Já engravidou hoje?

Leitores e leitoras do meu Brasil: para onde foi a etiqueta social?

por Tania Menai em

Leitores e leitoras do meu Brasil: para onde foi a etiqueta social? Excesso de curiosidade pode ser ofensivo

Papo de mulher: certa vez, estava no Rio de Janeiro almoçando com amigas em Ipanema. Uma delas mora lá desde sempre. Outra, apesar de carioca, cresceu nos Estados Unidos. Apresentei uma à outra, ambas recém-casadas na época. Foi quando a que mora no Rio virou para a outra e tascou a pergunta: “E aí, tá tentando engravidar?”. Gelei.A carioca-americana petrificou. Isso é pergunta que se faça a alguém que você acabou de conhecer? Aliás, isso é pergunta que se faça? Outra vez,em Nova York,aconteceu coisa similar: apresentei uma amiga que mora em São Paulo para outra, brasileira, que mora em Nova York.Meia hora de papo foi suficiente para a paulistana perguntar: “Você é casada há tanto tempo, não vai ter filhos?”. Bem, alguma razão – que não diz respeito a ninguém – deve existir. Leitores e leitoras do meu Brasil: para onde foi a etiqueta social?

Manual de etiqueta

Ao viver nos Estados Unidos há algum tempo, desacostumamos com esse excesso de curiosidade. Quando escuto perguntas do gênero, sinto como se um exército bárbaro estivesse invadindo o meu lar. Essa invasão faz parte da sociedade brasileira tão intensamente, que mesmo pessoas educadíssimas, como as minhas amigas citadas acima, não percebem a grosseria. Talvez as brasileiras que escutam a pergunta também não percebam – e pior, respondam. Em detalhes. O que é isso? Efeito Big Brother? O inglês Thomas Blaikie, autor de um guia hilário sobre etiqueta urbana, debate que fazer perguntas para recém-conhecidos como“o que você faz?”, “onde você mora?”,“onde seus filhos estudam?”ou “de onde você é?”pode ser ofensivo. Agora, imagina se passa pela cabeça dele que há quem pergunte: “E aí, tá tentando ter filhos?”. Assunto gravidez, que eu saiba, deve ser tratado com o marido e com o médico. Trata- se de uma mudança na vida que exige saúde, dinheiro, espaço e mais um mundo de questões que não cabem ser compartilhadas com a praia de Copacabana. Ou seja, nessas horas, engula a sua curiosidade, mude de assunto ou siga a dica de Thomas: quando não souber o que perguntar, fique calado. Silêncio vale ouro.

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