Força feminina
André Arruda fala sobre suas fotografias de mulheres fisioculturistas e de preconceito
“Isso não é gente”. Essa foi uma das frases que o fotógrafo Andre Arruda ouviu enquanto começava o projeto "Fortia Femina", série de fotografias com mulheres fisioculturistas. Por situações como esta, a exposição que começa hoje, no Centro Cultural Justiça Federal no Rio de Janeiro, ganhou o subtítulo “Aceitação e preconceito”. Andre falou ao site da Tpm sobre como decidiu fotografar essas mulheres, as surpresas que teve no processo e os outros absurdo que teve de ouvir.
Como você se envolveu com esse universo de mulheres fisioculturistas?
Da maneira mais prosaica possível. Lá para 2003, 2004, num desses fins de noite, quando você vai dormir e fica zapeando a televisão, parei em um campeonato de body builder. Nunca me interessei, mas achei curioso ver uma categoria de mulheres, me espantou que elas pudessem ficar daquele tamanho. Achei interessante tanto sobre que tipo de mulher fazia aquilo e quanto qual seria o resultado desses corpos em fotografias. O impulso inicial foi fazer as fotos, mas a medida que fui fotografando, descobri esse universo muito próprio delas, e essa questão entre a aceitação e o preconceito em que elas estão, que virou, daí, o subtítulo da exposição.
E como você sentiu essa questão da aceitação e do preconceito?
Essa questão nem era o subtítulo, mas virou. Percebi muito preconceito, especialmente com as maiores. Até andando na rua com elas, os olhares são muitos fortes. Existem casos de agressão física, confundem com travestis. Para produzir esse projeto, eu ouvi comentários como "Isso não é gente”, “É um projeto de travestis?" ou então "Se você tivesse uma atriz da Globo no projeto seria mais fácil né?". E, quando começaram a praticar, elas eram ou gordinhas ou magrinhas, queriam modificar o corpo em busca de aceitação. Sempre que mudamos nosso corpo, é, de alguma forma, essa busca por aceitação. E a história delas com o espelho envolve isso e o desafio, de sempre querer mais.
Você se surpreendeu, enquanto produzia as fotos?
Quando fui conversando com elas, achei um universo muito particular, muito feminino, embora às vezes não pareça. Elas são absolutamente femininas e fazem questão de mostrar isso, até porque existe esse preconceito. E são muito legais, viraram minhas amigas.
Qual você espera que seja a reação das pessoas à exposição?
É muito importante abrir a cabeça das pessoas. Eu pensava, “Que imagem eu tenho de oferecer para as pessoas?”. O que as pessoas não querem ver, é o que eu quero mostrar. As pessoas me perguntam "Você gosta dessas mulheres?", como se fosse uma coisa “Você gosta de jiló?”. E não é uma questão de gostar ou não, é diferente, gostar vai além do que a pessoa imagina que é gostar.
Quais são seus próximos projetos?
Olha, foi um projeto que demorou muito pra maturar. Durante esse tempo, me incentivaram a fazer um outro livro, 100 coisas que cem pessoas não vivem sem. São cem brasileiros, famosos ou não, e seus objetos queridos, amados. Um amigo meu fala que tem “de puta ao João Avelange”, literalmente. O livro está pronto mas ainda não existe previsão. O das mulheres também, praticamente todo diagramado. Mas nunca tive nenhum apoio, fiz eles sozinho, então agora falta sentar e negociar para lançar.
Vai lá:
"Fortia Femina - Aceitação e Preconceito" no Centro Cultural Justiça Federal
Av. Rio Branco, 241, 2º andar, Centro, Rio de Janeiro
de 23 de Junho a 2 de Agosto
de terça a domingo das 12h às 19h
www.andrearruda.com