Arte por mulheres

Exposição em São Paulo traz obras de cinco artistas mulheres "Há uma grande mudança em relação aos direitos conquistados por nós, mas ainda tem muita coisa para ser dita"

por Camila Eiroa em

No mês do Dia Internacional da Mulher, a CAIXA Cultural de São Paulo recebe a exposição Silêncio(s) do Feminino, com curadoria de Sandra Tucci. A partir do sábado, 12 de março, o espaço vai reunir obras de cinco artistas brasileiras que tocam nas dificuldades vividas pelas mulheres até hoje.

"Há uma grande mudança em relação aos direitos conquistados pelas mulheres, mas ainda tem muita coisa para ser dita. O que me chama a atenção nessas obras é a forma poética que as artistas tratam do feminino", conta Sandra, que também é artista plástica. Para ela, cada vez mais as mulheres ganham espaço nas galerias de arte. "Isso está melhorando cada vez mais."

Conheça o trabalho de cada uma das artistas.

Expurgos, Beth Moyses

Beth Moyses
Pela artista: "O trabalho foi elaborado depois de um sonho: que em minha palma da mão havia uma ferida, em forma de uma colmeia. Na ferida, purga mel no lugar de sangue. Costumo comparar a performance com as mulheres, com o coletivo das abelhas – uma sociedade em que todas trabalham juntas, cooperam entre si, dividem as atividades e são solidárias uma com as outras."

Pela curadora: "A Beth faz um trabalho social com as mulheres que sofreram algum tipo de violência da Casa Abrigo, de São Paulo. Então ela traz muito desse lado para o trabalho. A gente tem uma gravação inédita na exposição, de um padre dando conselhos para uma mulher que sofreu violência doméstica. É maravilhoso porque ele diz que o cristianismo não permite esse tipo de abuso."

Série Fired, Cris Bierrenbach

Cris Bierrenbach
Pela artista: "Enquanto frequentava a rua das noivas de São Paulo, comecei a flertar com uma rua vizinha, especializada em uniformes profissionais. Estas roupas se referem à idealização da realidade, como a construímos em função do lugar que estamos ocupando, em qual categoria nos encaixamos neste mosaico."

Pela curadora: "A Cris se retrata, é uma obra autorreferente. Ela questiona a identidade da mulher dentro da sociedade, o quanto usar um uniforme dá a nós poderes, ou não."

Lia Chaia
Pela artista: "O vídeo Glam, 2010 , trata do nu feminino, com a preocupação de expor o potencial da radical transformação do corpo da mulher. A mulher identificada imediatamente com a maternidade, indica o potencial afetivo e a capacidade de gerar e conviver com o outro."

Pela curadora: "É interessante porque é um  vídeo muito visto por homens e o que nos chama a atenção é que eles comentam falando que é algo sensual. Ela está mega grávida, sabe? Tem alguma coisa aí no meio, não sei se um desejo masculino, que eu não sei explicar. Ela está em um mar de lantejoulas vermelhas, faz um barulho de escamas."

Estudo para desenho de corpo feminino, Marcela Tiboni

Marcela Tiboni
Pela artista: "Aqui me alimentou a curiosidade de não ser só obra, só modelo, só desenhista, só artista, só fotógrafa, sou tudo isso ou nada disso. Meu corpo serve como suporte para a obra existir, os traços que são a base de um desenho pré-pintura se beneficia da vida própria do meu corpo."

Pela curadora: "Marcela trabalha bem a questão do bullying e da gordofobia, é um trabalho de autoconfiança. ela usa o corpo como suporte. É interessante notar que ao ver as fotografias, parece que seu corpo está marcado com traços de quem vai fazer alguma cirurgia plástica. Ela ficou surpresa com isso, não era sua intenção."

As filhas de Eva, Rosana Paulino

Rosana Paulino
Pela artista: "Penso que é importante refletirmos sobre o fato de que a população negra não tem, na grande maioria dos casos, como traçar sua origem. Portanto, a mulher retratada na imagem poderia, quem sabe, ser uma parenta distante da artista, por exemplo. Quem sabe uma bisavó, talvez..."

Pela curadora: "Ela trabalha principalmente a questão da mulher negra. Sendo mulher a gente já sofre, imagina a mulher negra? Não é fácil. O trabalho da Rosana é maravilhoso e é a primeira vez que vai ser montado em São Paulo. São registros antigos de um arquivo de quando os negros chegavam ao Brasil bordados em litogravura".

Vai lá: Exposição Silêncio(s) Feminino
Quando:
De 12 de março a 1 de maio
Onde: 
CAIXA Cultural São Paulo - Praça da Sé, 111 – Centro – Metrô Sé 
Quanto:
Gratuito

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