Flower Power

Determinada, “pero sin perder la meiguice jamais”. Assim é Maria Flor, que passou uma tarde de sábado provando camisetas, papeando e falando sobre paranóias femininas

por Noelly Russo em

Delícia de sábado à tarde é quando você encontra uma amiga e passa a tarde papeando para colocar a conversa em dia. Se esse bate-papo ainda contar com uma sessão de beauté, com direito a make e dicas exclusivas de como fazer uma boca natural e linda, melhor ainda. E se tudo isso acontecer numa tarde de sol, com umas comidinhas lights, e ainda terminar o encontro com a garantia de que outros virão, o sucesso foi total. Foi o que aconteceu quando a reportagem da Tpm recebeu Maria Flor para uma entrevista e uma sessão de fotos. Flor é aquela famosa que bem podia ser sua amiga: ela é linda, mas nada convencida. Tem uma conversa ótima, é culta, inteligente e vive uma vida interessante que dá gosto conhecer.

Piração de mulher
Ela aproveitou o final da novela Belíssima, em que interpretou Thaís, a bailarina que se deu mal na Grécia, para essa conversa em São Paulo. “A Thaís me deu muito trabalho para construir. É uma história séria, uma carga muito pesada, mas não podia ser 100% real, como seria no cinema. A Thaís está no horário nobre da TV e por isso precisa de uma amenizada. Achar o tom certo foi bem sofrido”, conta Flor, enquanto experimenta as camisetas feitas com exclusividade para esta edição pelo estilista Marcelo Sommer.
“Adoro o Marcelo. Liguei para ele e pedi para ele dar uma passadinha aqui. Olha que fofa esta! Tem tudo a ver comigo!”, diz, enquanto arranca a própria camiseta e veste o modelo da página ao lado. “100% Natural” é a frase da camiseta e resume um pouco o que Flor — de 22 anos, cabelos naturalmente cacheados, zero de maquiagem, corpinho de 45 quilos — pensa sobre o assunto. “Olha, eu adoro os meus cachos. Aprendi a valorizá-los. Produção para mim é uma ótima hidratação, um corte de cabelo bem-feito, proteger o rosto do sol e uma roupa boa”, resume.

“Não sou hipócrita. Claro que tudo fica mais fácil para quem é bonito. Mas eu acho que tem coisas para fazer antes de uma cirurgia. ”
Maria Flor

E quem não tem o rostinho de boneca, os olhos brilhantes e o sorrisão da Flor, como faz? “Não vou ser hipócrita. Claro que tudo fica mais fácil para quem é bonito. Mas eu acho que tem coisas para fazer antes de uma cirurgia. Aprender a usar o que valoriza você, por exemplo. Não tenho nada contra quem coloca silicone. Mas fico preocupada com garotas da minha idade e até mais novas que entram nessa. Entendo uma mulher mais velha que não queira ficar com o peito caído, como duas meias murchas. Mas são casos diferentes”, reflete. Uma das perguntas que tentamos responder nesta edição é para quem as mulheres estão colocando silicone. Para elas? Para eles? Maria Flor acha que é encanação nossa: “Acho que é uma moda e que é uma piração de mulher. Não acho que os homens estejam tão preocupados com isso. Essa história de celulite e de turbinar é coisa da gente mesmo”.

Cinderela
Depois de Belíssima, Flor vai encenar a peça infantil Por queEles se Casaram e Tiveram Muitos, da diretora Karen Acioli. Teatro adulto também está nos planos. “Mas acho que preciso ter mais bagagem antes de encarar jornal, crítica e toda essa pressão de ser uma dama do teatro, sabe? Para o segundo semestre estamos tentando colocar em pé A Mentira, do Nelson Rodrigues.”
Maria Flor também está no longa Pode Crer, da Conspiração Filmes, e vive uma arquiteta em É Proibido Proibir, que vai ser apresentado em festivais no Rio, em São Paulo e fora do país, como San Sebastian, Veneza e Toronto. “Esses dois filmes tratam de temas que fogem daquela coisa tradicional do cinema nacional. Favelas, crime ou Nordeste. Claro que esses temas devem ser discutidos pelo cinema, mas o Brasil tem outras coisas também, né?” Em Pode Crer, Flor é filha de pais exilados e volta com eles para o país depois do fim da ditadura, nos anos 80. Já É Proibido Proibir trata de um triângulo amoroso e do questionamento de jovens sobre suas escolhas profissionais e pessoais.

Cascudinhas
Flor é uma das melhores representantes de uma nova geração de atrizes que garante a sucessão de veteranas como Vera Holtz, que ela considera uma mestra. Como não começou na TV e tem um apego especial ao cinema, tem mostrado um trabalho consistente e faz escolhas mais originais do que a média das garotas- atrizes de sua turma. “Sabe o que eu queria mesmo? Interpretar uma princesa. Só pego garota cascuda! Eu queria fazer uma produção de época. Com vestidão, colo à mostra... Uma mocinha que suspirasse pelo amado.”
Bem, na ficção isso pode até rolar, mas a realidade não é bem assim. Apesar do nome meigo, da carinha de Branca de Neve (embora ela prefira a Cinderela) e do gestual delicado, herdado dos anos de balé clássico, Flor não é nenhuma flor. Virginiana, é determinada, cheia de opinião e segura sobre o que quer para si. “Sou determinada sim, pero sin perder la meiguice jamás”, brinca, enquanto avisa que os dois lados do penteado não estão simetricamente coerentes.
Empolgada com a sessão de fotos e os looks, ela perde o horário do vôo e se apressa. “Não gosto muito de atrasos, isso foi uma coisa que o balé me ensinou, a ter disciplina e responsabilidade.” Assim que coloca sua própria camiseta, pula de volta para a cadeira do maquiador e finaliza o make para chegar ao Rio pronta para um casamento que aconteceria no começo da noite. “É só colocar o vestido e pronto! Nossa, ficou tão bonito esse make!” Telefones trocados, damos tchau e beijinhos. Como se fossemos nos ver dali a pouco tempo. Tomara, porque a gente fica com saudade das amigas.

Créditos

Imagem principal: Marcos Vilas Boas

Produção de moda Paula Gugliano Assistente de fotografia Odara Carvalho Maquiagem Rafael Guapiano

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