Direto de Camboriú
Surf feminino compete no Circuito Petrobras, em Santa Catarina
Se os meus dedos já congelavam em poucos minutos de pé na areia, fiquei imaginando o frio que as surfistas sentiam ao se jogarem naquele mar às nove da manhã desse sábado. Dia nublado em Balneário Camboriú (SC), os 20ºC cravados pelo relógio no calçadão da orla pareciam ser 15ºC com o constante vento – essencial, no entanto, para balançar o mar e fazer com que as ondas chegassem a um metro de altura. Frio à parte, as 32 surfistas profissionais (entre as 88 participantes) que ali estavam, tinham mais com o que se preocupar, afinal, dava início a segunda etapa do Circuito Petrobras de Surf Feminino 2010, também conhecido como Troféu Deborah Farah.
Em sua nona edição, era a primeira vez que o campeonato acontecia em Santa Catarina, meses depois de a primeira etapa ser realizada no Guarujá, no litoral paulista. A terceira e última, marcada para acontecer nos dias 30 e 31 de outubro em Búzios (RJ), fecha o circuito e classifica as seis primeiras colocadas para o Brasil Surf Pro, o Circuito Brasileiro de Surf.
Além das profissionais como Diana Cristina (PB), Suelen Naraísa (SP), Juliana Quint (SC), Cláudia Gonçalves (SP), Taís Almeida (RJ) e Jaqueline Silva (SC) , e das veteranas Tita Tavares (CE), Andrea Lopes (RJ) e Brigitte Mayer (RJ), o Circuito Petrobras se caracteriza pelas categorias de base (infantil e mirim), por onde se revelam talentos e também incentiva a participação de meninas a partir de 8, 9 anos de idade. “Essa nova geração vem muito bem e fico feliz pela quantidade de meninas, ainda mais por quatro atletas serem da minha terra”, solta a cearemse Tita Tavares, que chegou à semi-final do campeonato. Para a paulistana Claudia Gonçalves, apontar uma atleta favorita é complicado, já que todos os anos do campeonato há bastante revelações do esporte. “Esse circuito é a base do surf feminino e às vezes você compete com uma surfista que nunca viu e ela pode surpreender”, comenta Claudinha. E emenda: “O mar de Camboriú tem uma onda cheia, mas favorece um surf bonito”.
Embora possam aparecer surpresas pelas ondas, quem levou o título de campeã nessa segunda etapa foi a paraibana Diana Cristina, que também ganhou o primeiro lugar na primeira etapa do Circuito e lidera o ranking. “É a primeira vez que surfo aqui, e estou bastante confiante”, apostou antes de cair no mar para disputar a final, no domingo, com Taís de Almeida, Jaqueline Silva e Juliana Quinut. “No começo fiquei bastante preocupada em estar disputando com a Jaqueline, que é muito experiente, mas logo no começo fiz duas ondas boas, deixei ela precisando de combinação de notas e deu certo”, declarou Tininha como é conhecida.
Diana já foi três vezes campeã do Circuito Petrobras de surf feminino e, enquanto corre as etapas brasileiras, pensa no dia em que poderá representar o Brasil nos mundiais, como o WQS e o WCT. Natural de Baía da Traição (PB), há quatro anos ela foi para Rio de Janeiro para treinar. Atualmente sem patrocínio, Tininha por dois anos foi incentivada pela Roxy “mas do nada, me colocaram para fora sem muita explicação”, conta. “Mostrei para eles todo o talento que eu tinha, fiz várias etapas do Circuito Petrobrás, mas agora estou correndo atrás de novo”. A paraibana, tranquila e centrada, sabe que tudo vai dar certo, afinal, “meu maior prazer é poder dar uma boa vida para minha família e fazer um esporte que gosto. Estou muito feliz por isso”, finaliza.
Uma homenagem
Há nove anos acontecia o primeiro Circuito Petrobras de Surf Feminino nas praias do Rio de Janeiro – só a partir da segunda edição ele começou a ser realizado em três cidades diferentes – e, muito mais do que um marco para as mulheres no esporte, o campeonato surgiu em homenagem à surfista carioca Deborah Farah, morta por afogamento em Maresias, litoral norte paulista, em outubro de 2001. Na época com 27 anos, ela era considerada a primeira campeã brasileira de surf e uma das poucas que se arriscava no tow-in, no Havaí. “A Deborah era uma pessoa muito batalhadora pela imagem do surf feminino e quando ela morreu tive uma vontade grande de homenageá-la”, conta Laila Werneck, 45 anos, idealizadora do Circuito e mãezona das competidoras. “Sempre viajei o mundo surfando e acompanhando meu marido (Rick Werneck) nos campeonatos. Achava uma injustiça as meninas não terem um campeonato só delas e caírem na pior hora do mar, depois dos homens, com um mar gigantesco, frio, chuva”, lembra.
A vontade de homenagear a amiga e criar um circuito nacional exclusivamente feminino, casou com a abertura de um edital da Petrobras para esportes náuticos e até hoje patrocina o evento, incentivando a prática do surf. “Temos que homenageá-la e relembrá-la. As meninas que estão aqui mal sabem quem foi a Deborah, e a história da primeira campeã brasileira não pode ser esquecida”, solta a veterana Brigitte Mayer, também criadora da revista virtual de surf feminino Elhas.