Manicuros?

Eles largaram profissões másculas para virarem manicures

por Redação em

Manicures são psicólogas, amigas e, muitas vezes, conselheiras. Pelos salões de beleza do Brasil, ouvem lamúrias e desembestam a dar pitaco na vida pessoal das clientes mais fiéis. Já Henrique, Fábio e Guilherme não se atrevem a opinar. Manicures e técnicos em alongamento de unhas, enquanto cutucam dedos femininos suas respostas se restringem a "sim" e "não". "A mulher quer largar o marido e eu vou dar palpite? Aí complica", conta Guilherme, há dois anos no ramo.

Antes de começar a entender de esmaltes, Henrique de Oliveira era segurança, Fábio Lamira dava aulas de capoeira e Guilherme Santanna fazia carregamento de caminhão numa transportadora. Os três largaram as profissões e foram parar no Empório das Unhas, salão especializado em alongamento de unhas no bairro da Liberdade, em São Paulo. Suely Munekata, a proprietária, morou por seis anos nos Estados Unidos e lá percebeu que o barulho das unhas batendo nos teclados era diferente. O motivo? O hábito das americanas de usar unhas postiças.

A paulistana voltou ao Brasil há oito anos com a ideia de trazer o estalo dos teclados para o cotidiano das brasileiras, já que o hábito de alongar as unhas não é popular por aqui. Seu salão oferece alongamento de acrílico e gel fotopolimerizável (que endurece na luz negra). Lá, manicure senta à mesa com cliente. Cadeirinha rente ao chão não tem vez. Até porque, seus três melhores funcionários não caberiam numa dessas. Eles são fortes, altos e fazem questão de reforçar a preferência sexual: mulheres. Apesar de terem procurado Suely, e não o contrário, a empresária queria entender por que lá fora homens são considerados os melhores do ramo. "Treinando homens percebi que eles têm uma capacidade de concentração maior do que as mulheres", explica. Tom Bachik e Tom Holcomb, por exemplo, são conhecidos manicures americanos. O primeiro faz as unhas de personalidades como Britney Spears e Cameron Diaz e o segundo é ganhador de campeonatos, como o World Nail Championship, em 2004.

Fábio começou na profissão na Europa, quando conheceu uma manicure portuguesa em Lisboa. Além de namorado, virou seu assistente. Quatro anos depois, retornou ao Brasil com uma profissão entre os dedos - e sozinho. Aos 36 anos e há um no Empório, ele ensina a técnica e atende as clientes. Uma delas, dona Nizinha, tem 70 anos e, recentemente, o presenteou com um pijama. Este mês, ela vai pintar as unhas de 3 centímetros de comprimento com as cores da bandeira do Brasil, em homenagem à Copa do Mundo.

Técnico no quê?

Henrique era segurança havia mais de dez anos. Carro-forte, segurança particular, segurança do Empório das Unhas. Foi lá que teve contato com a profissão. "Dona Suely, homem faz unha?", perguntou à patroa. "São os melhores do mundo, quer aprender?" Fábio topou. Hoje, aos 37 anos, leva cantada de outras manicures que, na sua opinião, querem é saber se ele é "homem ou gay". Fábio não dá bola. É casado com uma manicure e tem dois filhos do primeiro casamento. "Homem me canta também. Antigamente, meu pavio como segurança era curtinho. Hoje, me divirto. Falo para o meu filho: ‘Seu pai não é mais nem menos homem porque mexe com unha'." É que, quando perguntam para seu filho de 13 anos o que seu pai faz, ele responde: "Meu pai é técnico". "Técnico no quê?" O garoto não revela.

Guilherme, 28, é o único que, se necessário, sabe fazer uma unha tradicional. Depois de decorar as unhas de uma prima, viu que tinha mão pra coisa. Matriculou-se em um curso na escola Embelleze e foi atrás de Suely. Aprendeu a técnica de alongamento e hoje é freelancer do Empório. Se morasse em outro país, adotaria unhas tão longas quanto as que cria para demonstração em feiras de beleza. Por aqui não se atreve. "Às vezes, faço coisas extravagantes que a sociedade julga ser de mulher. A última decorei com um ramo de flores em relevo. No Brasil o preconceito é muito grande", reforça o que já é sabido.

Henrique, Fábio e Guilherme são revolucionários no setor. Encaram a profissão com seriedade, e o trabalho deles nem de longe vale os R$ 10 cobrados em tantos salões do país (um alongamento de unha permanente no Empório sai por R$ 150). Cuidem-se, manicures.

Vai lá:

Créditos

Imagem principal: Marcelo Naddeo

Arquivado em: Tpm / Beleza / Comportamento