Em busca da autoestima possível

Por que se perceber de maneira positiva pode ser difícil? Conversamos com especialistas para entender as armadilhas da autoestima e os caminhos para ter uma relação saudável com nossa imagem

apresentado por OX

O que vem à sua cabeça quando pensa em autoestima? A maneira como você se enxerga, o quanto você se ama, as avaliações positivas que faz de si mesma? Cabem muitos conceitos dentro dessa palavra – e ela pode dizer mais sobre a gente do que você imagina. A autoestima nada mais é do que a capacidade que temos de reconhecer nossas qualidades. Mas por que se perceber de maneira positiva pode ser tão difícil? Associar autoestima à aparência e à identificação com aquela beleza cercada de padrões e prisões é um dos grandes motivos. “As pessoas veiculam sua felicidade ao que se vê no espelho, à balança", diz a nutricionista e especialista em transtornos alimentares Manoela Figueiredo. "Eu prefiro um significado mais ligado ao autocuidado.” A psicóloga Joana Novaes, Coordenadora do Núcleo de Estudo das Doenças da Beleza, da PUC-RJ, também acredita que o conceito precisa ser desvinculado do ideal de beleza. “A gente vive em uma sociedade do espetáculo, narcisista, então proponho pensar na autoestima além e analisar quem você é, o que se tornou, qual é seu propósito’', diz.

A nutricionista Manoela Figueiredo acredita que a chave da autoestima é ter uma relação de equilíbrio com a comida. Um dos caminhos é o mindful eating, para que o momento da refeição seja focado e prazeroso. - Crédito: Divulgação

Qual caminho seguir
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, ter uma percepção mais ampla da autoestima ajuda a cultivá-la. Desviar o foco dos padrões, cuidar de si, olhar suas qualidades e ser menos dura com críticas internas são caminhos possíveis para a busca do amor-próprio e da admiração pelo que somos, ou seja, da autoestima em sua essência. Ela cita a geração 50+ como um bom exemplo. “Vejo que as mulheres a partir dessa idade são mais felizes, pois ligaram o botão do 'não tenho mais tempo’. Então, por que não começar esse exercício agora?" Segundo Mirian, o primeiro passo é se perguntar: onde essa jornada pode começar, caso eu não esteja feliz comigo mesma. A psicóloga Joana Novaes acredita que há alguns caminhos para construção e recuperação da autoimagem e do amor-próprio para quem não se sente bem na própria pele. “Primeiro um trabalho interno, se possível em terapia, de autoconhecimento, para haver um resgate do que importa, de valorização de suas ações e do que você é além da estética”, diz.

Autora dos livros A invenção de uma bela velhice e Liberdade, felicidade e foda-se, Mirian Goldenberg é antropóloga e referência em assuntos como autoestima e etarismo e seus impactos no público feminino. - Crédito: Divulgação

Plantando a semente
Cuidar da maneira como olhamos para nós mesmas é importante, mas não é tudo. O modo como lidamos com as crianças, as palavras escolhidas nos diálogos e o exemplo que oferecemos influem diretamente na percepção que elas terão lá na frente sobre si mesmas. “Os adultos focam elogios na beleza, pois este é um valor importante para nossa sociedade. Uma mulher pode ter conquistado tudo o que a sociedade machista espera – ser uma executiva competente, casar, ter uma família –, mas, se ela está gorda ou com cabelos brancos, não é vista como um caso de sucesso”, diz Joana. Se isso for passado para as crianças, depois fica mais difícil construir uma relação saudável com a autoestima. Uma pesquisa da organização australiana Pretty Foundation, feita em 2019, mostrou que 34% das meninas de 5 anos fazem algum tipo de dieta, enquanto 38% se dizem insatisfeitas com o próprio corpo. “Apontar que a criança engordou, o tanto que ela come ou fazer elogios baseados na estética tem um impacto enorme na fase adulta. É preciso atentar: o que eu mostro como sendo valores importantes? Sucesso, beleza ou o que você se tornou?”, diz Manoela Figueiredo. Alguns cuidados que servem de alerta para os adultos também farão com que as próximas gerações se sintam mais confortáveis e felizes sendo quem são.

Joana Novaes é psicóloga e coordenadora do Núcleo de Estudo das Doenças da Beleza, da PUC-RJ e estuda o impacto das pressão estéticas em nós mulheres há mais de 25 anos. - Crédito: Divulgação

 

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