Do limão, uma limonada
Nos EUA, muitas crianças vendem suco nas ruas para ajudar uma causa
Nos EUA, muitas crianças vendem suco nas ruas para ajudar uma causa, seja para reformar uma sala de aula ou levantar recursos para uma cidade devastada por um furacão
Esta semana minha filha de 4 anos comprou a primeira limonada da vida dela: deu US$ 0,50 nas mãos de duas crianças de uns 6 ou 7 anos, que montaram uma barraquinha na calçada da rua, na frente da casa onde moram, no Brooklyn. Além de fofo demais e de a limonada ser uma delícia, a pequena iniciativa é um grande passo para o crescimento delas como sociedade, como cidadãs e como pessoas socialmente responsáveis. Muitas vezes, as crianças vendem limonadas para ajudar uma causa, seja reformar uma sala de aula, auxiliar na pesquisa da cura de uma doença ou na recuperação de uma cidade após um desastre natural. Não importa se no final do dia elas só arrecadaram US$ 40,
o importante é que elas fizeram.
Morando nos EUA, aprendi que as pessoas “partem para a limonada” o tempo todo, sem ficar esperando o Obama, o governador ou o prefeito. Elas cuidam dos canteiros das ruas, pintam escolas públicas (sim, os pais), fazem caminhadas para arrecadar dinheiro para grandes causas. Não adianta falar que o partido tal é um absurdo, se você estaciona o seu carro na calçada, se avisa no Facebook onde está a blitz para fisgar potenciais bêbados assassinos ou se passa por cima da decisão do professor do seu filho, que acaba de ser suspenso por mau comportamento.
Do micro pro macro
Toda mudança é do micro para o macro. Uma das melhores start-ups criadas nos últimos anos, cuja sede fica em San Francisco, chama-se Kiva: através dela, podemos emprestar pequenas quantias via microcrédito para empreendedores no mundo todo. Qualquer um com US$ 25 pode ajudar. E por que não emprestar US$ 25 para um empreendedor no interior da Bahia? Você vai esperar a Dilma colocar a mão do bolso ou você vai agir primeiro?
Muitos esperam que as mudanças venham de cima: olha o time que temos em Brasília, olha quanto se gasta mantendo mordomias de diplomatas no exterior. Mas, se continuarmos com a postura do “Não é comigo, eu já pago meus impostos”, não vendermos a nossa limonada para salvar uma escola, não teremos moral alguma para cobrar nada do primeiro escalão – que, na verdade, é reflexo do país que governa. Ou, pelo menos, da maior parte de seus habitantes. Triste, não?
*Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 17 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, e do blog Só em Nova York, aqui no site da Tpm, e também do site www.taniamenai.com