndo. Até gozar demais dá no saco.

Tomei coragem e pedi para ela parar, mesmo sob protestos: ela insistia que eu só ensinaria novos caminhos de prazer para meu corpo se quebrasse os velhos paradigmas, se traçasse novas rotas etc. e tal. Eu queria pagar e ir embora. Só.

Coloquei a roupa o mais rápido que pude (meus membros estavam ficando roxos de frio), assinei o cheque, dei beijinho de tchau e fui direto para a padaria comprar um sorvete de chocolate. Poxa, eu merecia, vai. Não tinha tido nenhuma experiência transformadora nem “conectado a voz e a respiração a sensações e emoções afloradas”, mas quatro orgasmos não é todo dia. Ou é. Qual será a marca do vibrador dela?

O encantador de orgasmos

Deva Nishok, paulistano de 53 anos, criador de oito tipos de massagem tântrica e coordenador de clínicas em cinco capitais brasileiras, explica como desenvolveu suas técnicas e sentencia: “Os homens morrem de medo da vagina”.

Tpm. Todos os tipos de massagem aplicados no Centro Metamorfose são técnicas suas. Você as desenvolveu baseado em quê?
Deva. Comecei a me interessar por tantra em 1994. Fiz curso de tantra ioga, estudei budismo tântrico, participei de dezenas de grupos no Brasil. Notei que o que as pessoas chamavam de massagem tântrica estava ligado somente ao ato sexual, o que é um desvio do tantra original. Então, baseado na sabedoria do livro de meditação tântrico Vighyan Bhairav Tantra, datado de mais de 6 mil anos e do qual Buda e Jesus tiraram seus ensinamentos, passei a organizar meus próprios grupos em Vitória, Curitiba, São Paulo e Buenos Aires. Isso foi em 1996.

Você desenvolvia seu método testando-o nos alunos do grupo? Sim. Aplicava em várias pessoas e, principalmente, em um grupo de pesquisa fixo, com 18 pessoas. Sabia que chegava a um resultado pelas evidências físicas. Por exemplo: algumas mulheres tinham ejaculação de até 3 litros durante o tempo da sessão, cerca de 90 minutos. Muitas, no começo, ficavam com receio de ejacular porque a sensação é parecida com a de urinar, apesar de serem coisas completamente diferentes. A experiência é tão intensa que em alguns casos houve a perda de até 350 gramas de peso entre o início e o fim da sessão.

No site diz que é possível curar frigidez e anorgasmia com a massagem. Como? Muitas mulheres desconhecem o prazer que podem ter e nunca desenvolvem seu potencial sensorial porque passam a vida com parceiros que não sabem produzir o estímulo adequado. Depois de fazer a massagem yoni, condicionar outros caminhos para seu prazer, aprender a usar o vibrador da forma correta e chegar a ter experiências orgásticas de até duas horas, mudam de vida. Algumas alteram o modo de vestir, outras se separam. Não conseguem ser mais as mesmas.

Depois de ter essa epifania em relação ao próprio prazer, algumas pacientes não se apaixonam pelos massagistas, não? Sou casado com uma ex-paciente. A Surya, minha esposa há três anos, foi minha paciente por seis meses. Essas coisas acontecem, mas conversamos muito com os terapeutas para que não haja envolvimento. É uma questão de ética.

Algum marido abandonado já foi atrás de vocês para brigar? Já, já sim [risos]. Nesses casos procuramos conversar, explicar. Mas é claro que, se chegou a esse ponto, a relação já estava deteriorada.

Os homens não sabem estimular as mulheres porque acham que já sabem tudo ou por insegurança? Os homens morrem de medo de yoni. Em um dos meus cursos fiz uma atividade chamada Porta do Universo. As mulheres ficavam deitadas, nuas e de pernas abertas, no meio de um círculo, de frente para os homens. O objetivo é que eles se reconciliassem com a vagina. As sociedades patriarcais oprimiram o feminino e acabaram com a relação de reverência que existia com o útero, que é sagrado, tornando o ato sexual e a vagina algo banal. Os homens não conseguiram entrar no círculo!

Qual o objetivo maior da massagem tântrica? Criar meios para cada um ir profundamente dentro de si.

Tem coragem? Então vai lá:
A sessão de 90 minutos da massagem custa R$ 290. A escolha do terapeuta é feita diretamente pelo site, que disponibiliza seus telefones para que seja feito o agendamento

R. Paracuê, 387, Vila Madalena, São Paulo
Tel.: (11) 3213-0207

R. Prof. Alexandre Albuquerque, 48, Vila Mariana, São Paulo
Tel.: (11) 3884-9987;

R. João de Souza Dias, 962, Brooklin, São Paulo
Tel.: (11) 3020-3084

www.centrometamorfose.com.br

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