Em que momento da vida você se sentiu mais poderosa?
Fizemos essa pergunta para mulheres bem poderosas. Aqui, as respostas
“Influenciar é mais importante do que ter poder. Quando falamos algo inspirador, tocamos o ouvinte no coração. Atribuímos sentido ao que dissemos e o exemplo vai para a vida diária. Sinto-me feliz por ter sido uma precursora e por ter visto a ascensão das mulheres executivas no Brasil. Na época em que ingressei no mercado de trabalho, eram poucas as mulheres em cargos de liderança, principalmente no setor hoteleiro. Me recordo da primeira vez que falei sobre o conceito de alma, ou seja, entender a essência de suas expectativas. Abordei o assunto em uma palestra há 16 anos, para uma plateia com grandes líderes, em sua maioria homens. Havia um olhar de incompreensão, um assunto que parecia sentimental demais – feminino. Anos depois, um executivo de uma grande empresa abriu um evento com palestra sobre o tema, que se popularizou gradativamente. Inspirar as pessoas é algo que me faz feliz.”
Chieko Aoki, 64 anos, presidente da Blue Tree Hotels, uma das maiores redes hoteleiras do Brasil
“A pessoa mais poderosa é aquela que tem poder sobre si mesma. Que tem autonomia e capacidade de seguir seus instintos, desejos e objetivos de maneira simples, sendo sincera consigo e com os outros. Sendo livre, não se deixando reprimir ou amedrontar. Dito isso, acho que a última vez que me senti bem poderosa foi há algumas semanas, quando fui escolhida por uma agência britânica para dirigir uma campanha internacional de uma marca de cosméticos. Sabia que um grande amigo tinha acabado de ser nomeado diretor de criação dessa agência. Por isso, quando recebi o pedido de orçamento, escrevi para agradecê-lo pela indicação. Minha surpresa foi saber que ele ainda não tinha começado no emprego novo, que não tinha sequer conhecido sua equipe e de maneira nenhuma havia me indicado. Fiquei muito feliz. Fui escolhida pelo meu portfólio, simplesmente. Desde adolescente, sonho em ser diretora. E hoje posso dizer que é isso que sou. Não existe poder maior do que aquele de ser quem você quer ser.”,
Vera Egito, 32 anos, cineasta. está desenvolvendo o longa-metragem Maria Antônia, sobre o movimento estudantil durante o regime militar
“Foi quando dei uma palestra no MIT, o maior e mais importante centro de tecnologia e de comportamento digital do mundo. O MIT tem as maiores cabeças, pensadores, professores e pesquisadores da área. Nunca iria imaginar que seria chamada para falar lá por conta do meu trabalho com a internet. Me senti muito poderosa e muito feliz de poder compartilhar um pouco do que sei com gente que admiro pra caramba.”
Bia Granja, 32 anos, idealizadora do festival youPIX, que discute a internet brasileira
“Me senti poderosa na primeira vez que negociei meu salário com meus chefes. Eu tinha 20 e poucos anos e trabalhava como atendimento em uma agência de publicidade londrina. Tive uma reunião com o diretor de atendimento e o diretor-geral da agência. Entrei lá sabendo exatamente quanto eu queria ganhar e eles me passaram um número que era, simplesmente, mil libras menor. Eu nunca tinha negociado meu salário antes, mas sabia que deveria e comecei a falar. Foi como uma experiência extracorpórea. Estava tão nervosa, minha voz parecia distante e eu mal sabia o que estava dizendo, simplesmente a fala foi saindo, mas me fiz entender. Então, veio um silêncio. Os dois homens se entreolharam e pediram para eu esperar fora da sala por 5 minutos. Quando voltei, eles disseram que elevariam meu salário ao valor que eu tinha pedido. Me senti incrível! Desde então eu tenho estimulado todas as mulheres a negociar seus salários e pedir o que elas realmente valem.”
Cindy Gallop, 54 anos, premiada publicitária inglesa e criadora do site Make Love Not Porn
“Efetivamente nunca me interessei pelo poder oficial. Se algum poder me importa é o poder que a palavra tem de fazer pensar, ver de outro jeito, abrir possibilidades. Mas, como escritora, só intuo e desejo que minhas palavras atinjam esse objetivo. No entanto, estive por um pequeno período muito próxima, justamente, do poder oficial. Fui secretária de Cultura em Curitiba, em 1993. Aceitei o convite não pelo cargo, mas pelo que eu, ingenuamente, acreditei poder fazer pela cultura da cidade. Consegui muito pouco, muito menos do que eu pretendia. E, de certa forma, sinto como o período em que fui destituída do poder mais importante de todos, o da minha independência, da liberdade de me vestir, agir, falar e ser o mais próximo possível da minha natureza. Em vez disso, sentia que ninguém mais me via como uma individualidade e sim como uma entidade, um cargo, uma função. Foi doloroso, mas teve um saldo positivo: me desfiz de muitas ilusões que só me atrapalhavam. Felizmente durou pouco, apenas meio ano, a fase em que tive menos poder.”
Alice Ruiz, 68 anos, escritora e compositora. Tem 22 livros publicados, incluindo Dois em um, que recebeu o Prêmio Jabuti de Poesia em 2009
“Tive gêmeos há 22 anos e foi o momento em que me senti mais poderosa. Não por coincidência, foi quando mudei minha vida. A maternidade traz empoderamento. Eu não sei se é instintivo, mas sei que tiramos força de onde achamos que não temos. Existia uma necessidade de tudo dar certo, e não era mais só por mim. Fiquei mais corajosa e determinada e minha vida deslanchou. Fui empreender, virei executiva de verdade. No maior dos meus sonhos, nunca imaginei chegar aonde cheguei. Quando as crianças tinham 2 anos, terminei um casamento de mais de 11 anos que não era bom pra mim. Essa coragem veio da maternidade. Eu sentia que podia, sim, sair daquela relação. Vendi meu empreendimento por um dinheiro ótimo; virei executiva da Accenture, onde fiquei por 15 anos, e fui a primeira sócia da empresa na América Latina; mais tarde, me tornei a primeira executiva mulher no grupo Itaú. Quando você tem poder interno, as coisas acontecem. Eu sempre quis ter poder para ter liberdade, não era só por dinheiro. O mais importante é ser livre pra fazer o que dá vontade.”
Denise Damiani, 56 anos, sócia da Bain & Company que presta consultoria financeira exclusivamente para mulheres há dez anos