Filhos da revolução
Eles herdaram o espírito da tropicália e hoje fazem a cena musical de São Paulo ferver
ninaÉ IRMÃ DE.
Até cerca de um ano atrás, Nina Cavalcanti, 28, não sabia qual era sua profissão, apesar de ter começado a trabalhar aos 13 anos. Nascida no berço da MPB - é filha do compositor Péricles Cavalcanti e afilhada de Caetano Veloso -, ela começou como produtora dos amigos do pai ainda na pré-adolescência. Mas não tinha certeza de que estava no caminho certo. Tudo o que sabia era que queria trabalhar com música. Não tinha talento musical, mas levava jeito para organizar as coisas. Hoje, sabe bem o que faz e comemora isso.
Tá em casa
Depois de ralar como produtora e assistente de direção (como assina no próximo filme de Guel Arraes, Romance), Nina descobriu que pode ser diretora. É dela a gravação do making of do último disco da Nação Zumbi, Fome de Tudo, e o clipe da música "Contato Imediato", de Arnaldo Antunes. "Comprei uma câmera, comecei a editar em casa e vi que dava para unir música e criação."
No momento, ela dirige um programa com a banda Cachorro Grande,para a MTV,e coordena os vídeos do site Glamurama. O lado produtora não ficou de lado. Nina é a criadora do Selinho, um selo de bandas independentes e de vídeos, e se prepara para lançar o disco de seu irmão, Léo Cavalcanti, e o primeiro de Tulipa Ruiz (conheça os dois a seguir). Ela só não consegue produzir o trabalho do pai. "Com ele, sou muito crítica. Já trabalhar com o meu irmão é legal, até porque babo por ele."
.léo, QUE É PARCEIRO DE.
Será que é possível unir a vida boêmia de músico com a disciplina da ioga? Léo Cavalcanti, de 24 anos, acredita que sim. E tem sentido na pele que as duas coisas andam juntas.Ao mesmo tempo que faz formação em iyengar yoga, toca na noite de São Paulo, compõe e participa de shows de amigos. E se prepara para lançar seu primeiro disco pelo selo da irmã, Nina."As duas coisas têm super a ver. Para mim, tanto a ioga como a música têm como objetivo a transformação."
Caminho do meio
Em suas letras, Léo escreve coisas que aprende na ioga, e por aí vai. "O palco pode ser um local para uma espécie de meditação", explica. Mas não pense que o menino é encarnação de Dalai Lama. No palco, é divertido, solto e engraçado. Adora os holofotes."Preciso da energia do palco e desse aprendizado", diz. A relação de Léo com a música continua sendo autodidata, como sempre foi. Quando pequeno, ele ganhou um violão do pai (o compositor Péricles Cavalcanti) e começou a tocar sozinho. "Acho que tive essa facilidade por sempre conviver com pessoas do meio", explica. Mas ser filho de artista também tem seu lado ruim. "Uma época eu ficava pensando que devia fazer outra coisa, pois tinha optado pelo caminho mais fácil, ser músico em uma família de artistas." Por isso, se jogou em outra área de seu interesse: o autoconhecimento e as "coisas holísticas". Por enquanto, garante, consegue iogar e tocar numa boa.
.tatá, QUE CANTA COM.
Ele é querido e respeitado por dez entre dez pessoas da cena musical de São Paulo. Os críticos não têm pudor em dizer que Tatá Aeroplano, 33, é um dos novos talentos da música brasileira. Além de tocar em cinco bandas (as mais famosas são Jumbo Elektro e Cérebro Eletrônico), Tatá é compositor e letrista de mão-cheia. Deve ser por isso que,para surpresa do próprio,o disco Pareço Moderno, do Cérebro, lançado há três meses, já figura na lista dos dez mais do ano de muita gente."Esse disco é uma loucura. Nos convidaram pra tocar no Brasil inteiro", empolga-se Tatá, meio tímido, com seu sotaque interiorano. Ele é de Bragança Paulista, cidade onde guarda um monte de amigos.
Aglutinador
Tatá é um aglutinador de pessoas. Trabalha muito, marca shows, discoteca e vai falando "sim" para dezenas de projetos. Entre eles, está uma banda especializada só em fazer trilha sonora ao vivo para filmes mudos antigos, a Frame Circus. Sim, o cinema é uma das paixões do músico, que abre seu disco novo com a frase: "Gosto de cinema. Ponto". A secretária eletrônica de seu celular avisa: "Se eu não atendi, é porque devo estar no cinema". Ele já se aventurou na sétima arte. Ao lado do gaúcho Júpiter Maçã, amigo e ídolo, filmou Apartament Jazz, uma viagem experimental. Tatá, de fato, trabalha muito. E, como avisa no autobiográfico Pareço Moderno: "Caio na balada, admito, alimento meu espírito com litros de café e saio pra dançar".
.tulipa
Em 2004, Tulipa Ruiz foi com o irmão, o violonista Gustavo Ruiz, a um show do músico Tom Zé na Faap, em São Paulo. Na hora de ir embora, os dois pegaram o mesmo ônibus que Tatá Aeroplano, que puxou assunto. Começava aí a amizade e a parceria dessa santista com Tatá. Ela canta no disco da banda dele Cérebro Eletrônico, e pretende gravar composições do amigo em seu primeiro álbum, que deve ser lançado até o fim do ano. A música não é novidade na vida dela.
Raiz
Tulipa nasceu em família de artistas de contracultura. Seu pai, Luís Chagas, é guitarrista e tocava com Itamar Assumpção. E sua mãe, produtora e fotógrafa, mudou para o interior de Minas quando Tulipa era criança, levando junto a garota e o irmão. "Por isso me considero mineira", conta Tulipa, que voltou para São Paulo em 2000 com o irmão para estudar jornalismo. Mas ela gosta mesmo é de cantar e desenhar. Estuda canto lírico desde criança, quando ainda morava em Minas, e faz ilustrações para encartes de CDs e para a agência de comunicação em que trabalha. Tulipa também participa da banda do pai, a Pochete Set."Quando o assunto é música, dá certo entre a gente. Se rola barraco, é na vida real", diverte-se a garota, que, na volta a São Paulo, encontrou amigos de infância, como a cantora Anelis Assumpção, filha de Itamar. "A gente se conhece desde que nasceu e agora nós somos parceiras", conta a bem-humorada Tulipa.