Livro aberto
Lieli Loures transformou seu diário pessoal em cartões-postais. Confira alguns deles aqui
“Eu fui porque queria ir embora.” Essa é a curta e sonora explicação da jornalista Lieli Loures sobre por que se mudou para Nova York em 2004. Mineira de Belo Horizonte, Lieli estava cansada. Recém-formada, em um trabalho que não gostava, “meio de saco cheio dessa história de escrever”, precisava mudar de ares, conhecer novos lugares e conhecer a si mesma. Ironicamente, assim que chegou na Big Apple, a coisa que mais queria fazer era escrever.
“Tinha muita insônia e ficava escrevendo. Fazia um diário, sem pretensão. Mesmo porque também não tinha com quem falar. Misturava um tanto de solidão, de saudade dos amigos e da família”, contou à Tpm, for telefone. Quando uma amiga comentou que “literatura tem que circular, não dá para ficar na gaveta”, resolveu divulgar seus textos.
Com a amiga Raquel Alvarenga, diretora de arte, descobriu o formato ideal para distribuí-lo por aí: cartões-postais. Fazia todo o sentido: “São contos, crônicas, textos que falam do dia a dia, como se eu mandasse notícias para casa”. Em Nova York, propôs a amiga artista plástica Inco Matsui que ilustrasse os postais. E foi assim que surgiu a série "Diário de Bordo", distribuída em alguns lugares de Belo Horizonte e na Mercearia São Pedro, em São Paulo, no ano de 2006.
Quando voltou à Minas, Lieli resolveu que continuaria contando sua saga nos postais, para mostrar tanto o processo de volta quanto a readaptação no Brasil. Depois de bater na porta de todos os lugares em que distribuía os postais e receber elogios mas nenhum patrocínio, conseguiu novos fundos apoiada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Burocraticamente, por Inco não ser brasileira, não poderia continuar ilustrando. Lieli aproveitou a boa recepção da primeira leva de postais na cidade e convidou ilustradores mineiros para continuar o trabalho.
A resposta ao projeto sempre foi boa, conta Lieli. Professores usaram os textos em aulas, como uma professora de teatro que propunha encenações em cima dos contos. Ficou sabendo de pessoas que receberam o postal em Londres, em Manaus e até uma colecionadora que sempre que encontrava os postais pegava dois – o segundo, mandava para um amigo na Austrália. Com a receptividade, percebeu que muitas pessoas gostariam de participar do projeto com seus textos. Que tal um diário colaborativo? “Por esses pedidos, pensei em fazer no próximo projeto algo como fanzine. Mas confesso que nesse formato de diário tenho um pouco de ciúme. Esse é meu sabe?”, ri.
Enquanto se aflige pensando em como será esse novo projeto, a autora se prepara para lançar a coletânea do "Diário de Bordo" em São Paulo e se foca em escrever seu primeiro livro de ficção – “O processo de criação é um pouco lento e doloroso”, diz, “você faz, refaz, faz de novo!”. E tudo isso sem deixar de continuar a produzir o programa Radiola, parceria do selo em que trabalha, o Trama, com a TV Cultura.
Aqui no site da Tpm, você confere alguns dos postais com os textos da mineira.