Mandarava

A história da princesa super poderosa que o rei mandou queimar viva

por Elka Andrello em

 

Um dos lugares que eu mais gostei de conhecer na Índia foi Tso Pema, Lotus Lake. O lago fica na cidade de Rewalsar, no estado de Himachal Pradesh, e é um lugar sagrado para os budistas. Tso Pema ficou famoso porque foi onde o Guru Rinpoche, também conhecido como Padmasambava, mestre que levou o budismo da Índia para o Tibete no século oito, fez surgir um lago no local onde o enfurecido rei de Zahor mandou queimar Padmasambava vivo porque ele tinha transformado sua filha, a princesa Mandarava, na sua corsorte (companheira de meditação). O lago é cercado por monastérios, uma estátua gigante do Guru Rinpoche e no alto da montanha ficam as cavernas onde o Guru Rinpoche e a princesa fizeram retiro.

 

 

 

 

É tudo muito bacana, mas o que mais me pegou foi a caverna da Mandarava. A gente sempre ouve falar dos grandes feitos dos homens: Buda, Guru Rinpoche, Dalai Lama, mas e as mulheres? Quem são as super poderosas para a gente se espelhar? O que eu estou descobrindo por aqui são mulheres com histórias incríveis que viveram e ainda vivem na região, e Mandarava é uma dessas histórias. A princesa Mandarava viveu no século oito, na Índia, e era filha do rei de Zahor, hoje conhecida como a cidade de Mandi. Ela era famosa por ser muito bonita e recusou o pedido de casamento de vários reis para se tornar uma monja. A opção pela solteirice e pela meditação deixou o rei tão bravo que ele mandou prender a própria filha (um jeito bem radical de por de castigo). Um belo dia o guru indiano Padmasambava transformou a linda princesa na sua consorte. O rei, que não queria correr o risco de que sangue real fosse contaminado, mandou queimar vivos o Guru Rinpoche e a Mandarava. Padmasambava transformou sua pira funerária no lago Tso Pema. O rei imediatamente ofereceu todo seu reinado e sua filha ao guru indiano. Ele recusou o reinado, mas Mandarava ficou conhecida como a primeira consorte do Guru Rinpoche e juntos eles alcançaram grandes realizações.

 

 

Tudo bem que essa história pode soar para muitas pessoas como um conto ou uma lenda, mas para mim, sentada dentro da caverna onde a Mandarava meditou, serviu como uma reflexão sobre até onde somos o que as pessoas esperam da gente e até onde somos o que acreditamos ser melhor, e o preço que pagamos por isso. Bom, eu tenho uma filha e não casei e não acho isso o fim do mundo, troquei o trabalho no mercado de trabalho formal para ficar perto da minha filha enquanto ela é pequena, mudei para a Índia para ficar perto de grandes profesores budistas e ser correspondente, acho que viver em outra cultura é uma experiencia muito boa para a Graziela, e mais um monte de coisas. Mas principalmente, eu que sempre morri de medo de tudo, hoje tenho medo de deixar de viver uma história legal por medo, e isso é bem diferente de ser inconsequente, simplesmente significa fazer uma escolha diferente da padrão. Vi que as pessoas que amam a gente sem apego sempre estão por perto e felizes, apesar da distância. Sinto que ficar longe da “zona de conforto” e quebrar padrões e hábitos transformam a gente profundamente. Tento lembrar que não perdemos nada por sermos legais com alguém que pisou na bola com a gente. Caiu a ficha que não somos vítimas de nada e nem de ninguém, mas da projeção dos nossos medos e vontades.

 

 

**Para a Graziela que fez 3 aninhos hoje. Que essa menininha que já é sensacional seja uma mulher tão realizadora quanto a Mandarava. Tashi Delek!

 

 

 

 

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