É tempo de celebrar a poesia marginal de Ana C.

Homenageada na Flip 2016, Ana Cristina Cesar ganha lançamentos imperdíveis e segue inspirando novas gerações

por Natacha Cortêz em

Ana Cristina Cesar nunca foi tão celebrada. A carioca, musa da poesia marginal da década de 70 que se matou aos 31 anos, é a segunda mulher – Clarice Lispector foi a primeira, em 2005 – a ser homenageada pela Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), tem uma lista de livros comemorativos a serem lançados e coleciona herdeiros confessos de sua obra. Paulo Werneck, curador da feira, confirma o encanto de Ana na nova geração. “Se você for ler as jovens, muitas beberam na fonte dela, que nos deixou uma obra densa, pulsante, que conquista leitores em todo mundo”. Armando Freitas Filho, guardião da obra da poeta, discorda que haja novidade no atual furor. “Não se traz à tona quem está surfando à toda desde que morreu. Ela é uma morta-viva atuante. É uma das poetas mais vivas da poesia brasileira.”

Ana Cristina Cesar, s.l., fev. 1983 Fotógrafo não identificado / Acervo Ana Cristina Cesar / IMS

Para ver
Inconfissões - Fotobiografia de Ana Cristina Cesar
Com documentos inéditos e fotos do acervo de Ana (como a desta pág.), reunidos no Instituto Moreira Salles, o livro organizado por Eucanaã Ferraz mostra recortes pouco conhecidos da poeta. A obra foi estruturada em ordem cronológica inversa: começa com a última foto de Ana e volta até a primeira, quando ela posa no colo dos pais.

Vai lá: Inconfissões, IMS, preço sob consulta

Inconfissões

Quem bebe da fonte

As jovens poetas que se inspiram em Ana C.

“Os poemas de Ana têm um tom próximo e que chamam para a conversa; ao mesmo tempo, têm algo de enigmático, de fragmentado e entrecortado. Além disso, não correspondem formalmente ao que se espera de um poema, eles incorporam outros gêneros, transbordam do verso para a linha e se misturam ao longo do livro.” Marília Garcia, autora de 20 poemas para o seu walkman e Um teste de resistores (7Letras)

“Ana C. te toma de assalto. O texto te convida e te expulsa, te conta e omite, faz sentido e enlouquece. De uma habilidade circense com a linguagem, que torce, estica, puxa e escreve com a fluência de quem pensa alto. Mas então você lê outra vez e desconfia. É nesse momento que percebe: ela te pegou.” Laura Liuzzi, autora de Desalinho (Cosac Naify) e Coisas (7Letras), que será lançado na Flip

“É um poesia meio maluca, desviante, que nos faz, como Ana dizia, ‘pirar um pouco, sair dos eixos’. Tem a ver com o modo com que ela brinca com as elipses, as rasuras, as subtrações de palavras. Com ela aprendi a ter cada vez menos medo de não fazer sentido. Uma liberdade de escrita que, em minha poesia, se traduz num descompromisso com a linha narrativa.” Annita Costa Malufe, autora de Fundos para dias de chuva e Quando não estou por perto (7Letras)

Ana Cristina Cesar, Rio de Janeiro, 1982 - Crédito: Fotógrafo não identificado / Acervo Ana Cristina Cesar / IMS

Para ler
Correspondência incompleta
Para Ana, a correspondência era mais do que comunicação entre amigos, era “uma criação literária de onde tirava um prazer enorme”, conta Heloísa Buarque de Hollanda, amiga íntima, ex-professora e a primeira a publicar a poeta. Correspondência é organizado por Heloísa e Armando Freitas Filho.

Vai lá: Correspondência incompleta, por Ana Cristina Cesar, ed. e-galáxia, R$ 12 (e-book)

Correspondência incompleta

O sangue de uma poeta
Italo Moriconi escreve a primeira biografia de Ana Cristina Cesar, que é também um desenho da geração da poeta. No livro: a vida na Inglaterra; as vivências da luta contra a ditadura; o método de composição de Ana; a intensidade produtiva e reflexiva que marcou toda a sua vida.

Vai lá: Ana Cristina Cesar – O sangue de uma poeta, e-galáxia, R$ 12 (e-book), R$ 30 (edição impressa limitada e exclusiva para a Flip)

O sangue de uma poeta
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