Felicidade em Berlim. Tapas na cara na volta
Foi um ano difícil.
Teve mudança de casa. Teve o fim da minha banda. O ex que reapareceu e eu achei que fosse se matar. Às vezes todas em que precisei mandar emails para os diretores das gravadoras. Sempre vai ser assim. Sempre chamaremos nossos chefes de diretores de gravadoras e sempre usaremos metáforas musicais. O blog era banda. O livro era disco. Eles são diretores de gravadora.
O ano foi tão difícil que eu fiquei doente. Não sabia se era da tosse ou do susto causado pelo cara que colocou uma faca na minha barriga para roubar meu telefone justamente quando eu falava com ele, assim, depois de muito tempo. Fiquei tão doente que decidi que precisava ficar feliz imediatamente. Comprei uma passagem (parcelada) e fui para Berlim.
Ninguém deve agüentar mais um texto sobre Berlim. Problema de vocês. Cada um ama a cidade que ama. E há cinco anos eu amo Berlim. E a visito todos os anos. Nos mesmos meses. O mês do meu aniversário. É o presente que me dou por estar viva. Por mais um ano. Depois de ter mudado, ficado com uma faca na barriga, ter acabado com a banda, conversado com muitos donos de gravadora etc. Além de tudo meu consultório andou muito cheio. Parece que todo mundo teve ano difícil também. E uma das minhas funções entre os amigos é essa. Atender. Não no sentido sexual (isso fica para um). Mas no sentido freudiano de casa de amiga da coisa.
Em Berlim eu pude voltar a ser feliz por estar viva. Porque mesmo duas semanas mudam a vida da pessoa. Deitava no parque, via a lua que parecia o planeta Melancholia. Tinha Encontros. Reencontrava os amigos. E voltava a dormir sono pesado. Sem tosse. Sem medo.
O choro começou dois dias antes de voltar. Como sempre. E como sempre eu comecei a fazer planos mirabolantes de como voltar (não para casa, mas para Berlim, no próximo ano). As pessoas que realmente amam Berlim são assim. Umas loucas que vivem parte do ano pensando em como conseguir passar mais tempo lá. Na verdade, pensamos nisso o ano inteiro. E sonhamos com a cidade. E choramos de saudade. Amamos a cidade como se ela fosse uma pessoa. E eu acho mesmo que ela é.
Soluço tanto no vôo de Berlim para Paris que esqueço que tenho medo de avião. Chego com a sacola cheia. Roupas baratas. Gatinho de porcelana. Amigos novos. E muita muita muita melancolia (dessa vez não o planeta, já que ele ficou em Berlim.)
No dia seguinte. Cedo. Começa tudo de novo. E eu volto a ter que ser a pessoa que bate o pau na mesa, se levanta, sacode a porra da poeira e briga para que dê tudo certo. Voltei. E não vou poder mais andar despreocupada olhando para a lua. Há muitas contas para pagar, dinheiro para cobrar, trabalho para fazer, medo da decadência (você tem que estar no “auge”) e todas aquelas coisas horríveis que o capitalismo coloca na cabeça da gente e a gente não consegue tirar.
Voltei e recebi um telefonema menos de 12 horas depois de sair do avião. O telefonema me lembrou do périplo do ano difícil e mostrou que o ano ainda não acabou. Mais périplo. Mais negociações. Mais voltas por cima. EU NÃO AGUENTO MAIS DAR A VOLTAS POR CIMA, OUVIRAM? As cobranças de entregas já chegaram histéricas.” Ei, gente, eu estava ali olhando a lua. Não to nesse pique.Calma! Quietos! Todos! “. Voltei levando tapa. Voltei com gente gritando no meu ouvido. E só consigo pensar em voltar de novo (para Berlim). Para a minha lua que parece o planeta Melancholia. Para o Meu café preferido. Para a Minha U8, para as MINHAS declarações de amor. Para a Minha versão mais legal da minha vida. Agora, só ano que vem. E para de chorar e vai trabalhar, minha filha! E se prepare para tomar mais uns tapas. Na cara.