Meu guru é um robô?

Ao lado de Ronaldo Lemos e Eduardo Suplicy, Lygia da Veiga Pereira fala sobre projetos alternativos para viver em sociedade

por Lygia da Veiga Pereira em

Essa semana participei de um evento em comemoração aos 500 anos do livro A Utopia, de Thomas More, que em 1516 questionou o modus operandi da época e falou de projetos alternativos para a sociedade. Na mesa, falamos eu, sobre a utopia da ciência, Ronaldo Lemos, diretor do MIT Media Lab no Brasil e colunista da Trip, sobre o impacto da inteligência artificial e robótica na sociedade, e o Senador Eduardo Suplicy, sobre programas de renda mínima.

“Meu Deus, que salada...”, pensei ao ver o programa. Pois não é que, sem sabermos a priori o que cada um ia falar, a salada ficou muito interessante?! Comecei falando dos avanços da genética e como o conhecimento do genoma humano e das células-tronco talvez nos conduza à vida eterna. Mas que, para vivermos eternamente, precisamos de um lugar para isso. E precisamos que os diferentes povos se entendam neste lugar. Daí, mostrei o contraste entre o avanço científico/tecnológico no último século com o atraso da consciência ambiental e social da humanidade, concluindo que o maior desafio para vivermos para sempre não está nas ciências biológicas/exatas, mas sim nas ciências humanas. Curiosamente, naquele dia o jornal Folha de São Paulo discutia uma declaração do Governador Geraldo Alckmin criticando a FAPESP por investir em pesquisa sem “efeitos práticos”, com sociologia. Francamente, Governador...

Em seguida, Ronaldo Lemos falou dos avanços da robótica e da inteligência artificial (IA), que estão aqui para ficar e dominar. Hoje, as duas tecnologias já realizam uma série de tarefas muito melhor do que nós humanos – inclusive, resolver a prova do ENEM.  E a tendência é ficarem cada vez melhor. Pois, em vez de temermos um cenário de Exterminador do Futuro, onde esses robôs se voltarão contra a humanidade, o temor muito mais real é o desemprego em massa que eles causarão – estima-se que até 47% dos empregos sejam extintos no mundo todo. Teremos mais eficiência, mas ao custo de uma ainda maior desigualdade social, já que os donos da tecnologia substituinte dos empregados serão aquele 1% de sempre. Então, como faremos para lidar com essa nova configuração das sociedades? E o que estamos ensinando as próximas gerações nas escolas? Tarefas melhor executadas por robôs? Ora, a educação atual deve focar no que somos superiores às máquinas: criatividade, imaginação, relacionamento humano.  Estamos fazendo isso?

Eduardo Suplicy pegou o bastão e falou então dos programas de renda mínima existentes em vários países e que ele defende há décadas. A ideia remonta aos tempos Antes de Cristo, quando algumas sociedades decidiram que a posse de terra para produzir gera desigualdade – e, logo, uma parcela daquela produção tem que ser repartida entre todos.  

O grande desafio do século XXI talvez seja entender a humanidade, encontrar soluções equilibradas e aprender a vivermos juntos em harmonia.

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