Dez mais

por Tania Menai em

Passar os olhos na lista das 10 matérias do New York Times mais enviadas por e-mail já virou vício. Nesta semana, por exemplo, figurou por lá o relato do jornalista que estava no avião envolvido no acidente da Gol. A lista, que costuma ser séria, também já teve curiosidades como um artigo que anunciava o fim da moda das sobrancelhas-fiapo (ponto para nós, mulheres-malu-mader). Há dois dias na pole-position está uma bela matéria dizendo que você é tão velho quanto você acha - e que, finalmente, os cientistas passaram a concordar.

A matéria do segundo lugar de hoje também é quente. Debate o significado de andar de mãos dadas. A coisa é tão rara nos Estados Unidos, o país do "não-me-toque", que vira até matéria mais lida do New York Times. Que desespero. A matéria menciona a época dos Beatles (I want to hold your hand) em comparação às letras das canções de hoje ("I'm into havin' sex, I ain't into makin' love"). E ainda defende a tese do Beto, um amigo jornalista, casado, e que mora aqui:"dar a mão é mais íntimo que transar. Transar a gente transa com qualquer uma, dar a mão, não."

Um sociólogo entrevistado pelo jornal disse que andar de mãos dadas sobreviveu à revolução sexual. Resumindo o texto: dar as mãos significa ser um casal, além de transmitir proteção, conforto, afeição. Para os adolescentes entrevistados, é mais do que beijar na boca. Além de ser uma forma de anunciar ao resto da humanidade que"estou fora do mercado".

Em países árabes, homens andam de mãos dadas com seus amigos homens, e não com suas mulheres. E nas ruas de Manhattan é mais fácil ver casais de gays do que casais hetero de mão dadas - sem exageros. Homossexuais passaram a assumir suas relações, e expressar esta liberdade entrelaçando os dedos publicamente virou um marco.

Enquanto isso, muitos heteros americanos continuam andando lado a lado, com as mãos no bolso. É sempre difícil saber se são irmãos, amigos, ou, quem sabe, casados. Tanto, que um vizinho chegou a comentar comigo e um namorado no elevador: "nossa, vocês sempre estão de mãos dadas!!" Até aquele dia, não tinha reparado que aquilo era incomum. Tudo bem que viver no exterior exige algumas adaptações, mas, deste hábito, literalmente, não abro mão.
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