João Paulo Cuenca
Entrevistamos o escritor carioca que lançou neste mês seu primeiro livro de crônicas
Bebericando com a cantora americana Cat Power, envolvido na análise do único casal que realmente se beija no Baixo Gávea ou empenhado em uma aula sobre Stendhal para curar as dores de amor nos tempos do funk e futebol, as crônicas de João Paulo Cuenca parecem um jogo em que o leitor olha para fora para ver o que há dentro. Recortes íntimos ou midiáticos, seus textos jogam luz constante sobre a condição da solidão humana. Não parece haver assunto sobre o qual o João não tenha capacidade de palpitar.
Neste mês, o autor lança A Última Madrugada (Editora Leya, 240 Páginas, R$ 39,90), sua primeira coleção de crônicas, todas publicadas em grandes jornais brasileiros entre 2003 e 2010. Com três romances publicados (Corpo Presente, de 2002; O Dia Mastroianni, de 2007 e O único final feliz para uma história de amor é um acidente, de 2010), o autor já teve seus trabalhos traduzidos em duas línguas e integrou antologias nacionais e latinoamericanas de novos escritores. Ele foi colunista da Tpm entre 2004 e 2006.
Nesta entrevista, conversamos sobre trabalho, as diferenças entre escrever crônicas e romances e sua visão sobre as mulheres, sempre muito presentes em seus textos.
Em muitas coisas que li sobre o seu trabalho você é apresentado como escritor que estudou
Economia. Ter feito essa faculdade pesa muito no que você escreve?
Absolutamente, não. Eu sempre fui ligado em literatura, música e cinema e resolvi estudar Economia como um meio de bancar uma vida desregrada após os 30 anos. Deu errado. Ou deu certo, só que de um jeito errado.
Você escolheu os textos que entraram no livro com que critério? São suas crônicas preferidas?
O principal critério foi o das crônicas continuarem conversando comigo e com o mundo anos depois de serem originalmente publicadas. Eu não queria nada cujo significado se encerrasse numa semana em especial, e sim que fosse perene. Espero que elas consigam passar pelo teste do tempo. A seleção se deu através de uma releitura intensa dessas crônicas que me tomou mais de um ano. Cheguei a ter três versões do livro, todas bastante diferentes.
Os temas de suas crônicas são bem variados. Na hora de escrevê-las você pensa no que o leitor gostaria de ler?
Não. Penso no que eu estou lendo do mundo que me cerca. E aí é questão de transmitir isso através do texto, que funciona como uma espécie de releitura pra mim.
Muitos textos seus falam sobre mulheres pelo ponto de vista de um observador distante, admirado e quase impotente. Existe algum motivo especial para isso? Como você vê a relação entre homens e mulheres hoje?
Discordo do distante e, principalmente, do impotente. Mas entendo o que você quer dizer: muitas vezes o narrador está às voltas com a impossibilidade da comunicação e do amor, o que é um dos principais temas da literatura de todos os tempos. Hoje, acredito que estamos mais perdidos que o comum, já que os papéis misturaram-se. Mas nada disso é exatamente ruim.
O que te inspira a escrever uma crônica e o que te inspira a escrever um romance? São processos com origens completamente distintas?
Uma crônica é um recorte urbano, uma idéia ou sentimento que te atravessa. Um romance é a tentativa de colocar uma questão através de um longo enunciado, que pressupõe a construção de um narrador e de uma arquitetura narrativa. São processos completamente distintos.
Quais os planos para este ano?
Terminar de escrever o meu romance novo e terminar de supervisionar a montagem e exibição dos capítulos do seriado Nada Tenho de Meu, mescla de documentário e ficção que escrevi e dirigi junto com a romancista Tatiana Salem Levy e o cineasta português Miguel Gonçalves Mendes e que foi fruto de uma viagem nossa à Ásia de 50 dias no início do ano. Ele vai ao ar no Canal Brasil a partir do segundo semestre.
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