Manu Chao

Sobre o show interminável que ele deu por aqui

por Ana Manfrinatto em

 

 

Quando a gente tinha uns 19 anos a gente dizia que queria ser igual ao Manu Chao: um mundrungo reconhecido e endinheirado. “Mundrungo”, no caso, era quem estudava comunicação social sobretudo na USP, na PUC e na Cásper Líbero. Aquele pessoal meio roqueiro, meio hippie, meio intelectual, meio de esquerda.

Pois bem, os anos passaram e lá fui esta semana ver o Manu Chao ao vivo pela primeira vez. Primeiro que ia no domingo, mas chovia a cântaros e eu acabei em casa morrendo com dois ingresos na mão e tomando mate com um casal de amigos. Daí fizeram um recital extra na terça-feira no Club Atlético Argentinos Juniors. Outros dois ingressos na mão e lá vamos nós.

“Preferencial em pé” era o nome do setor para o qual eu tinha entradas. Menos mal! Porque além da vista ser privilegiada, fazia um calorão danado, o ginásio estava lotado e eu não aguentaria passar duas horas e meia ali embaixo na galera.


Sim, sim: o show durou quase duas horas e meia! Quem abriu foi a banda Onda Vaga numa pegada bem tranquila. Até que o Manu Chao subiu ao palco com a sua banda e ninguém mais parou de dançar.

Tocou de tudo: coisa nova e os clássicos que nunca morrem. Tudo levado na pegada do reggae e, verdade seja dita, eles terminavam quase todas as músicas com a mesma levada de guitarra. Mas não importou, porque o show foi igualmente incrível.


Também teve de tudo: vídeo de grafiteiros fazendo intervenção urbana, espaço para que duas representantes de organizações pelos direitos humanos subissem ao palco para divulgar seu trabalho e o senhor Tonino Carotone dando uma canja.

Tonino who? Ca-ro-to-ne. Ele é genial! Um espanhol que dá pinta de italiano dos anos 60 e canta umas músicas cujas letras nunca são sérias. Nos shows ele se apresenta como esses mestres de cerimônia de circo de cidade do interior e a sua voz é bem rouca – destas curtidas em muito uísque e cigarro.


O hit do Tonino, que obviamente fez parte da canja, se chama “Me cago en el amor”. Fantástico, né?


E depois que Tonino saiu do palco Manu Chao e banda ensaiaram um sem número de bis e despedidas. “Eles tão de brincadeira”, dizíamos. Porque eles não queriam mais ir embora. “Hasta siempre, Buenos Aires”; foi repetida pelo Manu Chao a exaustão. Até que, às 00h30 de quarta-feira, eles deixaram o palco.

E se eu fosse tão jovem como na época em que eu era fãzaça do Manu Chao, eu não teria voltado para casa mas sim seguido a banda. É que uma tradição desta galera aqui em Buenos Aires é terminar os shows e continuar tocando feito grupo mambembe pelas ruas de San Telmo. Porque eles  sao mundrungos, né?

 

 

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