Fernanda Lima

A apresentadora vive com Rodrigo Hilbert na casa que desenhou e diz que o caos lhe faz bem

por Milly Lacombe em

Ela desenhou a casa em que vive com os filhos e o marido, assim como parece ter projetado a vida que vem levando. Mais madura depois do casamento com Rodrigo Hilbert e à vontade no papel de mãe, Fernanda Lima fala de relacionamento, dinheiro – e de como o caos lhe faz bem

Fernanda e eu estamos conversando há quase duas horas no jardim da casa onde mora com o marido, o ator Rodrigo Hilbert, quando Francisco nos vê.Francisco é um homenzinho minúsculo, cabelos muito amarelos de fios longos, pele dourada e perninhas cheias de dobras. Da sala, onde estava acabando de almoçar na companhia do pai e do irmão depois de uma soneca, ele percebe a mãe sentada perto da piscina e se aproxima pela grama, com uma inseparável chupeta, andando como anda quem aprendeu a andar faz pouco tempo.

“Mamãe, qué mergulhá”, diz ele.

“Meu amor, você está pronto para ir para a escola, não dá para pular na piscina agora.”

“Mamãe, qué mergulhá”, repete, já tentando tirar a camiseta.

Fernanda olha em volta, como para se certificar de que não estamos sendo observados.

“Tá bom, meu amor, mas bem rapidinho, e sem a chupeta, e não conta para ninguém”, diz enquanto começa a tirar apressadamente o par de tênis, as meias e a bermuda do garoto.

De longe, e sem ver que Francisco está na piscina com a mãe, Didi, a babá, chama para ir à aula.

“Só um pouquinho, Didi, a gente deu um mergulho”, grita Fernanda antes de me dizer baixinho: “A Didi deve me achar uma retardada.”

E é nessa hora que chega João, igualmente prontinho para a aula.

“Mamãe, qué pular na piscina.”

Fernanda decide que a farra acabou. Seca rapidamente o cabelo de Francisco, coloca outra vez a roupa da escola e leva os dois pelas mãos para Didi poder conduzi-los. “A gente mergulha quando vocês voltarem da aula, tá bom?” Os dois correm para Didi, e Fernanda e eu retomamos o papo.

Ela me explica como a vida mudou com a chegada dos gêmeos, há dois anos e meio. “A gente fica em segundo plano, perna peluda e unha por fazer.” Aí conta que os dois voltam da escola às cinco e meia da tarde e, até às nove da noite, ela e Rodrigo só fazem ficar com eles. Pergunto como a nova rotina afetou o relacionamento. “Com filho pequeno, só se sustenta se o cara colocar a mão na massa, ou não tem jeito.”

João e Francisco começaram a dominar a linguagem falada e, com isso, acrescentaram mais uma variável ao desafio de educá-los. “Já formam uma mafiazinha, fazem birra juntos, já se comunicam. Ontem, ouvi os dois combinando de pular na piscina. Fiquei maluca. Dei a maior bronca: ‘Sozinhos, nunca! Sempre com a mamãe ou com o papai’.”

Para mostrar seriedade, os pais inventaram um castigo: um banquinho no banheiro onde fica quem fez o que não devia. Um dia antes de nosso papo, quem tinha ficado era o Chico Bento. “Perguntei para o João o que o Chico Bento tinha feito e ele disse: ‘Ele bateu em mim, mamãe’.” Fernanda se esbalda.

Rodrigo e Fernanda parecem à vontade no novo papel. Como os dois tiveram infância “pés descalços” – ele no interior de Santa Catarina; ela nas praias perto de Porto Alegre – querem que os filhos cresçam assim. Por isso, moram no Rio, numa casa com pomar, churrasqueira e piscina.

Delicioso caos

“Eu desenhei essa casa”, conta Fernanda. “Queria que ela ocupasse só um pouco do terreno e que sobrasse jardim.” O problema é que foi projetada para uma mulher solteira porque, na época, Fernanda e Rodrigo estavam separados. “Agora, meu quarto de ioga é o quarto deles, e tivemos que construir outra casinha [ela aponta para uma casinha que fica dentro do terreno], que é onde dormem a minha mãe e a mãe do Rodrigo quando vêm visitar.” A verdadeira casa da sogra. Fernanda ri e diz que, nos primeiros meses das crianças, “as sogras” moraram ali. “Elas ajudaram muito, mas depois de seis meses eu e o Rodrigo dissemos: ‘Gente, valeu, vocês foram ótimas, mas agora é a nossa vez’.”

O sol do meio-dia castiga, mas estamos protegidas dentro de um quiosquinho de madeira e palha que Fernanda e Rodrigo ergueram perto da piscina.

Fernanda, 33, é a filha caçula. Tem dois irmãos mais velhos – um, advogado, o outro, dentista. E ela sempre a menos certinha. “Eu roubava o carro do meu pai, colocava um boneco na cama, o Pablo, para fingir que estava dormindo, e saía com amigas”, lembra rindo. Para piorar, os irmãos, organizados e estudiosos, jogavam suas esquisitices à luz. “Eles me achavam maluca e, quando comecei a roubar o carro deles, começaram a me dedar.”

Cleomar, o pai de Fernanda, lembra da fase. “Na época, a gente colocava limites, mas sempre entendi que ela era uma mulher do século 22, cheia de vida, cheia de sonhos. Não tivesse aprontado, não seria a Fernanda que é hoje.” Para entendê-la, Mário Lúcio Vaz, diretor executivo da Globo, aponta um caminho: “Olhe nos olhos dela e duvido que você não a conheça de imediato”, aposta.

 

“Com filho pequeno, [o relacionamento] só se sustenta se o cara colocar a mão na massa, ou não tem jeito”

“Eu me entendo no caos”, diz ela. “Tem dias que eu trabalho aqui na piscina, cheia de papel, aí saio, dou um mergulho, volto. E o Rodrigo também é assim.” Por isso, precisou da ajuda de um dos irmãos organizados. “Eu morava em São Paulo, trabalhava na MTV, quando bateu pânico: ‘Não sei pagar conta na internet, não sei abrir conta em banco...’.” Ela ligou para Rafael, o dentista, e pediu ajuda. “Ele fechou o consultório em Porto Alegre e foi me organizar. O Rafa é um cara da comunicação, nunca entendi ele ser dentista, embora ele fosse ótimo, arrancou meus quatro sisos e eu não senti nada.”

Rafael, sete anos mais velho, hoje, além de organizador, é também sócio. “Eu não sei o que tenho, quanto tenho, não sei nada. Se ele quiser colocar tudo numa malinha e zarpar, nem vou saber o que levou”, diz. Rafael ri quando conto a ele o que a irmã disse. “Eu anoto tudo, ela vai saber sim.” E completa: “Me sinto como aquele equilibrador de pratos. Ela vai indo na frente, criando e aprontando, e eu vou atrás, tentando manter tudo no giro”.

Rafael mora em São Paulo e administra o restaurante e a casa de eventos que Fernanda abriu com ele e com os amigos Pedro Paulo Diniz, Helena Rizzo e Giovana Baggio, o Maní e o Manioca. Quando vai visitar a irmã, ele aguenta, no máximo, três dias. “Imagina o Rafa no meio dessa bagunça. Ele fica tentando arrumar tudo.”

A sócia Giovana, que conhece Fernanda há 20 anos e trabalha com Rafael no Maní, diz que a bagunça não a afeta tanto. “Como sócia, ela é ótima. Participativa, criativa, dá palpite no menu. É muito fácil lidar com ela.”

Fernanda começou a vida de modelo fotográfico aos 14 anos, quando fez uma capa da revista Capricho. Terminou o colegial e foi morar em São Paulo e viajar o mundo. Fase dura para os pais, que sapatearam entre a ideia de deixar ou não ela sair de casa. “Eu pensei o seguinte”, diz Cleomar, “sou apenas o pai dela, não o proprietário. Se fosse o proprietário, teria que impedir. Como pai, tinha que deixar voar. E eu sabia que ela voaria longe, mas nunca nos deixaria.”

Um dia, Fernanda deu uma entrevista para a revista Trip dizendo que estava cansada de fazer pose, queria mesmo era falar. Alguns executivos de TV leram e pensaram: se ela quer falar, pode ser aqui. Fez o Mochilão MTV como convidada, ganhou um programa ao vivo na Rede TV, o Interligados, e, na sequência, apresentou o Fica Comigo, outra vez na MTV. Aproveitou a fase para se formar em jornalismo.

Por essa época, conheceu Rodrigo, que já morava no Rio. Começo de relacionamento confuso. “A gente se gostava, mas queria curtir a vida. Ele é bonito, fica todo mundo em cima, e eu em São Paulo também saindo. Então, não tinha fidelidade.”

A fase durou até Fernanda entender que eles talvez acabassem se perdendo. “Ele começou a ficar com meninas conhecidas, saíam fotos em revistas, a gente ia se machucar se continuasse assim.” Foi quando ela colocou na cabeça que ia morar no Rio. Pouco depois disso, o telefone tocou. Era da Globo, queriam saber se ela toparia substituir Angélica, que iria entrar em licença-maternidade, no “Video Game”. “Eu disse: ‘Eu? Substituir a Angélica? Indo!’.”

Tinha de ser com você

Assim que chegou ao Rio, ela e Rodrigo grudaram. “Ele morava em Ipanema com amigos e a gente alugou uma casa no Recreio, bem perto da praia.” Mas o relacionamento entrou em crise quando ela foi convidada para fazer Bang Bang, novela da Globo. Trabalhando demais, muito criticada por ter topado encarar a protagonista logo em seu primeiro papel, Fernanda se complicou. “Fiquei quase um ano perdidona, e me sentindo sozinha sem ele”, diz.

Ela e Rodrigo acabaram se reencontrando em Pé na Jaca, outra novela global, e ali retomaram a parceria. Logo depois, vieram os gêmeos e trabalhos como o da série Amor & Sexo, que teve a primeira temporada na Globo de agosto a novembro de 2009 e estreia a segunda em fevereiro de 2011.

Assim, a vida finalmente entrou em fase de doce calmaria: “Brincar de casinha é muito legal”, diz.

ESTILO ROGÉRIO S. MAQUIAGEM ALÊ DE SOUZA PRODUÇÃO DE MODA MILTON CASTANHEIRA ASSISTENTES DE FOTO LEONARDO GRAF, FABRÍCIO PIMENTEL E LEO SALEMA TRATAMENTO DE IMAGEM HENRI JUNQUEIRA

PRODUÇÃO ANA LUIZA TOSCANO AGRADECIMENTO 1500 BRASIL FERNANDA VESTE VESTIDO BRITISH COLONY

 

Crédito: Murillo Meirelles
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