Esquisita e deprimida

Coisas que a pessoa é obrigada a escutar quando o time não é clasificado para a Libertadores

por Ana Manfrinatto em

Daí que ontem à noite eu fui conhecer o apartamento novo de uma amiga e, antes de pegar o ônibus e voltar para casa, resolvi comer um pedaço de pizza na Kentucky – uma pizzaria tradicional daqui onde você pode sentar numa mesa e comer quantas pizzas quiser ou também sentar no balcão e pedir apenas uma “porción”.

Pois bem, peguei meu pedaço de pizza de roquefort e procurei um lugar para sentar no balcão por entre os frequentadores deste setor do salão (que são, na sua maioria, homens). Enquanto comia estava vidrada na televisão que estava pendurada do meu lado esquerdo no alto da parede.

Na tela, algo tristíssimo: o finalzinho do jogo de ontem à noite (no qual o Palmeiras perdeu para o Goiás e ficou fora da Libertadores 2011) e a cena dos palmeirenses cabisbaixos deixando o Pacaembu em clima de velório. Como disse a Lia Bock, minha vizinha de blog, a depressão é verde.

E na minha depressão verde ainda tinha tango como música ambiente, “un bajonazo” como dizem por aqui. E enquanto eu tentava afogar a minha tristeza na pizza de roquefort, um menino sentado do meu lado disse: “vos sos rara, eh?” (algo como “você é esquisita”).

Eu: Por quê?

Menino: Mulher, sozinha comendo pizza e vendo futebol.

Eu: É que o meu time acabou de perder e de ser desclassificado da Libertadores.

Menino olha para a TV e diz: Qual é o seu time?

Eu, orgulhosa: Palmeiras!

Menino: Então você é brasileira?

Eu: Sim.

Menino: Ah… então tá explicado porque você é assim.

Eu: Dei um sorriso amarelo, comi o último pedaço de pizza, coloquei os talheres em paralelo e à direita do prato, peguei minha bolsa e minha jaqueta de couro e falei tchau.

Minhas conclusões no ponto de ônibus esperando o 29 foram:

A – Para este menino as argentinas são mulheres que não comem pizza sozinhas e que não vêem jogos de futebol.

B – Para o mesmo menino as brasileiras, sim, são mulheres que comem pizza sozinhas e que vêem jogos de futebol.

Ou seja… não importa! O que importa é que a depressão verde ao som de tango e longe da nação alvi-verde é ainda mais verde. Anyway, como diz a música, "ganhando ou perdendo não páro de cantar" e continuo torcendo, mesmo de longe, para o Palestra.

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