Ditadura do SMS
Criou-se uma demanda excessiva por receber respostas, réplicas e tréplicas imediatas
Neste contexto exagerado, criou-se uma demanda excessiva por receber respostas, réplicas e tréplicas imediatas
Para quem não gosta muito de telefone, o SMS era a ferramenta perfeita. Uma comunicação limpa, direta, rápida e de médio custo. Permitia manter o celular apenas no vibrador, sem toques histéricos que fazem palpitar o coração. Bastava checar o aparelho de tempos em tempos, responder sem emitir som, sem gastar tanta energia.
Pouca gente continuou usando a caixa postal depois do SMS. Se alguém te ligasse e não conseguisse falar, mandaria uma mensagem, acessada sem vozes computadorizadas, senhas e astericos. Prático e eficiente.
Até o e-mail perdeu mercado para o SMS. O que pode ser revolvido via celular é mais ágil. Um convite coletivo para uma festa fica registrado no celular (objeto que não pode faltar à festa) com o endereço e o horário, gerando maior comodidade.
Um mundo mais evoluído, sem dúvida. Até virar uma compulsão.
O dedão se tornou uma estrela, cujos ligamentos são alvos de tendinite, tamanha repetição de movimentos. Há uma década, o dedo de canto só conseguia dizer duas coisas – apontado para cima falava OK, para baixo dizia caído –; hoje, virou o mais prolixo de nossas mãos. Tecla sem parar. Digita pelos cotovelos. Sem ele não temos amigos, familiares, namorados, maridos e filhos.
Somente no ano passado foram trocados 8 trilhões de SMSs no planeta. O número impressiona, mas nele não estão contabilizadas as mensagens enviadas e recebidas por outros programas, como WhatsApp, IMessage ou BlackBerry Messenger. Recentemente o WhatsApp revelou ter batido um novo recorde: 10 bilhões de mensagens enviadas e recebidas em apenas um dia.
Resposta imediata
Neste contexto exagerado, criou-se uma demanda excessiva por receber respostas, réplicas e tréplicas imediatas. Sempre com pontos de exclamação animadinhos e em várias mensagens, pro celular apitar bastante e emitir a informação de que seu dono está acompanhado, é um sujeito solicitado.
Não se dorme mais sem o celular ao lado – quem estiver no mundo dos sonhos precisa avisar que lá está. Quem dirige sem mandar SMS não corre o risco de se acidentar, mas de decepcionar amigos e familiares, que não compreendem o fato de uma mensagem não ter sido respondida assim que pousou no aparelho.
A etiqueta do e-mail aceita que a resposta venha em 24 horas. Mas a do SMS, não. Três horas são o limite. Depois disso, nego enlouquece. Imagina mil razões para estar sendo rejeitado, encontra uma e se apega – nunca pensa que você pode estar brincando com seu filho ou trabalhando concentrado. Não ficar ligado 24 horas no celular virou ofensa.
Se eu fosse candidata a vereadora, esta seria a minha plataforma: pelo detox telefônico, vote Antonia Pellegrino.
Antonia Pellegrino, 32 anos, é roteirista e escritora. É dela o roteiro da série Oscar Freire 279 e ganhou, recentemente, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro pelo roteiro do filme Bruna Surfistinha. Seu e-mail: a.pellegrino@terra.com.br