Katmandu é pop!

A fervilhante capital do Nepal é bem mais do que incensos, preces budistas e peregrinos

por Elka Andrello em

Toda sexta-feira à noite a mesma cena se repete: passo feliz da vida de salto alto ao redor da Grande Estupa de Boudha, bairro onde moro, no meio de monges, fumaça de lamparinas e incensos, rumo à pista de dança. Sexta-feira é o dia que Katmandu mais ferve, já que sábado é o único dia de folga na semana.

Katmandu é a capital do Nepal, uma cidade mágica, mistura de Salvador com Amsterdã. Bahia, porque aqui também tem todos os santos e aquele tempo próprio de fazer as coisas que o baiano tem e eu adoro. E Amsterdã, porque aqui tem gente do mundo todo, o tempo todo. As ruas estreitas de Thamel, bairro dos viajantes, são cheias de guest houses, cafés bacanas com wi-fi, livrarias, restaurantes, bares e…festas!

Vem para Katmandu quem quer se encontrar, se perder e morrer em paz. A cidade é a porta de entrada para todos os tipos de viagem: turistas que vêm conhecer a capital; aventureiros profissionais que buscam a conquista do Everest e das montanhas mais altas do mundo; refugiados tibetanos; monges que querem estudar em tradicionais monastérios; jovens do mundo todo que trabalham em ONGs; e pessoas que chegam até aqui para morrer.

Em Katmandu fica Pashupatinath, o templo hindu mais importante do Nepal e um dos mais sagrados do mundo. Cerimônias de cremação são conduzidas todos os dias à margem do rio Bagmati, ao lado de um templo de Shiva, o deus hindu da morte e do renascimento.

Além dos mantras
Difícil não gostar de um lugar que respira história e tradição e ainda tem rock’n’roll! E bandas de blues, jazz, ska, música sufi e DJs para todos os gostos. Incrível um país onde a rádio FM só foi liberada em 1990 ter uma cena musical variada. Toda noite tem música ao vivo. A noite começa cedo e oficialmente acaba à meia-noite. A polícia é bem rigorosa, fecha a balada e chega a prender os donos dos estabelecimentos que desrespeitam o toque de recolher. Para os que têm fôlego, os cassinos são legais e funcionam 24 horas por dia.

O Nepal faz fronteira com a China, fica entre a cordilheira do Himalaia e as florestas do norte da Índia. Exatamente aí, na fronteira com a Índia, Buda nasceu, em Lumbini. A cidade respira religião, em cada esquina há um templo. Tem também os templos de consumo, como lojas da Adidas e Pizza Hut, que ficam na avenida moderna da cidade, a Durbar Marg.

Tribos urbanas
E foi nessa avenida do burburinho que um elefante carregando uma bandeira nas cores do arco-íris puxou a Primeira Parada Gay do Nepal. O mamute gigante liderou uma massa de gays, lésbicas, transexuais e simpatizantes. Babado! Os transexuais estavam vestidos com roupas típicas de todas a etnias e castas que representam as mulheres nepalesas. Imagine que aqui é um escândalo beijar na boca em público. Assistir a uma parada como essa, na qual a alegria e o respeito deram o tom, serve de exemplo de liberdade de expressão para todo o mundo.

E eu, que não estou aqui só a passeio, me apaixonei pela cidade na qual sou espectadora de uma cena cultural que amadurece a cada dia e de tribos urbanas que aprendem a se expressar e a conquistar espaço e respeito.

* A paulistana Elka Andrello, 37, é videomaker e jornalista, mora há sete meses no Nepal, mas deixou o Brasil um ano antes para morar na Índia, com a filha de 2 anos, Grazi, hoje com 4. Ela conta suas experiências no blog Tashi Delek, no site da Tpm.

Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal
Crédito: Arquivo Pessoal
Arquivado em: Tpm / Viagem