Homem não entra
Por meio do blog Torcida Feminina, mulheres loucas por futebol deixam sua marca nos estádios
É fim de tarde de uma quinta-feira em São Paulo e a entrada do estacionamento Vaz, na avenida Paulista, chama a atenção: sete mulheres se aglomeram ansiosas, falando alto sobre futebol, quase todas vestindo a camisa corintiana. Elas embarcam numa van, acompanhadas por um motorista e um segurança. Abrem as janelas e gritam, a plenos pulmões: “Aqui tem um bando de 'loco', 'loco' por ti, Corinthians...”.
Elas fazem parte de um grupo comandado pelo blog Torcida Feminina, criado há sete meses pela jornalista Eliane Sobral, de 45 anos. “Os homens relutam em aceitar que possamos entender de futebol. Eles não admitem que nós comentemos sobre tática, técnica. E, agora, temos um espaço para discutir a nossa visão dos lances, palpitar e torcer”, conta Eliane.
Formada apenas por mulheres, a equipe do Torcida Feminina comenta os resultados dos jogos de futebol, faz enquetes, esclarece dúvidas das leitoras, elege o “muso” do campeonato e até consulta mãe de santo para saber de antemão quem tem mais chance de vencer uma partida. Tudo com uma pegada bem feminina.
O blog tem dado certo – no mês passado, ainda sem patrocinador, recebeu 2 mil visitantes em apenas um dia – e o sucesso se deve principalmente ao serviço que a advogada Eliete, a irmã de Eliane, criou: um “leva e traz” para jogos de futebol. “Já levamos a jogos mulheres que nunca haviam entrado num estádio. Elas se emocionaram tanto com o jogo... Para nós, é gratificante”, diz Eliete, que tem 50 anos e o brasão do Corinthians tatuado na mão esquerda.
As irmãs, que desde criança gostam de futebol (eram levadas aos jogos pelo pai), preparam as idas aos estádios com muito capricho. Os ingressos – sempre referentes a cadeiras numeradas – são comprados dias antes pela dupla. O ponto de encontro é, normalmente, marcado horas antes do jogo. Lá, todas as participantes do "leva e traz" recebem um kit com camiseta do blog, barrinhas de cereal, capa de chuva e álcool gel. Além disso, são distribuídas fichas de papel que informam a situação em que estão os times que jogarão no dia, contêm explicações sobre o campeonato e os nomes – com as respectivas fotografias – dos jogadores. Um segurança sempre acompanha o grupo, o que deixa mais tranquilo até o clima dos clássicos futebolísticos, considerados perigosos.