Selvagem corpo de mulher

Quatro espetáculos de dança e performance que (re)pensam o feminino e o corpo da mulher participam de mostra no Sesc 24 de Maio

por Nathalia Zaccaro em

A ideia de que o corpo da mulher é moldado a partir de si mesmo, e não em contraposição ao outro, dita a exibição Rumo ao corpo selvagem, que reunirá espetáculos e performances para (re)pensar o feminino e seus desdobramentos, a partir deste fim de semana, no Sesc 24 de Maio, Centro de São Paulo.

Emprestado do livro O pensamento selvagem (1962), do antropólogo Claude Lévi-Strauss, esse conceito de corpo primitivo está nas quatro apresentações da mostra. “São espetáculos que inovam em linguagem. Todos de coreógrafas e perfomers que pensam o feminismo em suas obras e questionam a dramaturgia tradicional, a velha lógica do 'início, meio e fim'”, explica Ana Andrade, curadora do Sesc.

Quiero hacer el amor provoca comparações entre as curvas dos corpos e dos edifícios - Crédito: Mayra Azzi/Divulgação

Quem puxa a fila, no dia 21, é a performer Carolina Biachi, apresentando Quiero hacer el amor, uma pensata sobre a aproximação sexual entre as mulheres e a cidade que provoca a comparação entre as curvas dos corpos e dos edifícios. Ainda no sábado, as artistas Elisabete Finger e Manuela Eichner estreiam Monstra, um compilado de 20 unidades coreográficas independentes, mix de dança e artes visuais, que sugere a ideia de que rupturas originam novas comunidades em busca de sobrevivência. “Tem muito a ideia do corte, de corpo deformado. Você olha e não sabe de quem é aquele pé, por exemplo”, explica Manuela.

Inspiradas pela música Horses in my dreams, da britânica PJ Harvey, Josefa Pereira e Patrícia Bergantin refletiram sobre o imaginário que divide os conceitos de cavalo e égua. “A força e a potência do animal são sempre atribuídas ao macho, enquanto as característica da fêmea são pejorativas”, diz Josefa.

Espetáculo Égua foi inspirado pela canção Horses in my dreams, da britânica PJ Harvey - Crédito: Miacela Wenicke

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É sob essa ótica que a obra questiona o quanto mulheres se permitem entrar em contato com a própria força, com o ser-animal e com o ideal de selvagem, ou seja, a possibilidade de se moldar conforme suas próprias experiências. Batizado de Égua, o trabalho da dupla será apresentado no dia 25.

Fechando a programação, Clarissa Sacchelli estreia A Coreógrafa, espetáculo que joga luz sobre a imagem de mulheres da história da dança. “É uma discussão profunda e linda sobre a possibilidade de criar o novo a partir da divisão e multiplicação de células já existentes”, explica a curadora, Ana Andrade.

A obra Monstra sugere conjuntos de mulheres-planta, construindo a cada novo corte uma estranha totalidade - Crédito: Debby Gram

“É tão importante que todos esses trabalhos estejam articulados, colocando a discussão do feminino em evidência. Múltiplas abordagens enriquecem demais a discussão”, avalia Josefa. Reinventar a compreensão do feminino é, pra dizer o mínimo, desafiador, mas somar vivências com outras mulheres que se dispõem a compartilhar suas conclusões – ou mesmo suas dúvidas – pode ser bastante revelador.



Vai lá
: 21 a 28 de outubro. Sesc 24 de maio(R. 24 de Maio, 109 - República, São Paulo). Ingressos à venda no site.

Créditos

Imagem principal: Debby Gram

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