Doe-se
Se você precisa de uma nova resolução para 2013, aqui vai ela
Eram músicos, médicos, atletas. Eram americanos, franceses, russos. Eram negros, hispânicos, loiros. Eram senhoras, jovens, rapazes – alguns deles, lindos de morrer. Todos ali, na rua 15, no Brooklyn, para ajudar voluntariamente um grupo imenso de pessoas que já não tinham muito mais o que perder: idosos e idosas, velhinhos fofinhos, remanejados de um asilo e de uma clínica psiquiátrica durante o furacão Sandy. Eles foram alojados em um imenso ginásio poliesportivo, sem privacidade, sem família, mas com um recurso de se admirar. São prioridades que se veem em países de primeiro mundo e que devem ser aprendidas urgentemente nos demais. Vi isso durante o 11 de Setembro, durante o furacão Katrina e, agora, no Sandy.
O complexo esportivo, que pertence ao governo, foi imediatamente invadido pela Cruz Vermelha e pelo DMAT (Disaster Medical Assistance Team), um grupo de médicos e paramédicos especializados em dar assistência emergencial em desastres como esse. Eles colocaram 800 camas no centro da quadra esportiva. Em volta, grades dividiam a área em banheiros químicos, cafeteria, área de entretenimento (onde voluntários tocam música, ou estimulam atividades como tricô), “escritórios”, área psiquiátrica (caso algum deles precise dar um tempo) e área de doações. Ali, livros e mais livros, roupas de todos os tamanhos e origens. Todas divididas em pilhas, por número e sexo. Os idosos vão lá, em passos miúdos, e pedem luvas, meias, sutiãs. Voluntários garimpam as pilhas de doações para arrumar a melhor calça ou o melhor casaco.
Juntos no ginásio
As demais salas do clube foram transformadas em centro de descanso e alimentação para voluntários e uma delas é usada para aqueles que dormem ali. Para ser voluntário basta chegar, mostrar seu documento, dizer qual idioma fala, além do inglês, e passar por um treinamento de dez minutos. Fotografar é proibido. De lá, a equipe aloja os voluntários onde há necessidade: desde enviar recados de um lado para outro e limpar os banheiros até preparar a cerimônia de shabat, o descanso judaico. Não há melhor recompensa do que poder ajudar essas pessoas. Elas nos retribuem com sorrisos (alguns, com poucos dentes) e nos lembram que nada é mais importante do que casa, família e saúde. Nada.
Neste ano novo, por favor, inclua na sua agenda alguma ajuda voluntária. Ninguém é tão ocupado quanto pensa. Doe dinheiro, doe roupas, doe-se. Feliz 2013.
Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, aqui no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com