Com amor, com axé

Emanuelle Araújo atua em três novos filmes, além de disco em que canta Jards Macalé: "Temos que consagrar alguém libertário como ele"

por Manuela Aquino em

Crédito: Bispo/Divulgação

"Quero viver sem grilos." Não foi à toa que Emanuelle Araújo, uma otimista incansável, escolheu a música do cantor e compositor Jards Macalé para dar nome ao seu novo disco. Para ela, o álbum com canções dos anos 70 de Macalé (seu segundo trabalho solo) chega no melhor momento – a previsão de lançamento é novembro: “Homenagear esse artista libertário é um sonho antigo, que tem tudo a ver com o momento em que vivemos”. Também em novembro, ela e a banda Moinho farão um show para celebrar seus 15 anos 

Como de costume, Emanuelle, 43 anos, intercala projetos de música e artes cênicas. O disco, gravado nos Estados Unidos, marca o fim de sua participação em Órfãos da terra, novela da faixa das 18h da Globo.

Para o próximo ano, três novos filmes estão previstos. “Comecei em um grupo de teatro na adolescência onde cantava, dançava e interpretava. Cantar e atuar sempre estiveram lado a lado. Equilibro as carreiras com muita vontade, amor e jogo de cintura”, conta em papo com Tpm sobre seu momento de vida.  

Tpm. Na novela Órfãos da terra, você vive uma mulher que conseguiu reconstruir a vida depois de sair de um relacionamento abusivo. Como você avalia o papel da mulher hoje?
Emanuelle Araújo
: A Zuleika [sua personagem na novela] é uma feminista intuitiva, que percebeu aos poucos seus direitos como mulher. Ela se separou e viu, por exemplo, o que não queria em seu novo relacionamento. Ela não tinha uma cultura feminista dentro de si, mas uma rebeldia por não se enquadrar nos padrões machistas. Acho muito importante qualquer movimento em que a gente possa fortalecer as diferenças, a possibilidade de cada um ser o que se é com toda sua potência. Depois de tantos séculos de repressão à mulher, é fundamental que nossa voz esteja forte e que as pessoas escutem nossos anseios.

Crédito: Bispo/Divulgação

Assim como a personagem, você foi mãe cedo, aos 17 anos. Como foi essa experiência? Passei a ter que pensar na vida de maneira mais profunda e a maternidade me deu forças. Tive responsabilidades profissionais muito rapidamente e isso me deu estofo para que eu conseguisse entrar na vida adulta, mesmo sendo jovem. Valeu, pois minha filha é uma mulher de 25 anos maravilhosa, uma psicanalista incrível, com personalidade. Olho para ela com muito orgulho, trocamos muito amor e afeto, as duas coisas em que mais acredito na vida.

Seu pai faleceu em fevereiro. Como você lida com momentos de altos e baixos? Meu pai era a coisa mais importante da minha vida, senti a ida dele de maneira muito forte e profunda. Quando fico triste, me permito ficar triste, choro quando sinto vontade. Sou uma pessoa que busca viver com alegria e minha arte está me impulsionando. Temos vividos muitos lutos neste ano e o que ajuda a superá-los é colocar a vida para frente.

Crédito: Bispo/Divulgação

Você vai lançar um disco com canções de Jards Macalé, compostas nos anos 70. Por que a escolha? Presto essa homenagem à um artista que tem um papel importante na canção popular brasileira pela sua personalidade, sua alma cheia de liberdade. Neste momento, temos que consagrar alguém libertário como ele. Gravei este projeto em duas semanas, em Nova York, com músicos não tão próximos à obra de Macalé, justamente para captar sua energia. Fizemos tudo de acordo com a vibração que ia circulando pelo estúdio. Agora, na pós-produção, vamos colocar a percussão da Lan Lanh e o Kassin vai finalizar.

Como você analisa o momento atual, com cortes de incentivos para as artes e censura? Acredita em uma melhora? Para termos pensamento positivo, é preciso indignação: questionar e debater aquilo que percebemos não estar coerente. Vivemos, sim, tempos conturbados e não dá para dizer somente: "Ah, é difícil". Precisamos pensar em transformar a realidade com nossas atitudes, arregaçar a manga. Acredito que posso fazer isso com minha arte, divulgar o que acredito e pensar na coletividade.

Como você avalia seu papel nas redes sociais? Uso minha rede social para falar sobre o que eu acredito, não para exibir meu dia a dia. Não quero que saibam do meu cotidiano, procuro passar afeto e divulgar minhas ideias, mesmo que seja em uma foto da natureza ou com a minha filha. O que mais me interessa é mostrar a energia que quero cultuar no mundo, do amor, da igualdade. Vemos as pessoas muito distantes, julgadoras, colocando tudo em prateleiras, mas nossa energia é universal.

Emanuelle cantou com o Samba das Flores, na Casa Tpm, em agosto passado - Crédito: Agência Ophelia

 

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