Eu cozinho, tu cozinhas...

Três mulheres contam como aprenderam ou recuperaram o prazer de cozinhar

por Gabriela Sampaio Fergusson em

Cozinhar pode ser muitas coisas. Uma obrigação. Um bicho de sete cabeças. Um grande prazer. Três amigas minhas, com histórias diferentes, me contaram como foi que aprenderem ou recuperaram a vontade de cozinhar. Se você não se anima ou acha que não nasceu pra isso, quem sabe não muda de ideia?

Olha a Estela, por exemplo. Ainda adolescente ela precisou assumir a cozinha. Faltava grana em casa, não podiam ter uma cozinheira e sua mãe, com quem vivia, não gostava mesmo do assunto. “Fazia arroz, feijão e bife e, de vez em quando, macarrão com brócolis. Nessas do macarrão, comecei a inventar e colocar tudo o que eu via na frente: azeitona, cogumelos, frios e legumes. Fazia isso com arroz também: a famosa gororoba”.

A Paula, que é redatora publicitária e tem 30 anos, pensava que cozinhar era só para os “talentosos”. “Na verdade eu tinha medo”, confessa. “E também achava que tinha que fazer curso para aprender”.

A Kelma, que tem 42 anos, cozinha todos os dias e adora. Cresceu vendo a mãe no fogão e sendo muito elogiada por isso. Aprendeu tudo no “olhômetro”. “Mas tive uma fase que parei. Na turma de amigos tinha outra "amiga" que cozinhava também. Eles ficavam falando que ela mandava bem e eu não sabia cozinhar. Claro que bodeei disso tudo”.

“Cobaia” de chef
O que para a Estela era obrigação mudou quando ela começou a namorar um moço que estudava Gastronomia. Ela tinha 22 anos e diz que o acompanhava na cozinha as invenções dele. Servia de assistente, cobaia e aluna, mesmo que sem querer. “Mas foi num Ano Novo que passamos em casa foi que me encantei de verdade. Nós fizemos uma ceia oriental: samosas, sukiyaki e uma salada tailandesa maravilhosaaa: filé mignon na salada fria e fruta com sal. Aquilo me encantou!”

O namorado-chef virou mais tarde pai do filho da Estela. “Com criança tive que esquecer as pimentas, muitos temperos e invenções a princípio. Mas depois fui adaptando tudo isso à minha nova rotina.” Hoje, aos 31 anos, a preocupação da pesquisadora é cozinhar todos os dias um menu variado e saudável para um menininho que, além de tudo, não gosta de legumes. “Congelo tudo o que for possível porque não tenho muito tempo. Não estou mais com o pai do Gabriel, mas ele sempre me ajuda a inventar algo novo. Quando não sei o que fazer eu ligo pra ele na hora!”

Praticar sem medo
A Paula se matriculou em um curso básico de culinária aos 20 anos e percebeu que cozinhar não é difícil coisa nenhuma. “ Vi que é questão de prática e de experimentação. No começo, você esquece mesmo de refogar a cebola antes de colocar o arroz. Depois, vai entrando no automático e você parte para ideias mais elaboradas.”

Hoje, morando com o namorado, ela cozinha quase todos os dias, especialmente nos finais de semana. “Gosto de experimentar com massas e molhos, então na minha casa tem macarrão quase todo dia!” O menu de favoritos dela também inclui wraps e sanduíches (“que não sujam a panela”). Nos dias inspirados ela faz pães e bolos pra perfumar a casa inteira.

Ampliar o repertório
Além de ser uma taróloga muito sensível e dedicada (dá só uma olhada), a Kelma é casada e tem um menino de 13 e uma menina de 4 anos. Aquele “bode” do passado foi rapidamente superado porque ela sentia falta do fogão (e percebeu que a amiga em questão não era tão talentosa assim…). No começo ela cozinhava o básico, mas depois do casamento se inscreveu em uma porção de cursos e ampliou ainda mais o repertório.

“Acho maravilhoso fazer coisas boas e saudáveis pra filho comer. Nada como fazer doce caseiro, inventar salada colorida e vê-los comendo bem. E o mais legal: eles curtem também”, conta. Em viagem com o filho mais velho a Paris, por exemplo, ela ficou feliz da vida de vê-lo experimentando pratos típicos sem medo.

Conselhos
E se cada uma delas tem sua história, seus conselhos para quem quer cozinhar mais ou voltar a curtir o assunto também são os mais variados.

A Paula, indica comer. Mas de um jeito diferente: “experimente sabores novos, sinta a textura dos ingredientes, seus cheiros e cores. Porque cozinhar é uma festa para os sentidos.O importante é você saber quais sabores, cheiros e texturas te fazem mais feliz.”

Se bater desânimo ou preguiça, Paula busca inspiração em outros cozinheiros. “Recorro a três dos meus heróis: Jamie Oliver, Nigella Lawson e Olivier Anquier. Enquanto cozinham, eles descrevem as cores e aromas com tanto amor e empolgação, que eu fico empolgada também. Daí, pego uma receita beeeeeeeeeeem simples de qualquer um dos três e repito até a exaustão. Ou até passar o bode. O que vier primeiro!”

Estela também acha que não há nada melhor do que estimular os olhos, nariz, paladar e curiosidade. “Acho que um bom conselho é ir na feira com calma, para sentir os odores, experimentar os sabores e perguntar sem medo. Uma das coisas que me dá mais prazer é comprar coisas que nunca vi na vida e tentar fazer. Hoje é um dia assim! Comprei raiz de bardana, espinafre e badejo. Já já vou me jogar na cozinha!”

E se Kelma funcionou a inspiração materna é isso que ela pretende passar para os filhos. “Minha mãe me ensinou a gostar e fazer com prazer. E eu quero muito passar pra frente do mesmo jeito. Pelo menos eles gostam... e o marido entra na dança!”.

(*) Gabriela Sampaio Fergusson é jornalista e redatora especializada em gastronomia. Mantém o tumblr Céu da Boca http://ceudaboca.tumblr.com. No Twitter: @gabisampaio

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